Sobral registra sua menor taxa de mortalidade infantil
23.01.2015
Com 12,7 óbitos para mil nascidos vivos, em 2014, o índice teve uma redução de 80,9% em relação a 1991
Sobral Em 24 anos, o município reduziu a mortalidade infantil em 80,9%, registrando a menor taxa da sua história, de acordo com o relatório do Sistema de Informação dos Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde. Em 2014, foram 12,7 óbitos de menores de um ano para cada mil nascidos vivos, contra os 16,8 de 2013, gerando uma redução de 24,4% do índice ao relacionar 2013 a 2014. Se comparado a 1991, ano de início do atendimento básico de saúde em Sobral, com 66,8 óbitos a cada mil nascidos vivos, a queda é superior a 80%.
A taxa de óbitos entre crianças no município é menor que a registrada no Estado em geral. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no fim do ano passado, mostraram que, a cada mil nascidos no Ceará, cerca de 16,6 morriam.
Os motivos das mortes em menores de um ano são diversos, mas a maioria das mortes ocorre principalmente por falta de educação e acompanhamento de mães de primeira viagem, bebês prematuros em unidades hospitalares e em famílias em situação de extrema pobreza.
Projetos sociais
Esses fatores levaram o município a criar projetos especiais a fim de combater a mortalidade infantil, como o Trevo de Quatro Folhas, projeto que trabalha mães sociais; Flor do Mandacaru, que busca diminuir a taxa de gravidez na adolescência; e o projeto Coala, que assiste recém-nascidos prematuros que podem receber atendimento médico em suas casas.
Todas essas políticas públicas fazem parte do Plano de Redução da Mortalidade Materno-Infantil do Município. Até hoje, o Coala já acompanhou 68 bebês prematuros recém-nascidos.
De acordo com a coordenadora técnica do Trevo de Quatro Folhas, Júlia Santos, o projeto nasceu com a observação das mortes de prematuros por infecção hospitalar enquanto estes esperavam atingir o peso ideal. "A ideia do projeto Coala surgiu como resposta ao grande número de recém-nascidos prematuros que, durante o internamento para ganho de peso, morriam por infecção hospitalar". Com o Coala, a criança tem o peso monitorado e é submetida a constantes avaliações médicas em casa na busca por sinais de risco, até atingir o peso de 2.500 gramas.
Também foram revistos protocolos de pré-natal, aperfeiçoada a qualidade dos exames realizados e monitorados todos os óbitos, medidas fundamentais para a redução do índice de mortalidade infantil no município.
Vitória
A pequena Vitória, moradora do Residencial Nova Caiçara, carrega no seu nome uma história de superação. Nascida prematura, com seis meses, pesava apenas 566 gramas, sendo a menor recém-nascida prematura acompanhada pelo Projeto Coala da Prefeitura de Sobral em 2014. Hoje, com quatro meses, Vitória pesa 3.200 gramas e continua recebendo atenção especial.
Segundo o prefeito Veveu Arruda, o projeto Coala, iniciado em outubro de 2013, foi uma resposta à estagnação do índice de mortalidade infantil. "Tivemos inclusive um aumento, o que nos alertou para que diversas medidas fossem tomadas e mudadas. Reformulamos nossas ações e iniciamos novas, como o Projeto Coala".
Para ele, atingir essa baixa histórica, menor ainda do que a taxa estadual, é motivo de comemoração, principalmente porque hoje há como acompanhar quase 100% do município, seja sede ou distrito, com a cobertura da atenção básica.
"Em 1991, ano que marcamos para medir a mortalidade infantil, Sobral tinha 127 mil habitantes e não tinha como fazer esse tipo de acompanhamento. Os dados referentes a esse ano são principalmente enviados por hospitais, numa época onde as parteiras eram mais populares. Acreditamos que esse número de mortes em 91 seja muito maior", enumera Veveu.
Gravidez
A secretária de saúde de Sobral, Mônica Lima, explica, ainda, que as mães são acompanhadas desde a gravidez, a fim de que sejam identificadas e acompanhadas as gestações de risco desde o início, por meio da outra iniciativa voltada para a redução da mortalidade materna e infantil, que é Estratégia Trevo de Quatro Folhas, criada em 2001. O programa oferece assistência social e alimentar para grávidas e crianças de até dois anos de idade, em situação de vulnerabilidade social. O projeto de Sobral serviu de modelo para o Programa Rede Cegonha do Ministério da Saúde.
Ela conta que a integração de diversas secretarias como parceiras tem ajudado a mudar a realidade de muitas dessas mães, chegando, inclusive, a largar o vício em drogas para oferecer o melhor para os filhos. "Tivemos, no Trevo, um exemplo de como o acompanhamento adequado, unido à experiência que é ser mãe, pode mudar a vida de uma pessoa. Em 2014, a madrinha sobralense do aleitamento materno foi Raquel Fonseca, que era viciada em crack na época em que engravidou, e com o acompanhamento adequado, unida à vontade de ser uma boa mãe, mudou de vida", explicou a secretária de saúde.
Ranking
O Ceará ocupa, hoje, o 16º lugar em mortalidade infantil no Brasil, colocação ainda longe do ideal, mas de melhoria significativa em relação aos anos 1980, quando ocupava o 3º posto. De acordo com o IBGE, o Estado do Ceará teve a redução mais notável dentre todas unidades da federação. Ao longo de 23 anos, a taxa caiu 94,9 pontos ao todo.
No ano de 1980, a cada mil meninos nascidos, 121 não conseguiam chegar ao primeiro ano de vida. Já entre meninas, a proporção de óbitos era de 100,4 por mil. No ano de 2012, as taxas caíram para 18,1 e 15,2, respectivamente.
Antes do parto, a falta de assistência em enfermagem e medicina à gestante, com a realização de exames e consultas periódicas para detectar problemas de saúde, tanto da mulher quanto do bebê, constitui uma das principais causas da chamada mortalidade neonatal precoce, até os 28 dias de vida.
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