sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Neguinho da Beija-Flor ironiza críticas à escola

20.02.2015

Sambista também disse que a Europa tem histórico de exploração de negros, mas que comumente é celebrada

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Cantor foi questionado sobre a polêmica que envolveu a homenagem à Guiné Equatorial, país que vive em uma ditadura há 35 anos
FOTO: FERNANDO MAIA/RIOTUR
Porto Alegre/Rio. Intérprete da escola de Samba Beija-Flor e um dos sambistas mais famosos do País, Neguinho da Beija-Flor afirmou que o dinheiro sujo organizou o Carnaval do Rio de Janeiro. A declaração foi dada ao vivo, por telefone, na manhã de ontem à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, do Grupo RBS.
"Se não fosse a contravenção meter a mão no bolso, organizar, estaríamos ainda naquele negócio de arquibancada caindo, desfile terminando duas horas da tarde, cada escola desfilando duas, três horas e a hora que quer. E a coisa se organizou", afirmou. Depois, falou em tom irônico: "Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção".
O cantor foi questionado sobre a polêmica que envolveu o título da Beija-Flor neste ano, de que, ao comemorar a cultura africana, homenageou Guiné Equatorial, país que vive em uma ditadura há 35 anos. Neguinho minimizou o fato, dizendo que a Europa tem histórico de exploração de negros, mas que comumente é celebrada nos desfiles.
Sobre o fato de que a Beija-Flor teria recebido um patrocínio de R$ 10 milhões do governo do ditador Teodoro Obiang, Neguinho declarou não ter conhecimento, mas disparou: "Deixa falar. Deu mídia. Deixa falar".
E emendou: "A Portela também teve um patrocínio muito forte. O governador do Rio de Janeiro, o Pezão, queria que a Portela ganhasse. Vai dizer que ele não fez investimento? O prefeito é portelense doente. Vai dizer que não colocaram dinheiro na Portela?". Neguinho foi questionado em seguida sobre a contribuição de contraventores, como milicianos, donos de bancas do bicho e até de traficantes.
Guiné Equatorial
O embaixador da Guiné Equatorial no Brasil, Benigno Pedro Matute Tang, afirmou na tarde de ontem que cerca de 30 empresas do seu país contribuíram para o desfile da Beija-Flor com "entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões". "Dos cofres públicos não saiu R$ 1.", assegurou. Ele disse que não houve patrocínio à escola por empresas brasileiras que têm negócios na Guiné Equatorial.
A informação do embaixador difere do que carnavalescos da escola de samba campeã, Fran-Sérgio Oliveira e Laíla, haviam informado. Laíla, na semana passada, e Oliveira, na quarta-feira (18), citaram Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, OAS, ARG e F & Costa como empresas brasileiras que teriam contribuído para o desfile.
Segundo o diplomata, apesar de toda a polêmica envolvendo o desfile, o desfecho foi positivo porque as pessoas que nem sabiam da existência do país agora falam da Guiné Equatorial. Tang rechaçou a informação de que existe uma ditadura em seu país.
O embaixador afirmou que o presidente Teodoro Obiang é eleito e reeleito há 35 anos democraticamente. "Ele vence porque o povo o apoia. Não há ditadura", disse Tang.
Patrocínio negado
A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) divulgou nota ontem em que nega ter patrocinado o polêmico desfile com que a Beija-Flor de Nilópolis, campeã do carnaval carioca de 2015, homenageou a Guiné Equatorial.
"A Odebrecht não patrocinou o desfile do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro", diz o texto divulgado pela empreiteira.
"A Odebrecht esclarece ainda que nunca realizou obras na Guiné Equatorial. A empresa chegou a manter um pequeno escritório de representação no país africano, mas ele foi desativado em 2014", explicou o texto da empreiteira.
Pedido do PSDB
O PSDB vai pedir informações ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio sobre obras financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na Guiné Equatorial. O líder do partido no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse suspeitar que recursos do banco tenham sido usados por empreiteiras brasileiras que teriam financiado o enredo da escola de samba Beija-Flor, campeã do Carnaval do Rio.
"Se houver financiamento do BNDES a essas empresas, fica clara a triangulação de um banco público para uma escola de samba, o que não é justo", afirmou o senador.

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