domingo, 4 de janeiro de 2015

04/01/2015 às 09h07min - Atualizada em 04/01/2015 às 09h09min
Redação - Crato(CE)
TAMANHO DA FONTE
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Nova Olinda
Reza do santo mantém tradição na região
Apesar da manutenção do hábito, sobretudo na zona rural, tem diminuído o número de tiradores de reza

Nova Olinda. A "reza do santo" é uma das mais festejadas no mês de dezembro no Cariri, em função das festividades religiosas do Natal, além da proximidade da entrada do novo ano. A renovação do coração de Jesus passou a ser fortalecida desde o Padre Cícero no Nordeste.

Mesmo com a prática ainda corrente no Cariri, principalmente em residências da zona rural, essa cultura tem diminuído por conta da pouca quantidade dos tiradores de reza.

A entronização do coração de Jesus é a confirmação do sacramento durante o casamento e a bênção do lar. O quadro da imagem do coração de Jesus é colocado solenemente em um lugar central da casa. Normalmente num lugar de destaque da sala, com outras imagens e o oratório. Muitos deles também contam com as fotos dos donos da casa, além dos santos de proteção.

O Padre Cícero chegou a trazer uma imagem do coração de Jesus da Europa. O quadro hoje se encontra no Museu Vivo, no Horto. Todos os anos, no casarão centenário, acontece a renovação. Atualmente, são poucos os novos rezadores, segundo Damião Felipe, conhecido por Ligeirinho, que há 20 anos segue a missão. Os meses de dezembro e maio são aqueles nos quais mais ele se desloca para renovações nas residências. Há dias em que chega a tirar mais de cinco rezas. Não recebe pagamento por isso.

A prática é tão importante para os rezadores que, em Juazeiro do Norte, há dois anos, houve uma formalização, por meio de certificados entregues a alguns tiradores de reza, pela Secretaria de Cultura e Romaria. O reconhecimento faz referência à renovação do Sagrado Coração de Jesus, costume deixado pelo sacerdote e os zeladores do apostolado da oração.

Foram cadastrados pela secretaria 58 rezadores na Cidade. No próximo mês de março, haverá um encontro. A meta é proporcionar a preservação dessa tradição religiosa, presente mais fortemente no sertão nordestino. Para a secretária de Cultura, Marli Bezerra, há alguns tiradores de reza mais velhos, como Dorinha do Horto, dentre outros.

Damião Felipe desde os 20 anos realiza renovações. Todos os meses, de todas as partes de Juazeiro, é requisitado. São, em média, 20 rezas a cada mês, com exceção dos mais concorridos. "Cada rezador tem a sua particularidade. Gosto no estilo antigo, com os benditos", diz ele.

Ligeirinho inicia a renovação com a invocação ao espírito santo, súplica do Coração de Jesus, ato de consagração, e depois a consagração da família, consideração final ao coração de Jesus e o bendito. "Não tiro terço e não leio a Bíblia", completa. Uma das poucas referências ao livro sagrado está na parábola de Zaqueu. Para ele, o Evangelho já é o dia a dia que a família vive. Para o rezador, a renovação representa um ritual de proteção à casa.

Uma das mais tradicionais casas da região, que se tornou o Memorial do Homem Kariri, a Fundação Casa Grande, todos os anos celebra a renovação do Coração de Jesus nos moldes tradicionais. O altar está posto e as flores são renovadas para receber as saudações. A casa começa alguns dias antes a ser preparada para a reza. Esse ritual segue nas moradas do sertão nordestino. É uma festa junto com a renovação do coração de Jesus.

Damião diz que a tradição não tem sido tão fortalecida como antes. As religiosas mais idosas, que tiravam a reza em vários locais de Juazeiro, hoje são em menor número.

Preservação

Para a secretária Marli Bezerra, é importante que o ritual seja preservado, com os cânticos que o próprio Padre Cícero ensinava às pessoas, sem que tenha de substituir por uma missa ou partes desse ritual com os evangelhos. Desde o ano passado que o próprio Município adotou uma renovação da administração, no último dia dos festejos alusivos ao nascimento do Padre Cícero, comemorado em março. Há a pretensão de se criar, neste ano, o Dia do Rezador no Município.

Marli Bezerra destaca a importância de se preservar essa tradição em meio à tecnologia e os novos costumes da sociedade atual. Ela diz que muitos valores relacionados à religiosidade, principalmente ao catolicismo sertanejo têm se distanciado no tempo e se perdido ao longo das gerações. "É um patrimônio imaterial que tem se diluído e precisamos preservar trazendo esses costumes".

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