Quando o cineasta Halder Gomes era
pequeno, crescendo no interior do Ceará durante a década de 70, era
fascinado pelos filmes chineses de artes marciais. Mesmo sem ao menos
entender o que estava escrito nos cartazes dessas produções. ‘Minha
imaginação era tudo’, explica o diretor, que, algumas décadas depois, é
responsável por um dos mais recentes fenômenos do cinema nacional, a
comédia 'Cine Holliúdy'. ‘Descobrimos e provamos que, com estratégia de
mercado, o cinema nacional pode brigar com Hollywood’, acredita.
Mas, mesmo sendo considerado um fenômeno, é possível que você ainda não tenha assistido a ‘Cine Holliúdy’, que entrou em cartaz em 10 cinemas somente do Ceará no último fim de semana. Todas as sessões tiveram ingressos esgotados; no total, foram vendidos 23 mil deles entre sexta-feira e domingo. O longa teve média de 2298 espectadores por sala no Estado, número maior do que outros sucessos de bilheterias que passaram por nossas salas, como ‘Titanic’ e ‘Tropa de Elite’. Em cartaz em somente um Estado do circuito nacional, ‘Cine Holliúdy’ fez a 10ª maior bilheteria do fim de semana.
Falado na ‘língua cearense’, ‘Cine Holliúdy’ faz piada logo de cara ao ser legendado. Sua história remete diretamente à infância do diretor ao acompanhar as exibições de cinema mambembe que Francisgleydisson (Edmilson Filho) organiza no interior do Ceará. Mas a chegada da TV pode ameaçar essas sessões, já que as pessoas começam a se interessar mais pelas novelas exibidas em praça pública do que nos filmes de artes marciais que Francisgleydisson exibe em sua tenda. ‘É o retrato de algo triste, mas bem humorada porque é o meu olhar de criança’, explica o diretor. ‘Os cineminhas estavam acabando, não tinham como competir com aquela novidade; isso foi muito marcante pra mim.’
Assista ao trailer:
A história de ‘Cine Holliúdy’ começou em 2004, com o curta ‘Cine Holliúdy – O Astista Contra o Caba do Mal’. ‘Quando escrevi o curta, sabia q era o recorte de algo maior que queria contar’, explica Gomes. O filme venceu o Edital no Ministério da Cultura de Curtas-Metragens daquele ano. Ele foi visto em 80 festivais em 20 países, onde faturou 42 prêmios. Além disso, Gomes disponibilizou o filme de menos de 15 minutos em vídeo locadoras no Ceará. ‘Bateu ‘Matrix’ nas locadoras, o maior sucesso da época’, se orgulha o diretor. E com razão. O sucesso de Francisgleydisson começou ali: ‘Ele teve desdobramentos maiores, foi assunto acadêmico, empresários usaram em palestras; todos perguntavam se não ia ter longa’.
Mas foi quando os jornalistas Ana Maria Bahiana e José Emílio Rondeau assistiram ao curta em 2005, durante o Festival do Rio, e falaram a Gomes que aquilo deveria render um longa que o diretor começou a trabalhar no roteiro. Inscreveu em editais do Ministério da Cultura cinco vezes; foi só na quinta que conseguiu recursos para levar o projeto adiante, em 2009. Seis semanas de filmagem depois e muito trabalho na pós-produção, nasceu ‘Cine Holliúdy’. Abaixo, Gomes é visto nas filmagens do longa:
Para Gomes, seu filme representa uma ‘revolução no cinema nacional’. ‘Tecnicamente, o resultado é refinado pra um filme de R$ 1 milhão’, explica. ‘O sucesso nas bilheterias também tem a ver com a qualidade.’ Claro que a curiosidade do público só cresce com tanto sucesso. Fernando Meirelles e Luciano Huck já falaram bem de ‘Cine Holliúdy’ nas redes sociais, o que só ajuda na divulgação deste filme, que já fez tanto barulho sem ter apoio de grandes empresas de mídia.
