Tradição das cavalgadas se propaga em festas religiosas
21.01.2015
Tendo como ponto alto as comemorações do santo padroeiro, homens, mulheres e crianças se unem
Mulungu "Foi uma promessa que fiz. Na primeira edição, começamos com 35 vaqueiros. Hoje já estamos com esse número, superior a mil amigos. É uma prova de que nossa ideia foi bem aceita. Graças a Deus, estamos mantendo uma tradição de vários séculos", comemora Calixto Fraga, que cavalgou, durante 12 horas, até a comunidade do Sítio Couros, em Mulungu, onde os animais tiveram o descanso para depois chegar à cidade. No Centro de Eventos, eles foram abençoados pelo pároco da Paróquia de São Sebastião, padre Marques Freitas.
"O percurso às vezes é repleto de obstáculos, como travessia de córregos, troncos, brejo e uma vegetação fechada", lembrou o vaqueiro. No Ceará, muitos municípios já estão organizando o evento por ocasião das comemorações municipais, como festas religiosas, eventos agropecuários ou passeios ecológicos.
Acompanhamos uma noite de viagem de um grupo de mais de mil aventureiros com destino à cidade de Mulungu, no Maciço do Baturité, para conhecer de perto a saga de uma categoria que se reúne para fazer o bem e praticar atos de solidariedade.
Outro que participa ativamente das cavalgadas é o empresário João Paulo, do Rancho Sossego. Todos os anos, ele leva em média 20 vaqueiros, que passam a noite em sintonia com a natureza. "É uma coisa gratificante. Não podemos deixar que isso acabe, porque tudo passa de geração a geração", disse.
Quem acompanha o percurso fica encantado com a maneira como os cavalheiros tratam os animais. Em muitos locais de difícil acesso, o homem desce e ajuda o cavalo a ultrapassar os obstáculos até o destino final.
O empresário Robert Viana, Márcio Braga e João Bosco Queiroz, também participam da festa. "Estou muito feliz, porque entendo que nossa categoria precisa estar mais unida. A cavalgada é um esporte do bem", salientou João Bosco.
A Mestra da Cultura Dina Martins, aproveita a viagem para aboiar e tornar a festa mais alegre. "Todo cidadão é vaqueiro e todo vaqueiro é sertanejo. Aqui todo mundo faz parte de uma família, por isso é só alegria. As gerações se misturam e, quando isto acontece, quem sai fortalecida é a cultura popular. Na nossa região é preciso as pessoas reconhecerem o quanto é importante valorizar e respeitar as ideias e costumes de cada um", disse.
Francisco José Freitas, do Sítio Caridade do Jesuíno, lembra que as cavalgadas fazem parte de uma tradição antiga. "É o grande momento em que homem e cavalo falam a mesma língua e a sintonia se torna perfeita. É como se você estivesse tocando um instrumento e fosse necessário um grupo para acompanhá-lo", compara o vaqueiro Neném, como é conhecido.
A presença do vaqueiro é, sem dúvida, um grande avanço nas cavalgadas. Para o presidente da Associação dos Vaqueiros, Boiadeiros e Criadores dos Sertões de Canindé, José Curdulino Filho, que participa ativamente dos momentos de interação dos vaqueiros, as cavalgadas voltaram e deram um novo charme às festas que acontecem no Ceará.
O prefeito de Mulungu, Francisco Sávio Bezerra, é exemplo de dedicação e paixão. Ele diz que mesmo antes de ser prefeito já era vaqueiro. "Prefeito é um compromisso firmado com o povo, para servir bem a sua gente. Vaqueiro não. É uma profissão para a vida inteira", compara Sávio. "Só deixo esse meio quando o criador do Universo pedir a minha presença lá em cima. Enquanto não, vou continuar aqui levando essa vida que muito me orgulha", disse.
Quando iniciou a primeira cavalgada com destino à cidade de Mulungu, em 2006, o empresário Calixto Freitas Fraga, 45, contou apenas com o apoio da esposa Ana Maria Freitas, 37. No início era tudo muito simples. "Em 2007, o número de aventureiros aumentou e aí, comecei a pensar grande. Juntei os amigos de Canindé e começamos a organizar a cavalgada de forma mais profissional".
Calixto sempre fala em tom de paixão. "Em 2007 a minha filha Ane Caroline fez a sua primeira viagem na barriga de sua mãe". Hoje, com 8 anos, Ane Caroline faz parte do percurso com sua mãe em um veículo da família, ao lado do irmão Antônio Jeferson Freitas, 15. Quando o grupo se aproxima da cidade, os dois descem do carro pegam seus cavalos e seguem
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