segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Ações expõem fragilidade de cadeias no Ceará

Prédios deteriorados; celas superlotadas; falta de saneamento; o cenário funciona como uma bomba-relógio, conforme os agentes penitenciários, que temem pela crise instaurada no Sistema (Foto: Diário do Nordeste/Divulgação)
Um grupo armado invade a cadeia pública, põe o agente prisional de joelhos, adentra uma cela e executa dois presos. A 180 km dali, um barulho fora do comum alerta para a existência de um buraco pronto para ser usado em uma fuga. Dois dias depois, a 200Km daquele lugar, não houve a mesma sorte, por assim dizer, e os internos do presídio conseguiram escapar através de um buraco na parede.

Estes casos foram todos divulgados pelo Diário do Nordeste na semana passada. Em comum, traduzem a fragilidade a que está exposto o sistema prisional cearense, em especial, no Interior do Estado.

Somente a cadeia de Viçosa do Ceará, na Serra da Ibiapaba, registrou duas ocorrências em 24 horas. No último dia 27, às 2h da tarde, presos de uma ala incendiaram, com gasolina, colchões de uma cela, da outra ala do Presídio Público do município. Ninguém foi ferido, mas aproveitando o tumulto, seis presos conseguiram escapar, pelo alambrado na parte de trás do prédio; quatro deles foram capturados horas depois.

Apesar da situação ter sido controlada, na segunda-feira (27), às 19h, nova discussão fez com que um grupo voltasse a incendiar colchões, por vingança, provocando novo incêndio, dessa vez com maiores proporções. Durante a briga, mais 11 presos conseguiram arrombar duas celas e fugir pelo muro de trás do prédio, com ajuda de uma ´tereza´ (espécie de corda feita de lençóis).

A Cadeia Pública, que tem 47 anos de instalação, tinha 31 homens, divididos em 15 celas, vigiadas por um agente penitenciário. No momento da segunda fuga, o único agente de plantão, havia saído para jantar. Ele foi informado pelos vizinhos, por telefone, que um novo incêndio havia sido provocado, e vários presos estavam fugindo.

"A situação do presídio é precária, nós ficamos sem segurança nenhuma. Com essa situação de rivalidade, qualquer coisa pode acontecer", disse, preocupado, o agente penitenciário que esteve presente no último conflito naquela unidade.

Problemas

O relato é embasado pelo depoimento de um outro agente, que atua na unidade prisional de Icó, a 358Km de Fortaleza. Ele discorre sobre os problemas que enfrenta no dia a dia para tentar executar seu trabalho em meio à defasagem de efetivo.

"Os problemas são públicos e notórios. Sujeira, trabalhamos expostos às fezes dos presos, não tem saneamento. E falta efetivo. O Estado enfrenta uma crise na questão do Sistema Penitenciário. Temos um sistema frágil, falido. Os presídios são sucateados. Acho que a atual gestão da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) está fazendo o máximo que pode para tentar organizar o Sistema Penitenciário, mas é muito difícil. Há muitas limitações. Faltam recursos para o Sistema", afirmou o agente.

Conforme o profissional que atua em Icó, naquela unidade prisional, os próprios agentes fizeram rateio para comprar equipamentos básicos de trabalho.

"Para evitar a entrada de material ilícito como armas, nós mesmos compramos uma raquete detectora de metal. Como estamos proibidos de fazer revista íntima, e a Sejus não nos enviou bodyscanner ou Raio X, essa foi a maneira que encontramos para poder trabalhar", disse.

O presidente do Sindicato dos Agentes Prisionais do Estado do Ceará (Sindasp/CE), Valdemiro Barbosa, também teceu críticas à atual situação enfrentada pela categoria no Sistema.

"São 139 cadeias públicas no Interior, em média com um agente por plantão, o que é totalmente insuficiente, inadequado. Temos cadeias com 250 presos, inclusive de alta periculosidade. Essas estruturas são inadequadas, pois são prédios construídos para outras finalidades. Temos grandes dificuldades, que têm facilitado a entrada de ilícitos, que é a ausência de equipamentos de segurança. O agente é um gerenciador de crise. Nossa categoria tem muita vontade de trabalhar. Mas do jeito que está, vai estourar, e quem vai ficar no prejuízo é o povo cearense. Quem manda nas cadeias públicas do Interior do Ceará, hoje, é o preso", enfatizou, citando que foram 564 fugas ano passado, contra 268 até junho deste ano.

Fonte: Diário do Nordeste

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