ABACAXI
Produtores temem falta de chuvas
20.02.2015
A cultura suporta um período de longa estiagem, mas uma nova seca pode afetar de vez a atividade
Santana do Cariri. Após a colheita da safra de sequeiro de abacaxi, concluída no mês passado, neste município, localizado na região Sul do Ceará (Cariri cearense), os produtores vivem agora a expectativa de continuidade da produção, mas temem a escassez de chuva e reclamam da falta de apoio para o financiamento de atividade de custeio. O cultivo da fruta na última década modificou o perfil agrícola local e mostrou-se viável.
Mesmo com três anos de seca, um grupo de 40 produtores vem mantendo o cultivo de abacaxi na Chapada do Araripe e obtendo boas safras. A mais recente colheita foi concluída no mês passado. A produção foi estimada em 20 toneladas e a unidade foi vendida, em média, por R$ 2,00. "Quem plantou obteve boa colheita e vendeu toda a produção para o mercado regional", disse o gerente local da Ematerce, Francisco Novais Tavares.
A colheita ocorre entre os meses de setembro e janeiro e o plantio é de sequeiro (aquele que depende exclusivamente das chuvas). O cultivo é feito durante a quadra chuvosa, geralmente a partir de março. O primeiro ciclo de produção do fruto é demorado, 18 meses, mas a partir da primeira colheita, a cada ano, há produção, por um período de três anos seguidos.
Satisfatória
O balanço da mais recente colheita é positivo. "Para as condições climáticas que vivenciamos nos últimos três anos, a safra foi satisfatória, razoável, não apresentou prejuízo", frisou Novais. "A venda ocorre nos municípios da própria região". As chuvas neste ano estão atrasadas no Cariri e de resto no Estado. No Sul cearense, é comum as primeiras precipitações ocorrerem em dezembro e se intensificarem a partir de janeiro. "Tivemos somente uma chuva de seis milímetros no último dia 23 de janeiro", lembrou Novais. "É insignificante para a média da região". Neste mês de fevereiro até o último dia 12, foram registradas apenas duas chuvas, uma de 15mm, no dia 5, e outra de 14mm no dia 11.
Os produtores estão no campo, preparando o solo, fazendo os tratos culturais, mas temem um período de estiagem ainda mais intenso do que no ano passado. Limpeza da área, queima de restos de cultura e a espera de chuvas marcam o dia a dia dos agricultores no município.
A maior parte da produção de abacaxi ocorre na Serra do Dom Leme e numa área de assentamento agrícola, com 15 famílias envolvidas na atividade. "Enfrentamos muitas dificuldades, mas a safra foi boa", disse o agricultor Francisco Souza. A produção amplia renda dos agricultores familiares. Há um produtor que se destaca, Expedito Olegário, que começou pequeno, na agricultura familiar, mas que investiu na atividade e vem obtendo bons resultados e lucros.
O abacaxi suporta um período de longa estiagem, mas uma nova seca pode afetar a atividade e prejudicar o projeto de revitalização do fruto, que se iniciou a partir do ano 2000. Além de Santana do Cariri, os municípios de Porteiras e Crato têm experimentos e produção. A variedade mais cultivada é a pérola, que apresenta boa qualidade, mas é susceptível ao ataque de pragas como fungos que causam a fusariose.
Nas décadas de 1960 e 1970, a Chapada do Araripe chegou a cultivar abacaxi em uma área superior a 1.500 hectares. Hoje foi reduzida a menos de 10%. A doença causada por fungos dizimou o plantio. A partir do ano 2000, sob o incentivo do então gerente regional da Ematerce, Sérgio Linhares Cavalcante, houve a implantação de pesquisa, estudos, com apoio de técnicos da Paraíba e do Rio de Janeiro. Foram implantadas unidades demonstrativas. Os resultados foram satisfatórios.
Falta financiamento
A partir desse período, foi implantado o projeto de revitalização do fruto, com apoio da Ematerce e da Secretaria de Agricultura do Município. Até meados da década passada ele andou a passos largos, mas a falta de financiamento bancário para o custeio restringiu a produção do fruto.
"Infelizmente, os bancos deixaram de financiara cultura, mesmo por meio de recursos do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)", lamentou o secretário adjunto de Agricultura, Ricardo Firmino.
O gerente da Ematerce, Novais, observa que o abacaxi não é um fruto zoneado para a produção de sequeiro na região. "Mediante as normas, os financiamentos foram suspensos. Já fizemos vários documentos, pedindo estudos para a Chapada do Araripe, mas até agora nada de concreto aconteceu". Outra medida seria a introdução de variedades resistentes ao ataque de fungos. O solo da região é favorável, por ser plano, arenoso, bem drenado e não encharcado.
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