A distribuidora, Downtown Filmes, está acostumada a lidar com produções nacionais e, aqui, apostou numa distribuição diferente. E funcionou. Bruno Wainer, diretor da Downtown, acreditou no potencial desde o início. 'Foi tudo planejado’, garante Gomes. Mas ele admite que ‘tudo tomou uma dimensão bem maior que o esperado’. 'Produções de Hollywood estão fugindo do meu filme, os filmes estão com medo de entrar na programação nesta sexta', garante o diretor. ‘Todos estão querendo meu filme.’ Gomes compara: ‘Os nordestinos estão para o Brasil como os latinos estão pro mercado dos EUA’. O que ‘Cine Holliúdy’ faz é enxergar a demanda da região brasileira de se ver na telona.
Os protagonistas de ‘Cine Holliúdy’ são desconhecidos do grande público. Gomes conta que o protagonista, Edmilson Filho, só havia atuado no curta de 2004. É um talento inédito que o diretor conheceu na academia onde pratica Taekwondo. Assim como em seu filme e nos longas chineses que tanto o fascinavam na infância, Gomes pratica artes marciais e acredita: ‘a luta deu base para a minha formação profissional de determinação, por isso que eu continuo fazendo cinema no Brasil’. Gomes dirigiu ‘As Mães de Chico Xavier’ em 2011 e, em 2008, assinou o terror de produção norte-americana ‘Cadáveres 2’, que no Brasil foi lançado diretamente em DVD. Também produziu ‘Área Q – O Filme’, longa de ficção sobre extraterrestres rodado no Ceará. ‘Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito’ (2008), também produzido por Gomes, foi outro sucesso de bilheterias.
Mas é somente agora o diretor assina uma obra realmente autoral. ‘É uma comédia porque é a natureza do filme, mas ele é puramente autoral’, defende. ‘Ele fala bem com o público, desmistificando que cinema autoral não faz bilheteria’, acredita Gomes, que viu seu filme sendo rejeitado em vários festivais de cinema. ‘As pessoas buscam ousadia na estética diferenciada, mas não quero revolucionar esteticamente.’
No próximo dia 30, ‘Cine Holliúdy’ estreia nas regiões Norte e Nordeste. Ainda não há data de estreia prevista para as regiões Sul e Sudeste, mas pode apostar que estamos bem ansiosos para isso.
Mas, mesmo sendo considerado um fenômeno, é possível que você ainda não tenha assistido a ‘Cine Holliúdy’, que entrou em cartaz em 10 cinemas somente do Ceará no último fim de semana. Todas as sessões tiveram ingressos esgotados; no total, foram vendidos 23 mil deles entre sexta-feira e domingo. O longa teve média de 2298 espectadores por sala no Estado, número maior do que outros sucessos de bilheterias que passaram por nossas salas, como ‘Titanic’ e ‘Tropa de Elite’. Em cartaz em somente um Estado do circuito nacional, ‘Cine Holliúdy’ fez a 10ª maior bilheteria do fim de semana.
Falado na ‘língua cearense’, ‘Cine Holliúdy’ faz piada logo de cara ao ser legendado. Sua história remete diretamente à infância do diretor ao acompanhar as exibições de cinema mambembe que Francisgleydisson (Edmilson Filho) organiza no interior do Ceará. Mas a chegada da TV pode ameaçar essas sessões, já que as pessoas começam a se interessar mais pelas novelas exibidas em praça pública do que nos filmes de artes marciais que Francisgleydisson exibe em sua tenda. ‘É o retrato de algo triste, mas bem humorada porque é o meu olhar de criança’, explica o diretor. ‘Os cineminhas estavam acabando, não tinham como competir com aquela novidade; isso foi muito marcante pra mim.’
