Motivações
do delator
Trechos
do depoimento do vereador Hélder França (Guer) prestados ao promotor de
Justiça Lucas Azevedo e que ainda estão sob segredo são re- veladores de um esquema profissional
de corrupção instalado na Câmara do Crato para beneficiar um grupo de
parlamentares envolvidos na prática de diversos crimes. Só agora, começam a
ser conhecidos mais detalhes da delação premiada de Guer. Ao depor, ele
justificou suas atitudes inconve- nientes
aos interesses públicos como uma missão em nome de sua lealdade ao
ex-prefeito Samuel Araripe. Daí, pode-se concluir que seu envolvimento nesse
esquema teria ocorrido para garantir o controle da Câmara do Crato pela
oposição ao prefeito Ronaldo Matos.
Detalhes
do esquema
ao
entregar o modus operandi,
Guer delatou seus “companheiros” ao Minis- tério
Público. Relatou todo o sistema de atuação do grupo de vereadores, que se
autointitulou G10, na Câmara do Crato. Um dos vereadores que se recusou a
entrar no negócio, confessou à coluna: "Fui convidado a participar do
G10, mas ao identificar que objetivo deles tinha como base a extorsão e a
pressão por métodos não republicanos ao prefeito Ronaldo Matos para ob- ter dividendos a qualquer custo, pulei
fora". Isso não era política”. Guer teria sido o último a se integrar
oficialmente ao grupo, que seria formado ainda, pelos vereadores: Pedro
Alagoano, Nando Bezerra, Luciano Saraiva, Celso dos Frangos, Dárcio Luiz,
Marquinhos do Povão, Nagela, Expedito Anselmo e galego da Batateira.
DINHEIRO
ARRECADADO
A
atuação do G10 já teria rendido o montante de R$ 1 milhão. Dinheiro obtido
com “ pedágio” pago por empresários na aprovação da doação de terrenos. A
Prefeitura do Crato doava o terreno sem cobrar nada, mas o G10 avisava que a
matéria só seria chancelada em troca de vantagens. A negociação era direta
entre o G10 e os empresários.
Conflito
interno no G10
Guer
teria procurado o grupo de vereadores para negociar a aprovação das contas de
Samuel Araripe. Recebeu um proposta e levou a Samuel. O ex-prefeito não
aceitou o valor negociado e rejeitou os métodos do G10. Instalou-se a crise
dentro do grupo. Somente Guer, mesmo sem vanta- gens, votou pela aprovação. O
restante se dividiu em dois sub-grupos: alto e baixo clero. Os caciques do G10
eram liderados por dois vereadores que teriam gravações em seu poder, onde os
demais apareceriam re- cebendo
dinheiro e deixando claro, em cada recebimento, dos recursos embolsados e a
origem deles. Esse material foi a garantia para manter a fidelidade de todos no
G10, exceção a Guer, que não aceitou ficar contra Samuel.
Regras
impostas pelo medo
O
clube G10 tinha regras claras, quem as desobedecia era obrigado a de- volver o que recebera ao longo do
tempo e ainda perdia a proteção. O grupo foi formado no final de junho de
2013 e sua atuação é de inteiro conhecimento da Justiça do Ceará. Ao se
recusarem a aprovar as contas de Samuel na base da amizade, Guer se rebelou
contra os velhos aliados de práticas condenáveis.
Pensando
no futuro
Certo
de que a Justiça do Ceará irá afastar os vereadores envolvidos na denúncia,
Samuel Araripe tem feito incursões ao Crato, pois é candida- to a deputado estadual e quer manter
sua influência política na cida- de.
Nesta terça-feira, conversará com os suplentes de vereadores, que assumirão a
Câmara, caso se confirme o afastamento dos titulares. Em seguida, Samuel
articulará o passo seguinte: o afastamento do prefei- to Ronaldo Matos, mesmo que ele, até
agora, esteja isento de qualquer acusação ou participação nesse grupo G10.
Com Ronaldo fora do cargo, assumiria o vice-prefeito Raimundo Filho. Samuel já
conseguiu cooptar seis suplentes dos dez que podem assumir o mandato na Câmara
do Crato. Raimundo Filho, que estava pré-candidato a deputado estadual,
retirou a candidatura e vai apoiar Samuel.
Promotor
já sabe de tudo
Com
base no depoimento dado por Guer, o promotor Lucas Azevedo, solicitou um
mandato de busca e apreensão com o intuito de recolher as gravações
existentes em poder do G10, que são usadas para intimi- dações e garantia de fidelidade.
Novas diligências vão ser feitas. O foco da crise: o confronto do G10 com
Samuel implodiu a Câmara do Crato. O MP cearense solicitou a quebra de sigilo
bancário e telefônico de todos os implicados. Guer, após o ter seu depoimento
vazado, recolheu-se e teme por sua vida.
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