quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Mortandade de peixes intriga pescadores no Açude Orós

19.02.2015

O Açude Orós recebe, por meio do Rio Jaguaribe e de seus afluentes, dejetos de dezenas de cidades e de vilas rurais que não têm saneamento básico

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O pescado que morre é enterrado em valas próximas ao açude
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Preso nas gaiolas, o pescado não tem como sair para águas mais profundas, oxigenadas e acaba morrendo. A orientação é que, nesse período, os criadores reduzam a quantidade de alimentação, restringindo-a ao período da manhã
FOTOS: HONÓRIO BARBOSA
Orós. Produtores de tilápia em tanques-redes no Açude Orós, localizado na região Centro-Sul do Ceará, enfrentam um novo ciclo de mortandade do pescado. A ocorrência de morte é mais comum no período de maio a julho, mas, neste ano, vem surpreendendo os criadores desde janeiro passado. O reservatório é o segundo maior do Ceará e acumula atualmente 46% de sua capacidade.
O Orós tornou-se um dos maiores produtores de peixe da espécie tilápia em cativeiro, no Estado do Ceará. São cerca de 500 famílias, em 18 comunidades, envolvidas com a atividade econômica e uma produção mensal estimada em 420 toneladas. Nos últimos dez anos, a criação de pescado trouxe uma significativa melhoria de renda para os moradores, que antes viviam da pesca artesanal e da agricultura de subsistência.
Gaiolas
O problema pode estar relacionado com a quantidade de peixe nas gaiolas, a queda do nível do reservatório, a baixa produção de oxigênio e a inversão térmica. A mortandade vem ocorrendo em quase todas as comunidades e revela que os produtores precisam seguir as orientações técnicas e que há um limite para manter a sustentabilidade da produção em larga escala.
O piscicultor Pedro Emídio da Costa confirmou a morte de peixe nas localidades de Jardim, Brejinho, Jurema e Pereiro dos Pedros. "É mais um prejuízo que atinge os produtores que já têm dívidas. Costa adiantou que os criadores estão reduzindo a compra de alevinos. "A nossa preocupação é com a queda do nível do açude. Dizem que vão liberar mais água para o Castanhão",
O coordenador local do Centro Vocacional Tecnológico (CVT), Paulo Landim, observa que o momento é de dificuldade, mediante a queda de volume de água do reservatório e a incerteza se haverá chuva suficiente para a recarga do açude.
"Estamos atravessando um momento de dificuldades e não podemos, de maneira alguma, pensar em expansão da atividade", frisou. "Os produtores devem diminuir a quantidade de peixe nas gaiolas".
Os técnicos avaliam que a redução deveria ser em torno de 50%. A decisão, se for tomada, representa queda na produção ao longo deste ano. "É o caminho correto para reduzir o risco de morte", frisou Landim. "À noite, os ventos fortes seguem na direção da água para a margem, criando ondas que retornam por baixo, levando material aquático e água com pouca oxigenação. É esse processo que causa a falta de oxigênio e a morte dos peixes", explicou.
Preso nas gaiolas, o pescado não tem como sair para águas mais profundas, oxigenadas. A orientação é que nesse período os criadores reduzam a quantidade de alimentação, restringindo-a ao período da manhã. "O peixe não morre por fome, mas por falta de oxigênio. Se tiver sido alimentado no período da tarde vai precisar de mais oxigênio para digestão e respiração, exatamente à noite, quando ocorre a fotossíntese", explicou. "Para reduzir a mortandade é uma questão de manejo".
Outra saída é a retirada das gaiolas das áreas mais próximas das margens para águas mais profundas. "Os criadores precisam verificar à noite o comportamento dos peixes e quando perceberem que há risco de morte, conduzir os tanques redes para locais mais distantes, com melhor qualidade de oxigenação", frisou Landim.
Outro problema é evidente no Açude Orós: a poluição. O reservatório recebe, por meio do Rio Jaguaribe e de seus afluentes, dejetos de dezenas de cidades e de vilas rurais, que não têm saneamento básico.
Prejuízo
Em maio de 2014, a mortandade de tilápias atingiu cerca de três mil gaiolas, deixando prejuízo para mais de 100 famílias. Somente na localidade de Jurema, o prejuízo foi em torno de R$ 300 mil. Os projetos experimentais de criação de tilápia em tanques redes começaram em 2004, com 20 gaiolas. Logo houve expansão. Hoje são 3.500.
Esse número pode ser superior, pois há queixa de que unidades são implantadas de forma irregular, sem autorização e a outorga das instituições envolvidas. O mercado é favorável e o êxito do empreendimento está relacionado à capacidade de organização e conhecimento dos produtores. "Há dificuldades, mas a atividade é lucrativa. Os grupos que investem parte dos recursos conseguem crescer".

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