Em nota de repúdio, o Sindicato dos Médicos do Ceará denuncia o sucateamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no Ceará. Na relação dos problemas, as péssimas condições de trabalho, atrasos rotineiros no pagamento das remunerações, falta de segurança, precarização nas relações trabalhistas (contratação sem concurso público), estrutura física das sedes deficientes, ambulâncias trafegando sem manutenção adequada, bem como sem insumos e equipamentos obrigatórios (como luvas, máscaras, oxímetro de pulso, cardioversor, entre outros).
A precarização também afeta o Samu de Fortaleza que, segundo uma fonte que pediu para não ser identificada, ainda enfrenta fato mais grave: técnicos de enfermagem fazendo procedimentos inerentes aos médicos, como atestar óbito, entubar pacientes ou ministrar e injetar medicamentos na veia dos mesmos. "A falta de material coloca em risco os atendimentos. Nesta semana tivemos que levar uma vítima de acidente de trânsito sem o colar cervical, imprescindível nesse tipo de serviço. Além disso, a frota de veículos é velha e muitos nem saem por falta de manutenção", aponta a fonte.
No documento, a entidade diz que o objetivo é sensibilizar a população e os órgãos competentes sobre a importância do serviço que "já provou seu inestimável valor à comunidade cearense e cujos profissionais esforçam-se para manter a esperança de salvar vidas em qualquer hora e lugar". A direção do Sindicato ainda alerta que a questão de o Samu não possuir orçamento próprio para custeio é base para outras questões e os constantes atrasos dos salários.
Um funcionário do Samu, que prefere não se identificar, garante: o problema é antigo e resultado do sucateamento da frota de ambulâncias. Em outubro de 2011, por exemplo, o Diário do Nordeste mostrou o caso da ciclista Darleide Nascimento, que foi atropelada por um carro quando trafegava no cruzamento das ruas Joaquim Nabuco com Dom Expedito Lopes. Ela esperou atendimento por uma hora. O médico que na época era o coordenador de urgência e emergência da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Alex Mont'Alverne, passava pelo local no momento, socorreu a vítima e constatou a demora.
Atrasos
O atual titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Henrique Javi, nega a situação de precariedade e diz que o Samu presta serviço de qualidade à população. No entanto, reconhece que houve atrasos no pagamento da remuneração dos servidores e garante que o débito já foi quitado. "Conversamos com eles no sábado passado e tudo ficou esclarecido. Portanto, os salários dos profissionais do Samu 192 Ceará estão rigorosamente em dia. O único débito que existia foi pago na última segunda-feira, 3 de agosto", garante. A Sesa, salienta, mantém o atendimento móvel em 130 municípios, assegurando à população o serviço 24h, todos os dias da semana, com uma frota de 109 ambulâncias. As unidades do serviço contam com insumos para a efetiva operacionalização. Antes de 2008 só havia o serviço em dois municípios: Sobral e Fortaleza.
Ele destaca ainda que parte dos recursos de R$ 131 milhões garantidos pelo Ministério da Saúde para o Ceará será destinado ao Samu. Javi lembra do Comitê Estadual de Atenção ao Acidente Vascular Cerebral, lançado recentemente. O aplicativo, afirma, inédito e pioneiro no País, vai permitir o pronto reconhecimento de pacientes com AVC e a comunicação imediata com o Samu 192.
Em 2014, o serviço foi acionado 105,2 mil vezes, sendo 94.142 atendimentos pela base regional do Eusébio e 11.141 pela base regional de Juazeiro do Norte.
Classificação
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou, por meio de nota, que cada registro passa por análise dos técnicos, recebendo a classificação de gravidade para envio do socorro. Já nas demais emergências, é enviada uma ambulância básica com socorristas e técnicos de enfermagem. Há também motolâncias.
A frota diária disponível do Samu, de acordo com a SMS, é de 18 viaturas de suporte básico, quatro motolâncias e quatro viaturas de suporte avançado. Diz ainda que todos os veículos são compostos por materiais recomendados pelo Ministério da Saúde e necessários para o funcionamento do serviço.
Por fim, a Secretaria Municipal de Saúde também coloca que o Samu passa hoje por reestruturação e reforma na estrutura física central, criando seis bases descentralizadas, uma em cada regional. Também está em curso processo licitatório para contratação de pessoal administrativo e solicitação de concurso público.
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