16/12/2014 às 00h15 (Atualizado em 16/12/2014 às 01h23)
Militares buscarão Justiça contra acusações da Comissão da Verdade
Clube Militar quer que Forças Armadas defendam acusados de crimes na ditadura
Sócios do Clube Militar, entidade privada composta por 12 mil militares da ativa, da reserva e civis, já manifestaram o desejo de irem à Justiça contra a citação de seus nomes ou de parentes em lista produzida pela CNV (Comissão Nacional da Verdade) de 377 nomes de agentes do Estado e civisresponsabilizados — direta e indiretamente — por crimes durante a ditadura.
Segundo o presidente do Clube Militar, o general da reserva Gilberto Rodrigues Pimentel, de 74 anos, a lista contém o que chamou de injustiças contra heróis das Forças Armadas. Pimentel, que comentou o relatório divulgado na semana passada na sede do clube, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, evitou citar os sócios que se movimentam para ir à Justiça e saiu em defesa de integrantes das Forças Armadas falecidos, como Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar, e o brigadeiro Eduardo Gomes, patrono da FAB (Força Aérea Brasileira).
— Sai a lista e ali estão os nossos chefes, pessoas que nos ensinaram, da maior reputação. Vou dar um exemplo: lá está o brigadeiro Eduardo Gomes, que é patrono da Força Aérea, um dos maiores democratas do nosso País. Vemos o Castelo Branco, vemos heróis.
Para a CNV, ambos têm "responsabilidade político-institucional pela instituição e manutenção de estruturas e procedimentos destinados à prática de graves violações de direitos humanos".
Após a divulgação do relatório, a família do general Leo Guedes Etchegoyen, que morreu em 2003, condenou a citação do nome dele na lista da CNV. Por meio de nota, a viúva e os filhos do general dizem que a comissão lançou mão da "covardia como norma e a perversidade como técnica acusatória". A nota não fala em ação judicial, mas afirma que "seguiremos defendendo sua honrada memória e responsabilizando os levianos que a atacarem".
Ao R7, Pimentel criticou a composição da CNV — segundo ele, "todos os integrantes da comissão são do outro lado" — e o foco dos trabalhos — agentes do Estado, sem incluir membros de movimentos de esquerda que resistiram à ditadura. Para o general, as Forças Armadas deveriam sair em defesa de acusados pela comissão que não teriam envolvimento com violações dos direitos humanos durante o regime militar. Por outro lado, diferentemente do que sugere a CNV, as Forças Armadas não devem, segundo Pimentel, reconhecer a responsabilidade por esses crimes, porque isso seria admitir que a tortura fora institucionalizada durante o período.
— Eu acho que as Forças Armadas têm quase que o dever de, sem crise, tratar de defender essas pessoas. É um dever deles corrigir o que nós consideramos uma grande injustiça.
O general questiona as conclusões da CNV, cujo objetivo foi restabelecer a memória do período da ditadura ao apontar que 434 pessoas foram mortas e desaparecidas, alegando que seus integrantes não seriam "neutros", mas "ideologicamente do lado oposto".
— Como o relatório foi feito só por um lado, você vai ver gente que nunca foi chamada, que nunca foi ouvida. Gente que já morreu há muito tempo e companheiros nossos que nós convivemos muito tempo e sabemos que não estão envolvidos naquela luta. O nome deles apareceu ali indevidamente.
Pimentel diz que a comissão — instituída por lei em 2012 — reescreve a história "como eles querem". Em contrapartida, o Clube Militar divulgou anúncio no jornal O Globo, na última quinta-feira (11), em que lista 216 nomes de militares e civis mortos por movimentos de resistência da esquerda.
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