quinta-feira, 23 de julho de 2015

Parceria da Santa Casa e HRN garante aumento na captação

23.07.2015

No caso do transplante de córneas, o número de cirurgias seria maior se o Banco de Olhos estivesse funcionando

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A agilização no processo tem representado esperança para muitos
FOTO: MARCELINO JÚNIOR
Sobral. Há pouco mais de um mês, a dona de casa Maria Ferreira dos Santos realizou um sonho que parecia quase impossível: voltar a enxergar plenamente. Isso só foi possível por meio de um transplante de córneas, que lhe devolveu a visão do olho esquerdo, comprometido pela catarata. A cirurgia, que tirou dona Maria da fila de espera por doação, foi feita em Sobral. Um ano antes, a paciente havia feito a primeira operação para resolver o problema, mas a córnea não resistiu ao procedimento, fazendo com que ela voltasse à fila de espera. Hoje, com o problema resolvido, ela volta ao consultório para mais uma avaliação de rotina, e saber se o novo órgão tem se adaptado bem ao transplante. "Foi um período difícil pra mim e minha família, mas nunca perdi a fé, mesmo tendo que voltar a esperar de novo pela operação", disse.
Trajetória
O drama vivido por dona Maria faz parte do dia a dia de milhares de pessoas, no Estado, que aguardam por um transplante. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o primeiro transplante de córnea feito no Ceará, em 1973, no Instituto dos Cegos, abriu caminho para que fosse implantada, em 1998, a Central de Transplantes do Estado, quando foi possível iniciar a contagem de cirurgias no Ceará. De 1998 até este mês de julho, a Central registrou cerca de 7 mil.
Sobral entrou na lista dos transplantes em 2011, e contabiliza 116 operações; destas, 20 foram realizadas neste ano, na Santa Casa. Para o oftalmologista Ribamar Fernandes, "quem ganha com essa descentralização do serviço é a população, que antes contava penas com a cirurgia em Fortaleza. Só para se ter uma ideia, cerca de 600 pessoas esperam pela cirurgia no Ceará, e apesar da crescente demanda, o trabalho feito aqui tem facilitado o acesso", disse.
É na Santa Casa de Sobral onde funciona a Organização de Procura de Órgãos (OPO), com abrangência em toda a macrorregião norte. A OPO é a parte executiva da Comissão Nacional de Transplantes de Órgãos e Tecidos, designada pela Sesa, por meio da Central de Transplantes, que tem por objetivo, identificar, manuter e captar potenciais doadores para fins de transplantes. Além da macrorregião norte, o Ceará possui mais duas OPOs , em Fortaleza e no Cariri.
Banco de Olhos
Instalado na Santa Casa, em setembro do ano passado, mas ainda à espera de autorização do Ministério da Saúde, para começar a funcionar, o Banco de Olhos seria a saída para o aumento no número de doações e transplantes. As córneas captadas em Sobral não precisariam ser transportadas para o Banco de Olhos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), visto que a demora do transporte até a Capital, muitas vezes, causa perda do órgão.
De acordo com o oftalmologista responsável pelos transplantes, Ribamar Fernandes, "cerca de 50% das córneas captadas no município, se perdem durante a viagem por causa da demora, quando a qualidade do tecido ocular fica completamente comprometida. Se tivéssemos o Banco de Olhos funcionando, o aproveitamento dos tecidos seria bem maior", afirmou.
Parceria
O trabalho de parceria da Santa Casa de Sobral e do Hospital Regional Norte (HRN) tem garantido bons frutos, quando o assunto é captação de órgãos e tecidos. Mesmo não sendo referência em traumas, maior responsável pela possível morte encefálica (completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro), o HRN tem contribuído para manter o Ceará entre os primeiros no ranking dos transplantes no País.
Em 2014, quando foi instituída a Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), do HRN, a equipe composta por médico, enfermeiros, assistente social e psicólogo, conseguiu 12 doações, que se somaram às 13 conseguidas pela Santa Casa, ao longo daquele ano.
Visita técnica
Neste ano, o HRN, que realizou três captações de órgãos, recebeu a visita de uma equipe da Central Estadual de Transplantes, e de técnicos do Ministério da Saúde (MS), do Sistema Nacional de Transplantes, que veio conhecer e estrutura do Hospital e saber mais sobre o trabalho da equipe do CIHDOTT. A unidade se coloca na quinta posição, no Estado, em número de protocolos de morte encefálica abertos e de doadores efetivos. É do HRN, também, a segunda posição em efetivação de transplantes, com 40% de sucesso das efetivações (quando a cirurgia é realizada), em relação ao número de notificações registradas, ficando atrás apenas do Instituto Doutor José Frota (IJF), onde se encontra a maior OPO do Estado.
De acordo com os membros da equipe do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), "a visita ajuda a mapear todas as etapas do processo de doação, identificar pontos de necessidade de melhoramento e elaborar protocolos e manuais que sejam implantados com intuito de aperfeiçoar as ações de doação e transplante no âmbito do SNT".
O MS pretende ampliar a qualificação dos serviços, padronização de processos e aumento do número de doadores. A conclusão da visita é que a parceria entre dois hospitais vem otimizando, não apenas o processo de doação e captação de órgãos na zona norte, mas tem contribuído para amenizar a situação de espera dos pacientes que aguardam nas filas de transplantes.
Para o Olon Leite, da CIHDOTT do HRN, "o trabalho da equipe tem sido recompensado com o número de efetivações dos transplantes. A busca, educação e orientação às famílias tem diminuído o tabu que ainda representa a questão das doações de órgãos", revelou.
Segundo o Coordenador da OPO (Santa Casa), Luiz Derwal Júnior, "a atuação da CIHDOTT do HRN, é uma forma de ampliar e uniformizar o trabalho da captação de órgãos para transplantes entre os dois hospitais. Sobral hoje contribui mais com o transplante nas captações de órgãos para o Estado do que os programas isolados por isso é de grande importância essa parceria", concluiu o médico.
Agilidade
Em junho deste ano a movimentação de órgãos e tecidos para a realização dos transplantes no Ceará teve novo um impulso com a cooperação técnica entre a Central de Transplantes do Estado e a empresa de transporte Expresso Guanabara, com serviço 24h. O material é transportado seguindo normas rígidas e protocolos de controle e segurança, como acondicionamento adequado, liberação de envio e horário de saída e chegada à Capital.
A Sesa adquiriu, ainda, um veículo especial para a Central de Transplantes movimentar com mais rapidez, dentro de Fortaleza, as caixas térmicas com órgãos captados para transplantes. Semelhante a uma ambulância, o transporte especial tem sirene e intermitente. O trabalho também atende 24 hora.

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