Brasília. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou, ontem, que qualquer partido tem o "direito democrático" de pedir sua saída, mas que não pretende se afastar. "Eu não farei afastamento de nenhuma natureza. Vou continuar exatamente no exercício pelo qual eu fui eleito pela maioria da Casa. Estou absolutamente tranquilo e sereno com relação a isso", declarou o peemedebista.
Na iminência de ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por envolvimento no escândalo de desvios na Petrobras (corrupção e lavagem de dinheiro), o parlamentar ainda reagiu a um ofício da PGR encaminhado ao PSOL em que o órgão nega que investigações realizadas na Casa tenham tido acesso aos computadores dos 513 deputados.
O PSOL havia encaminhado um pedido de explicações a Janot com base num relato de Cunha de que a ação feita na Câmara vasculhou dados de todos os parlamentares.
No documento enviado ao partido, Rodrigo Janot diz não só que é inverídica a informação, como classificou a afirmação de Cunha aos líderes partidários de "no mínimo leviana". Na ocasião, a ação na Casa foi solicitada pela PGR e autorizada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
No dia 4 de maio, Teori Zavascki autorizou que um oficial de Justiça se encaminhasse ao Departamento de Informática da Câmara para retirar cópias que pudessem comprovar a autoria de Eduardo Cunha em um requerimento que poderia auxiliar nas investigações referentes ao suposto envolvimento do presidente da Câmara.
Janot respondeu que a ação teve como foco Cunha e a ex-deputada federal Solange Almeida (PMDB-RJ). "A leviandade da declaração reside no fato de que tenta usar como escudo a instituição Câmara dos Deputados - e, pela via da desinformação, seus pares - para atacar o Ministério Público Federal, embora a crítica à diligência seja de interesse exclusivo para a defesa do deputado Eduardo Cunha", declara Janot no ofício enviado ao líder do PSOL, Chico Alencar (RJ).
Após o PSOL divulgar o conteúdo do ofício, Cunha imediatamente veio a público dizer que recebeu do corpo técnico da Casa a informação de que houve coleta de dados dos 513 deputados e que solicitou a certificação da informação para demonstrar que fala a verdade.
"Se ele (Janot) desprezou os dados e utilizou o que interessava, não significa que quando fizeram a busca e apreensão aqui não coletaram todos os dados. Eles pegaram o sistema inteiro. Isso me foi falado pela área técnica", afirmou.
Eduardo Cunha avisou que responsabilizará a área técnica se a informação for incorreta e que poderá pedir eventualmente desculpas. Ele defendeu o respeito entre os Poderes e afirmou que não vai "bater boca com quem quer que seja".
Ele negou que, devido à denúncia, fará qualquer retaliação, como possível aceleração de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Não misturo meu papel de presidente da Casa com eventuais situações que possam envolver minha pessoa. Não faço papel de retaliação, nem tomo atitude por causa de atitude dos outros".
Manifesto
Um grupo de deputados contrários ao presidente da Câmara redigirá um manifesto solicitando a saída do peemedebista do comando da Casa tão logo Janot apresente a denúncia contra ele ao STF. A PGR deve denunciar, hoje, Cunha e o ex-presidente da República e senador Fernando Collor (PTB-AL) por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. A informação foi confirmada ontem por fonte com acesso às investigações.
"Sou favorável que ele se afaste tão logo a denúncia seja feita", disse a deputada federal Eliziane Gama (PPS-MA).
Doze deputados do PT, PSB, PSOL, PSC e PPS reuniram-se por mais de uma hora na liderança do PSOL para tratar do assunto. "Percebo que a manutenção do Cunha na presidência da Câmara pode ser ruim para a Casa", afirmou a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Caso o STF acate a denúncia, o PSOL promete ir além, ingressando com uma representação no Conselho de Ética da Câmara solicitando a cassação de Eduardo Cunha por quebra de decoro parlamentar.
Na primeira reunião da CPI da Petrobras após a apresentação da denúncia, os deputados farão pressão para que sejam convocados Cunha e o lobista Julio Camargo, que acusou o peemedebista de cobrar propina de US$ 5 milhões no esquema de corrupção que envolve a estatal.
"Eduardo Cunha está fragilizado. A denúncia fragiliza a lógica de Cunha de se defender atacando o governo", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
Para o deputado, ele tem que se afastar do cargo para não interferir nas investigações. "Ele tem poder de atrapalhar as investigações", disse Valente.
O parlamentar diz que é preciso observar como os aliados de Cunha irão se portar após a apresentação da denúncia.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem não acreditar que uma eventual apresentação de denúncia contra Cunha afete as relações do governo com o Congresso.
Pedido negado
O ministro Zavascki rejeitou o pedido de Cunha para retirar da Justiça Federal do Paraná a ação em que ele é citado. Com isso, o caso que é conduzido pelo juiz federal Sergio Moro não terá atos anulados.
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