Marcelo Raulino
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a primeira após sua saída do Ministério da Educação (MEC), o exministro Cid Gomes (Pros) afirmou que o Brasil vive hoje uma espécie de “presidencialismo parlamentar”, com um Congresso com “muito pouco” compromisso com a governabilidade e um governo cada vez mais dependente do PMDB.
Para Cid, a presidente Dilma Rousseff enfrentará muita dificuldade para aprovar o ajuste fiscal. Segundo ele, falta atualmente uma “sintonia” entre os Poderes Executivo e Legislativo. Não por questões ideológicas, mas por motivos “fisiológicos”, com um Parlamento onde são poucos os que têm compromisso com a governabilidade. Ele avaliou que esse cenário é agravado por um PMDB com espaço cada vez maior no governo federal, o que, na opinião dele, é “ruim para o País”.
Um dos incentivadores da criação de uma nova sigla para fazer frente ao PMDB, ao lado do Ministro das Cidades, Gilberto Kassab, Cid virou alvo preferencial dos caciques peemedebistas, principalmente os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e do Senado, Renan Calheiros. Que na primeira oportunidade pediram a cabeça do cearense a presidente Dilma.
Cid observa que a ida do vicepresidente Michel Temer para a articulação política do Planalto mostra a força do PMDB e a dependência do governo em relação ao partido. Para ele, a “independência” do Congresso tem possibilitado a aprovação de várias matérias que de encontro com o ajuste fiscal. “O Parlamento é um antipoder”, acrescentou.
Na avaliação de Gomes, a crise vivida hoje pelo governo é reflexo, sobretudo, do modelo político brasileiro, em que o Executivo depende muito do Parlamento para conseguir governar. Conforme o exministro da Educação, as propostas de reforma política apresentadas até agora não atacam essa questão.
Quanto ao episódio que culminou com seu pedido de demissão do Ministério da Educação, ele afirmou que já previa que teria de deixar o cargo quando foi à Câmara, após ser convocado para prestar esclarecimentos sobre a declaração de que, na Casa, havia “400, 300 achacadores”. “Eu sabia que ou eu desmentia o que disse ou deixaria o cargo. As duas coisas eram incompatíveis”, disse. Cid Gomes lembrou que, logo após o incidente, foi ao Palácio do Planalto e entregou o cargo. Desde então, disse que não conversou mais com Dilma.
Sobre o futuro, Cid deve esperar a quarentena exigida por lei após deixar um cargo público e deverá ir trabalhar no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nos Estados Unidos, a partir do segundo semestre, como planejava após deixar o governo do Ceará. Cid declarou que não será candidato nas eleições de 2016, mas atuará nos bastidores para “ajudar amigos”.
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