Carro-pipa nas sedes das cidades
05.02.2015
A crise da falta d'água chegou às matrizes municipais, implicando em mais custos e gastos com o abastecimento
Fortaleza. Pelo menos sete sedes de municípios devem contar emergencialmente com fornecimento de água por carro pipas. Em Mombaça, Piquet Carneiro, Crateús, Canindé, Quixeramobim, General Sampaio e Jaguaretama, o colapso de água na área urbana ou já está instalado ou é questão de um ou até dois meses, em vista da redução dos níveis dos reservatórios que abastecem as cidades.
A informação é do presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Expedito José do Nascimento, que voltou, ontem, a demonstrar preocupação não apenas com a falta d'água para consumo humano, mas também para o rebanho.
Segundo a Defesa Civil do Estado, a Operação Carro-Pipa já está presente em 54 cidades, mobilizando 174 veículos, atendendo cerca de 280 mil pessoas.
O presidente da Aprece, que tomou posse do cargo no último dia 30, lembrou que nesta mesma data reuniu-se com o governador Camilo Santana, ocasião que pediu maior atenção para a questão hídrica no Estado.
"Mostramos que, se o problema ainda não é alarmante na Capital, o interior já vive momentos de agonia pela falta d'água", disse Expedito. Ele manifestou ao governador a preocupação que agora se concentra nas sedes, onde será preciso o socorro dos carros-pipas, o que representará em mais custos e recursos do poder público.
Expedito aponta que o monitoramento dos níveis dos açudes chega a ser desesperador no Sertão Central e até no Vale do Jaguaribe. Em Piquet Carneiro, cidade onde é prefeito, o açude São José II, com capacidade para 29 milhões de metros cúbicos de água, está hoje com apenas 1,92% de suas reservas.
Crise
Em Senador Pompeu, o açude Patu, que também abastece Milhã, está com 12% da sua capacidade. A barragem Serafim Dias, que atende a cidade de Mombaça, está com 8% e Acopiara vem sendo servida pelo Trussu, em Iguatu, por meio de adutora de engate rápido, após o reservatório Raimundo Moreira ter chegado ao volume morto. "Essas são medidas emergenciais, mas acreditamos que a prioridade também deva ser a perfuração de poços profundos, instalação de mais adutoras e a conclusão das obras da Transposição", disse o presidente Aprece. Segundo ele, o argumento de contingenciamento dos recursos federais em vista da crise econômica do País não pode servir de pretexto para interrupção ou adiamento da conclusão da obra. "Essa é a prioridade número um, pois a sobrevivência do ser humano vai depender desta água", ressaltou.
Para tanto, a Aprece deverá marcar ainda neste mês uma reunião com a bancada cearense no Congresso Nacional, no sentido de unir forças para que não haja interrupção nos investimentos previstos para as obras estruturantes. Expedito informou que, por isso, já manteve um contrato preliminar com o líder do governo na Câmara Federal, o deputado federal José Guimarães.
Ceticismo
As ações de infraestrutura implementadas no Estado são elogiadas pelo ex-secretário de Recursos Hídricos do Ceará e ex-secretário Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Integração Nacional, Hypérides Macedo. No entanto, expressa descrença quanto ao cronograma definido para as obras da Transposição, que estão previstas para chegar ao Ceará em 2016.
Sobre a infraestrutura hídrica do Estado no contexto de mais um ano de seca, Hypérides Macedo, observa que, pelo atual quadro de mais um ano de chuvas irregulares, o quarto seguido, a infraestrutura hídrica do Ceará já se encontra no limite das reservas, apesar do esforço realizado nos últimos vinte anos. "Considerando que Fortaleza é a única capital do País localizada no Semiárido e ainda não atingiu o nível de alerta. É sinal que o planejamento hídrico do Ceará funcionou. É lógico que, em anos de seca, o consumo de água na irrigação e na indústria aumenta. Este é o maior problema", afirmou o engenheiro.
Ao avaliar as estratégias adotadas pelo governo do Estado para o enfrentamento da estiagem através de anos seguidos, observa que a construção de adutoras e poços é a mais objetiva ação, contudo, está na hora de limitar a produção de culturas temporárias na irrigação.
Além disso, fixar um padrão de planilha de custo de produção e estabelecer uma margem de subsídio para o agricultor, visando garantir a água para as atividades essenciais, principalmente o abastecimento humano e animal.
Por outro lado, é pessimista com relação à possibilidade do Estado contar com as águas da Transposição do Rio São Francisco a partir do próximo ano. "Na situação de caixa do País e a questão das empreiteiras na operação "Lava Jato", principalmente aquelas comprometidas com o Eixo Norte, devo acreditar que o cronograma de 2016 já está prejudicado", afirmou.
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