sábado, 21 de março de 2015

Obras da Transposição ainda são um sonho para populações rurais do Ceará

20.03.2015

Projeto polêmico de ser aprovado e difícil de ser concluído, as obras seguem em ritmo lento

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Na área de construção no Ceará, a obra ocupa 3.485 operários
FOTO: ELIZÂNGELA SANTOS
arte
Mauriti. Um dos projetos mais esperados para ser concluído no Nordeste foi iniciado em 2007 e agora está previsto para ficar pronto somente em 2016. Até o ano passado, se previa que as águas da Transposição do Rio São Francisco chegassem ao reservatório de Jati, um dos principais do projeto, para serem redistribuídas no Estado do Ceará, por meio do Cinturão das Águas, com obras do governo estadual.
A obra chega a mais de 70% de execução, com avanços maiores em outras áreas. O projeto, em sua plena capacidade de execução, empregou mais de 10.200 trabalhadores, e hoje se encontra com 9.300. Na área de construção no Ceará, a obra ocupa mão de obra de 3.485 operários. O projeto, que foi bastante polêmico para ser iniciado, já foi muito criticado pela demora na sua conclusão.
Moradores do distrito de Umburanas e Palestina, em Mauriti, ainda sonham com a conclusão dos serviços do Canal da Transposição que passa pela área. O projeto realmente mudou a rotina dos residentes. E não somente isso. Alguns deles tiveram que sair do local, principalmente quem convivia próximo ao Riacho de Umburanas, numa área onde estão sendo executados aquedutos. É que a água do Riacho de Umburanas secou e não deu para plantar mais nada no lugar. Alguns ainda aproveitam a água dos poços, mas de qualidade ruim.
Realidade
A agricultora Francisca Furtado da Costa desde que nasceu mora na localidade. Teve filhos e netos e afirma que o Canal será realidade apenas para os seus netos. "É um sonho ainda. Não acredito que ficará pronto logo", diz. Na área da sua pequena propriedade rural, que nos últimos anos já teve vontade de deixar, não tem muito o que fazer nos tempos de seca. É que o pouco da água do riacho era utilizada para irrigar pequenas plantações, principalmente de fumo. Agora, de frente à sua morada há um uma imensa barreira formada por pedras e uma cerca. As pessoas estão jogando lixo no local e isso tem incomodado bastante a moradora.
Segundo a assessoria do Ministério da Integração Nacional, atualmente os mais de 9.300 trabalhadores estão distribuídos em cerca de 477 Km de extensão de todo empreendimento. Alguns trechos do canal, como o das Metas 2 Norte e 3 Norte, continuam com frentes noturnas de serviço, concentradas nos municípios cearenses de Jati, Brejo Santo e Mauriti.
Os últimos dados de fevereiro, conforme a assessoria, confirmam 72,9% da execução das obras do canal em sua totalidade. Mas, na Meta 3, que ligará os Estados do Ceará e Paraíba, há 80,7% de execução física.
Em Jati, desde que a obra do reservatório foi iniciada, há expediente noturno de trabalho, chegando a empregar moradores da localidade. Centenas de residentes das cidades de Jati, Brejo Santo e Mauriti, principalmente, trabalham nas frentes de serviço do canal da transposição.
Para a moradora Francisca Furtado, esse tem sido o lado bom da obra. Há pessoas de sua localidade que jamais teriam condições de ter uma casa própria porque viviam apenas da agricultura de subsistência. Segundo ela, o dinheiro dava apenas para manter a família. "Muitos deles já possuem uma casinha para morar e isso foi bom".
Benefício
"Não vejo a hora de a água chegar por aqui", diz a dona de casa Mamédia Germana Silva. Ela mora em Brejo Santo, onde têm parentes trabalhando na execução dos serviços das barragens, além de filhos também residindo em Jati. Pelo menos 40% da mão de obra é local. O benefício se reverte para a própria cidade, onde há maiores dificuldades para a geração de emprego.
Mamédia tem uma filha com um pequeno comércio na cidade. Ela diz que, de alguma forma, todos acabam se beneficiando com o movimento, mas que a realidade será bem melhor quando a água chegar. A obra, segundo ela, ainda trará muitos rendimentos. E os trabalhadores que o digam.
O estudante Douglas Jorge da Silva afirma que estava precisando muito de um emprego e teve que largar as aulas para poder trabalhar. Ele observa que a opção, no momento, veio pela necessidade. Mas, depois de um ano atuando na construção da barragem, decidiu se empenhar mais nos estudos e irá retornar à sala de aula brevemente, sem ter que sair do trabalho.
"Podemos ficar até o próximo ano e, com isso, nos planejarmos melhor, porque tem sido uma oportunidade de melhorar, principalmente para quem não tinha um ganho muito certo", afirma.
Tanto os trechos das obras em Jati, como em Mauriti, na área do distrito de Palestina, já receberam as visitas da presidente Dilma Rousseff e de ministros da Integração que se revezaram no cargo durante os últimos anos. A última visita ocorreu em fevereiro, em alguns trechos, pelo ministro Gilberto Occhi. Ainda não há previsão de agenda para nova visita ao local.
Na área de Mauriti, os trechos do canal agora recebem reparos finais e estão sendo realizados serviços de drenagem. Aquedutos ainda faltam ser concluídos. A obra chegou a ser um dos pontos mais prejudicados em sua execução porque parou por diversas vezes.

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