Assista ao trailer:
A história de ‘Cine Holliúdy’ começou em 2004, com o curta ‘Cine Holliúdy – O Astista Contra o Caba do Mal’. ‘Quando escrevi o curta, sabia q era o recorte de algo maior que queria contar’, explica Gomes. O filme venceu o Edital no Ministério da Cultura de Curtas-Metragens daquele ano. Ele foi visto em 80 festivais em 20 países, onde faturou 42 prêmios. Além disso, Gomes disponibilizou o filme de menos de 15 minutos em vídeo locadoras no Ceará. ‘Bateu ‘Matrix’ nas locadoras, o maior sucesso da época’, se orgulha o diretor. E com razão. O sucesso de Francisgleydisson começou ali: ‘Ele teve desdobramentos maiores, foi assunto acadêmico, empresários usaram em palestras; todos perguntavam se não ia ter longa’.
Mas foi quando os jornalistas Ana Maria Bahiana e José Emílio Rondeau assistiram ao curta em 2005, durante o Festival do Rio, e falaram a Gomes que aquilo deveria render um longa que o diretor começou a trabalhar no roteiro. Inscreveu em editais do Ministério da Cultura cinco vezes; foi só na quinta que conseguiu recursos para levar o projeto adiante, em 2009. Seis semanas de filmagem depois e muito trabalho na pós-produção, nasceu ‘Cine Holliúdy’. Abaixo, Gomes é visto nas filmagens do longa:
Para Gomes, seu filme representa uma ‘revolução no cinema nacional’. ‘Tecnicamente, o resultado é refinado pra um filme de R$ 1 milhão’, explica. ‘O sucesso nas bilheterias também tem a ver com a qualidade.’ Claro que a curiosidade do público só cresce com tanto sucesso. Fernando Meirelles e Luciano Huck já falaram bem de ‘Cine Holliúdy’ nas redes sociais, o que só ajuda na divulgação deste filme, que já fez tanto barulho sem ter apoio de grandes empresas de mídia.
A distribuidora, Downtown Filmes, está acostumada a lidar com produções nacionais e, aqui, apostou numa distribuição diferente. E funcionou. Bruno Wainer, diretor da Downtown, acreditou no potencial desde o início. 'Foi tudo planejado’, garante Gomes. Mas ele admite que ‘tudo tomou uma dimensão bem maior que o esperado’. 'Produções de Hollywood estão fugindo do meu filme, os filmes estão com medo de entrar na programação nesta sexta', garante o diretor. ‘Todos estão querendo meu filme.’ Gomes compara: ‘Os nordestinos estão para o Brasil como os latinos estão pro mercado dos EUA’. O que ‘Cine Holliúdy’ faz é enxergar a demanda da região brasileira de se ver na telona.
Os protagonistas de ‘Cine Holliúdy’ são desconhecidos do grande público. Gomes conta que o protagonista, Edmilson Filho, só havia atuado no curta de 2004. É um talento inédito que o diretor conheceu na academia onde pratica Taekwondo. Assim como em seu filme e nos longas chineses que tanto o fascinavam na infância, Gomes pratica artes marciais e acredita: ‘a luta deu base para a minha formação profissional de determinação, por isso que eu continuo fazendo cinema no Brasil’. Gomes dirigiu ‘As Mães de Chico Xavier’ em 2011 e, em 2008, assinou o terror de produção norte-americana ‘Cadáveres 2’, que no Brasil foi lançado diretamente em DVD. Também produziu ‘Área Q – O Filme’, longa de ficção sobre extraterrestres rodado no Ceará. ‘Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito’ (2008), também produzido por Gomes, foi outro sucesso de bilheterias.
Mas é somente agora o diretor assina uma obra realmente autoral. ‘É uma comédia porque é a natureza do filme, mas ele é puramente autoral’, defende. ‘Ele fala bem com o público, desmistificando que cinema autoral não faz bilheteria’, acredita Gomes, que viu seu filme sendo rejeitado em vários festivais de cinema. ‘As pessoas buscam ousadia na estética diferenciada, mas não quero revolucionar esteticamente.’
No próximo dia 30, ‘Cine Holliúdy’ estreia nas regiões Norte e Nordeste. Ainda não há data de estreia prevista para as regiões Sul e Sudeste, mas pode apostar que estamos bem ansiosos para isso.
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