Praça vira ícone contra desmonte
Temendo novas destruições, moradores se mobilizam para preservar o maior cartão-postal da cidade
Crato. A descaracterização do patrimônio histórico ao longo dos anos, em cidades do Cariri, tem sido motivo de constantes manifestações de moradores. O desejo é que a história seja preservada. Uma das praças do Crato, a Francisco Sá, mais conhecida como Cristo Rei, cartão postal da Cidade, reconhecida por lei, que em breve será restaurada pela administração local, nem chegou a divulgar o projeto de melhoria, e já houve a reação de moradores, que manifestaram a preocupação com as mudanças no espaço público.
Com a proposta de promover restauração e melhoria na jardinagem, sem que as árvores sejam retiradas, o secretário de Obras, Tácio Luiz de Carvalho, afirma que estão sendo definidos os serviços e afirma que não haverá reformas que possibilitem mudanças na praça.
A praça Cristo Rei se tornou uma das únicas na Cidade a ter o patrimônio pouco modificado desde a sua inauguração, no fim dos anos 30, em relação às outras da cidade.
Alerta
Segundo o professor de artes e poeta Ulisses Germano, é urgente que as pessoas estejam alertas para as possíveis mudanças que aconteçam nas cidades, sem que a própria população possa manifestar o seu desejo para que a história seja mantida.
Ele lamenta que tantos rastros desse passo histórico, que considera luminoso, em Crato, tenham se apagado, por conta da falta de conhecimento e o crescimento que não está relacionando à manutenção do processo histórico da Cidade. O professor classifica o Crato um município de um passado glorioso e que merece uma atenção maior dos seus administradores, no sentido de não apenas manter o patrimônio preservado, mas educar o cidadão para saber cuidar melhor da cidade.
Há dez anos residindo no Município, Germano é um dos moradores que busca conhecer os antepassados, personalidades que já trilharam pelas ruas e até histórias importantes que fazem da Cidade um berço de acolhimento importante de grandes personalidades, a exemplo do cantor Luiz Gonzaga e do poeta Patativa do Assaré.
Conforme o secretário Tácio Luiz, a ideia é poder preservar as praças da Cidade e a Cristo Rei será a primeira delas, por ser um cartão-postal, juntamente com a imagem do Cristo Rei. Para o professor, é de grande relevância que se garanta também o cuidado com as árvores, algumas delas desde a criação da praça, que poderão permanecer no local por muitas décadas com o tratamento adequado.
Apoio
Após a divulgação de uma carta ao prefeito Ronaldo Gomes de Mattos, nas redes sociais, o professor recebeu dezenas de apoios pela iniciativa de solicitar ao administrador local a restauração do logradouro e não a reforma que poderia acontecer, para que o patrimônio não seja modificado em sua originalidade.
O médico e escritor do Crato, José Flávio Vieira, ao dar apoio à carta ao gestor, destacou o grave crime que vem sendo cometido ao longo dos anos com a história da Cidade. "O que fizemos até aqui com a História do Crato é um crime hediondo. Derrubamos a Casa de dona Bárbara (Bárbara de Alencar), o antigo Clube da Rapadura, a Cinelândia, a casa de dona Altina, o Banco Cariri... E por aí vai. A equação me parece simples: se nossos governantes não conseguem nos dar um presente minimamente digno, ao menos tentem preservar o pouco que restou de um passado glorioso", afirma. Ulisses Germano diz que há dez anos tem acompanhado a evolução da Cidade. Na sua opinião, o que vem ocorrendo é uma destruição do patrimônio material e imaterial. Ele disse que, em primeiro momento, a notícia de uma possível reformulação da praça o deixa apreensivo.
"É a única preservada em sua estética original", diz ele. As outras, como a Praça da Sé, já sofreu várias modificações, a São Vicente e a praça Siqueira Campos, mais recentemente reformada, chegou a ser alvo de vários protestos na Cidade. Todas perderam praticamente as referências de originalidade. Essas são as principais, no Centro.
Germano destaca a Praça Cristo Rei como símbolo oficial da Cidade e talvez por isso tenha resistido às mudanças realizadas pelos arquitetos. "Seu projeto original não pode ser modificado, seus postes não podem ser retirados. É uma questão de bom senso", argumenta. Dentro dessa realidade, cita como crimes ao patrimônio as mudanças que foram feitas há alguns anos nas outras praças do Centro.
Ele ainda faz um apelo para que haja a restauração da imagem do Cristo, na Coluna da Hora, de seis metros de altura, que conta com o monumento do Cristo acima. A obra foi feita pelo discípulo de Rodin, Agostinho Balmes Odísio, que deixou em diversas cidades a sua marca representativa de artista plástico e escultor de monumentos.
Melhoria
Os apoiadores da causa de preservação do espaço público também defendem a melhoria da estátua da Samaritana, construída nos anos 1950. Do pote, nas mãos da Samaritana, saía a água, como era o projeto original. Há algum tempo não funciona. "Seria importante se pudéssemos ver esses espaços com toda a vitalidade e os gestores entrassem para história como verdadeiros guardiões da história do seu lugar", destaca o docente.
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