Munidas da vontade de preservar os costumes ancestrais que os chamados "troncos velhos" ou "guardiões da memória" mantiveram até a geração delas, quatro etnias de índios no Ceará resolveram registrar um dos projetos mais recentes de reafirmação cultural desenvolvidos, o "Raízes Indígenas". Para tal, apropriaram-se do audiovisual e, sós ou com convidados, produziram quatro documentários, acompanhando o aprendizado dos jovens índios nos antigos ofícios da tribo.
Assim foi promovido o encontro entre as gerações: durante dois anos, antigos artesãos e mestres indígenas repassaram o trabalho com as tipologias tradicionais deles (sementes, palha, coco, madeira e barro), assim como buscaram desenvolver o empreendedorismo - com base na economia solidária para manter todos envolvidos com a cultura - e garantir a sobrevivência de todos.
"Os nossos objetivos foram extrapolados, pois este projeto foi além do que pensamos. Resgatamos algumas tipologias que nem estavam mais sendo trabalhadas. Muitos dos jovens se envolveram mais com nossas lutas. E os documentários são para evidenciar como foi o impacto deste projeto", conta Weibe Tapeba, que está à frente da Coordenação das Organizações e Povos Indígenas do Ceará (Copice), sem sequer ter visto o resultado das gravações.
Ainda inéditas até para as comunidades onde foram gravadas - exceto para parte dos Tapeba, responsável pelos documentários deles -, as cenas foram guiadas espontaneamente pelos membros das aldeias, os quais indicaram onde as imagens deveriam ser feitas, quem seriam os entrevistados pelos realizadores e até o horário - pois já manjam também de iluminação e filmagem como conta Weibe. Mas reservaram a eles o direito de não conferir o resultado final. Os demais só vão assistir os documentários no lançamento.
Primeira exibição
Realizados em menos de um ano, a primeira exibição dos documentários acontece amanhã, no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, quando também haverá debate com os realizadores do projeto, ou seja, o grupo tapeba e mais dois diretores convidados. Um deles, Glênio Mesquita, conta do "medo bom" de ter o trabalho apresentado às etnias sem que elas tenham visto a obra antes.
"A gente fica esperando que eles opinem sobre o que deve ou não ficar (na edição), mas foi uma decisão deles e também respeitamos", pondera, falando da aposta que fez na montagem do filme: "o mais rico que achei foi é a importância dada pelos jovens a esta aproximação com os mais velhos, pois viram o quanto os 'guardiões da memória' fizeram por eles todos".
Os ensinamentos que proporcionaram esta aproximação também foram destacados pelo coordenador das Organizações e Povos Indígenas do Ceará ao contar, orgulhoso, do envolvimento atingido por alguns dos participantes e que deve gerar mais ações de valorização cultural em um futuro muito próximo.
Após a sessão de domingo - na qual as etnias Kanindé, Genipapo Kanindé, Pitaguary e Tapeba prometem ocupar todo o auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura - Weibe conta que deve promover a exibição dos documentários em cada uma das comunidades envolvidas no projeto, assim como na 20ª Assembleia dos Povos Indígenas do Ceará, em Itarema, de 10 a 13 de setembro deste ano.
Outro plano dele é promover uma exposição do catálogo produzido no "Raízes Indígenas" ao longo dos dois anos de projeto e no qual constam imagens e textos sobre as principais manifestações da cultura indígena do Ceará.
"Acredito que o material (os quatro vídeos e a publicação impressa) deva servir para preservar a nossa memória e também no uso acadêmico, por isso vamos encaminhar exemplares para as comunidades", afirma.
Mais informações:
Os documentários coproduzidos pelas etnias indígenas serão exibidos amanhã (30), às 18h, no Auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Rua Dragão Mar, 81, Praia de Iracema)
Contato: (85) 3488.8600
Contato: (85) 3488.8600
Nenhum comentário:
Postar um comentário