sábado, 14 de março de 2015


ARTE POPULAR

Cordelista lança hoje seu segundo CD de poesias

14.03.2015

Noite de viola, sanfona e poemas marcam lançamento de disco de recitação dos grandes mestres cordelistas

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Paulo de Tarso já publicou mais de 70 cordéis e lança seu segundo CD
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Fortaleza. Paixão e obstinação. Assim se aglutina e se funde a arte do cordelista Paulo de Tarso, o Poeta de Tauá, que lança, hoje, nesta cidade, o seu segundo CD de poesia. O evento, que será realizado no restaurante Caravelle, localizado na Avenida Luciano Carneiro, terá também a participação da Orquestra Sanfônica de Tauá.
O evento acontece a partir das 21 horas e a Capital foi escolhida, conforme o artista, exatamente para difundir a arte popular, representada pelo cordel, em um grande centro cultural. Assim, a ideia é que outras cidades também sejam espaços para que se conheça o lançamento, que presta uma homenagem aos grandes autores e poetas sertanejos cearenses e nordestinos.
"Neste novo CD recito poemas de grandes mestres, como Alberto Porfírio e Chico Pedrosa, e, para mim, será um momento de grande prazer recitar, não apenas as minhas poesias, como também de reconhecidos poetas nordestinos", disse.
Atualidade
Como um artista que tem plena consciência da globalização, Paulo de Tarso compreende que é a Capital o reduto que mais sente a diferença e a sensibilidade de perceber o singelo e puro da alma interiorana.
Professor, de 51 anos de idade, já tem uma carreira como cordelista de 27 anos. Boa parte de seu trabalho é inspirada em fatos jornalísticos, como o Tsunami, que assolou países do continente asiático ou o ataque às torres gêmeas, que gerou o cordel "Nova York em Chamas" e um de seus trabalhos mais conhecidos, a "Santa que Chora", narrando fato ocorrido em Fortaleza, em uma imagem de santa que derramava lágrimas na presença de devotos.
Uma outra fonte de inspiração é a história e a pesquisa. Foi assim que publicou cordéis como "O encontro de Patativa com Gonzagão lá no céu" e "Beato José Lourenço". Também não faltam o humor e a irreverência para satirizar fatos políticos e de comportamento social.
No novo CD, recita poema do cordelista Maviael Melo, para fazer crítica aos políticos que tudo prometem durante as eleições e pouco fazem após eleitos.
Ele conta a história, por exemplo, de um senador que morreu e foi para o Céu. Curioso, esse senador pediu a São Pedro para conhecer o inferno, o que foi permitido. Lá, ficou encantado com a vida hedonista, com bebidas, mulheres e a sedução. Desse modo, desistiu de ficar no Céu e pediu para manter sua morada no inferno, fugindo, assim, de uma vida monótona e desinteressante. A decepção do senador foi logo ao trocar de moradia eterna. No lugar da boate, havia fogo e ranger de dentes. Ao perguntar ao diabo sobre o ambiente prazeroso na sua visita, teve como resposta do capeta versos que diziam "que tudo era engano e armação, coisa para se ganhar a eleição".
De comportamento moderno, critica a falta de diálogo e da conversa interpessoal, em vista de que o relacionamento humano é o que há de mais importante para a sociedade, para os contatos virtuais e de redes sociais, que tanto satiricamente assinala no poema "Zip Zap", uma analogia para o WhatsApp.
Caminhada
Para chegar ao seu segundo disco de poesia, a carreira do cordelista foi, de fato, permeada por um amor apaixonado às coisas do sertão, como a cultura, a mística e a valentia de se sobrepor acima de uma adversidade sempre presente, que é a seca.
Ao mesmo tempo, não lhe faltou determinação em vencer os desafios de incorporar uma nova linguagem a um estilo literário popular, onde já despontaram nomes como José Camelo de Melo Resende. Apolônio Alves dos Santos, Cego Aderaldo e, sobretudo, Patativa do Assaré. Enquanto os clássicos aprofundaram o drama de pobreza e luta do nordestino, uma corrente distinta se apoderou das novas gerações, que era o humor, a verve apurada, o desdém e a graça com as desgraças. Foi neste contexto que Paulo de Tarso se inseriu e firmou seu nome como nova revelação da literatura de cordel no Nordeste.
A paixão do poeta tauaense Paulo de Tarso pela literatura de cordel começou quando ele era um menino, ao ler as obras de um tio. À medida que o tempo passava, a vontade de se tornar um cordelista só crescia. Até que um dia, quando ainda fazia o primeiro ano do Ensino Médio, teve sua primeira experiência como cordelista. "Foi algo bem amador, a professora passou um trabalho para ser feito em cordel sobre a dança de São Gonçalo", relembra.
Paulo de Tarso conta que seu interesse pela poesia começou desde menino. Sempre teve admiração pelos cantadores, os desafios de viola e o repente engraçado e inteligente vindo das cantorias em noites quentes e enluaradas de Tauá.
Nos caminhos da luta pela sobrevivência, escolheu a profissão de professor de História, mas nunca desistiu do verso cortante como a faca e reluzente como o sol dos Inhamuns.
Interesse
O Poeta de Tauá também destaca o crescente interesse do meio acadêmico pela arte popular. Hoje, verifica que cada vez mais o cordel e as cantorias não apenas são estudadas e pesquisadas, como apreciadas por um segmento social, que até então não mantinham uma aproximação tão profunda com esses artistas.
Ele elogia, ainda, as iniciativas de incentivar a leitura dos cordéis nas escolas, fazendo com que as crianças desde cedo passem a se interessar pela cultura regional, além de despertar vocações artísticas voltadas para o poema.
O cordelista Paulo de Tarso é otimista com relação ao futuro do cordel, mesmo que se diga que mídias eletrônicas são as preferidas do público jovem. Na sua opinião, trata-se de adaptar à modernidade. Por isso, atualmente, seus poemas são mais curtos e mais ritmados.
O cordelista tem mais de 70 cordéis publicados. Em 2010, ele recebeu o Prêmio Mais Cultura Patativa do Assaré, do Ministério da Cultura (Minc), com o cordel "O Quinze", baseado na obra da escritora Rachel de Queiroz. Ele é formado em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e ocupa a cadeira 32 da Academia Tauaense de Letras.

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