O peso do vice na eleição para o governo
Além da importância política na composição de uma chapa, a figura do vice tem ganhado a cada pleito, papel de destaque e estratégico para se ganhar uma eleição. No Ceará, a disputa ao Governo levou os principais postulantes a escolherem a dedo os seus candidatos a vice-governador. Especialistas na análise política ressaltam que a cada eleição, a figura do vice deixa de ser meramente ilustrativa e passa a significar a certeza e a segurança de continuidade de uma gestão.
No Ceará, Camilo Santana (PT), Eunício Oliveira (PMDB), Eliane Novais (PSB) e Ailton Lopes (Psol), personagens da disputa ao Governo, afirmam, constantemente, em seus eventos de campanha, que os seus vices colaborarão de maneira integral na administração do Estado.
Camilo, que tem como vice em sua chapa, a ex-secretária de Educação do Estado, Izolda Cela (Pros), tem assegurado que a ex-gestora terá, em seu governo, a responsabilidade de “desenvolver ainda mais a educação no Estado, como fez no governo de Cid Gomes”. Na campanha eleitoral, além de acompanhar Camilo Santana em quase todas as agendas, a candidata a vice também tem feito campanha isoladamente em vários municípios.
Já o vice de Eunício, o ex-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PR), iria lançar-se candidato ao governo, mas abriu mão para ser vice do peemedebista. A formação da aliança teve, como objetivo maior, unir as forças opositoras contra a chapa cidista, para “quebrar o projeto hegemônico pouco democrático do PT”, como assegurou o candidato da coligação ao Senado Federal, Tasso Jereissati (PSDB). Roberto Pessoa também tem sido atuante na campanha de Eunício Oliveira. O cabeça da chapa vem afirmando ainda que, caso eleito, a parceria com Pessoa na administração estadual, também será de fundamental importância para gerir bem o Estado.
Leonardo Bayma, candidato à vaga de vice-governador na chapa do PSB, de Eliane Novais, foi escolhido às pressas, após Nicolle Barbosa que era presidente da sigla renunciar ao cargo por se sentir preterida pelos correligionários. O socialista que é secretário de Relações Institucionais do PSB cearense e ex-conselheiro nacional de Juventude no Governo Lula, também é participante ativo nos encontros políticos de Eliane. A candidata reforça, em seus discursos, que Bayma contribuirá em seu governo, principalmente, no desenvolvimento de políticas para a juventude, geração de emprego, renda e desenvolvimento do Estado.
Ailton Lopes ressalta que a sua chapa se diferencia das demais, em razão de ter um trabalho para representar a população. Benedito de Oliveira (PCB) é operário da Construção Civil. “Todos dizem ao se candidatar que vão governar para todos, mas acabam governando para os ricos e para quem financiou suas campanhas. Até hoje, o Ceará nunca foi governado pelo povo, com o povo e para o povo”, justificou certa vez Ailton ao jornal O Estado sobre a escolha do seu vice.
SEGURANÇA
O cientista político e coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade de Fortaleza (Unifor), Francisco Moreira, afirma que, na perspectiva da administração pública, o vice tem papel “importantíssimo”, sobretudo para garantir ao titular “a continuidade daquela administração pública”.
Convencionalmente, a função do vice-governador de Estado é substituir o governador em caso de impedimento ou ausência por viagem ao exterior, por exemplo, ou suceder o titular em caso de renúncia, morte ou destituição do cargo. Mas as atribuições durante uma gestão, não param por aí. O vice costuma, também, ser um canal a mais de diálogo de um Governo para com a sociedade e com prefeitos e vereadores dos diferentes municípios e regiões.
MAIOR LEGITIMIDADE
O estudioso ressalta que, antigamente, o cargo do vice era concorrido, assim como o do titular. Até hoje, ainda permanece a discussão sobre a importância de o vice participar da eleição como um candidato que recebe votos majoritariamente, saindo da sombra do cabeça de chapa.
AMEAÇA
Francisco Moreira lembra que foram os militares que modificaram o processo, passando o vice a ser uma escolha do titular da vaga. “O João Goulart era vice de Jânio Quadros. Foi eleito separadamente. Então, o vice tinha uma legitimidade maior”, ressaltou. O professor ressalta que, na verdade, o vice, em todas as esferas, é uma figura de “ameaça” para alguns titulares, principalmente, quando de partidos diferentes.
“Agora, na história política do Brasil, mostra que a relação do vice com o titular é meio complicado. Agora mesmo, Gaudencio Lucena (PMDB), vice do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (Pros), rompeu com o titular por conta de circunstâncias eleitorais. Qual foi o tipo de conserto, de ajuste que foi feito no processo eleitoral que não deu certo”, questionou, avaliando que, a figura de um vice-representante que deveria servir de apoio durante uma gestão, acaba entrando em desacordo, “criando-se arestas”, por conta de interesses partidários.
Rochana Lyvian
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