Em 2014, 13.608 cearenses morreram em decorrência de doenças circulatórias, como infarto e, principalmente, o chamado Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo o último responsável por 53% desse total ou 7.2 mil mortes. Isso significa 600 óbitos por mês ou 20 por dia. É a enfermidade que mais mata no Ceará, superando as causas externas, como a violência urbana, incluindo o trânsito, e os diversos tipos de câncer.
Os dados fazem parte do Relatório Situação de Saúde do Ceará, divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), e compreende o período de 2000 a 2014. No primeiro ano da pesquisa, 33,6 mil pessoas morreram no Estado por diversos motivos e, no ano passado, esse número chegou a 51,5 mil. Em particular, o AVC avançou 72,5% em 14 anos. Nessa comparação, o aumento das causas externas em 132,3% no mesmo período foi quase o dobro, saindo de 3,9 mil no primeiro ano e 9,1 mil em 2014. "Inclua aí, a violência urbana e a do trânsito", diferencia o neurologista do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), João José de Carvalho.
Segundo ele, apesar dos números altos, entre 2011 e 2014, o Estado conseguiu reduzir os casos em 14,5%. No entanto, frisa, a doença continua sendo uma grande preocupação dos especialistas de saúde. "Até porque ela pode ser prevenida. Só para se ter ideia, 92% das ocorrências no Ceará foram por fatores comportamentais e estilo de vida e isso pode ser mudado com simples atos", comenta.
O especialista aponta que a obesidade, fumo, ingerir bebidas alcoólicas em excesso, sedentarismo e dieta nada saudável estão entre os fatores de risco, incluindo, ainda, a pressão alta, diabetes e colesterol e estresse crônico. "A recomendação para qualquer pessoa e em todas as idades é, além fazer exercícios regulares, combater a obesidade com dieta saudável, limitar o consumo de álcool, parar de fumar, assim como aprender a reconhecer os sinais de aviso de um derrame e procurar uma unidade especializada imediatamente", indica.
Os cuidados devem partir também da população. Dos pacientes atendidos em Fortaleza desde 2006, 40% tiveram AVC pela segunda vez. "São pessoas que tiveram a doença e ainda assim não se cuidaram", comentou João José. Embora a sigla remeta a um acidente, trata-se de uma doença que pode ser prevenida com o controle dos fatores de risco. A hipertensão arterial é o principal fator, presente em 88% dos casos estudados. A diabetes vem em segundo lugar, com 48%. Colesterol alto, sedentarismo, má alimentação e aumento da gordura abdominal também podem causar o AVC.
Entre os sintomas, estão adormecimento repentino, especialmente de um lado do corpo; dificuldade para falar ou enxergar; perda de equilíbrio ou vertigem e forte enxaqueca sem causa aparente. "O AVC, é bom destacar, também mata mais por ano do que a Aids, a malária e a tuberculose juntas", esclarece.
Prevalência
Pessoas acima dos 55 anos estão na faixa dos mais atingidos. Quanto maior a idade, maior o risco da doença, sendo que os homens têm risco maior do que mulheres. "O derrame ocorre quando uma artéria que leva oxigênio ao cérebro é obstruída por um coágulo de sangue (derrame isquêmico) ou se rompe (derrame hemorrágico). Privadas de oxigênio e nutrientes, as células cerebrais morrem e a gravidade do AVC depende da extensão e da localização do dano produzido", explica.
Respiratório
A exemplo do AVC e infarto, as doenças do aparelho respiratório, como pneumonia e asma, são as campeãs de internações, à frente das patologias infecciosas e parasitárias, como dengue, leishmaniose e hepatite.
João José Carvalho destaca o trabalho realizado. "O Ceará é o único estado da Federação que possui o Programa de Atenção Integral e Integrada ao AVC. E isso tem feito diferença. No entanto, é preciso avançar", frisa.
O programa existe desde 2005 e foi elaborado a partir de estudos para melhor compreender a doença e suas implicações. Em 2007, a iniciativa se tornou política de governo. Dentre algumas ações, como estudos epidemiológicos e notificações compulsórias de todos os casos nos hospitais, houve a criação da Unidade do AVC, no HGF, em atividade desde 2009. "O ideal é que o HGF trate a fase aguda e depois, esse paciente fosse encaminhado para a reabilitação em outra unidade", analisa.
Enfermidades
Além das doenças já citadas, o relatório também chama atenção para outras com números elevados de óbitos. Entre elas, as relacionadas às endócrinas nutricionais e metabólicas, como a diabetes mellitus, desnutrição, obesidade e transtorno da glândula tireoide. Em 2014, 2.756 pessoas morreram vítimas dessas enfermidades. No ano 2000, os registros somaram 1.589.
Algumas afecções originadas no período perinatal chamam atenção. Feto e recém-nascido afetados por transtornos maternos hipertensivos é um desses exemplos que foram a causa da morte de 963 pessoas em 2014.
Segundo o médico Jorge Araújo, a redução do número de óbitos em crianças menores de um ano ainda representa um desafio e um dos problemas de saúde pública prioritários para o sistema de saúde brasileiro, principalmente porque grande parte dessas mortes são consideradas evitáveis.
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