segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Caminhada alerta para a importância da doação

Na ocasião, foram distribuídos panfletos sobre a Campanha Doe de Coração para conscientizar a população sobre o assunto. Para ser um doador de órgãos, basta comunicar este desejo a parentes e amigos ( Foto: José Leomar )
Profissionais e estudantes da área da saúde, pessoas transplantadas e pacientes que estão na fila de espera por uma doação saíram em caminhada, ontem, na Avenida Beira-Mar, chamando a atenção para a importância do ato de doar órgãos e tecidos.
Ainda cedo, por volta das 7h, o grupo começou a se formar, em frente ao prédio do antigo Hotel Esplanada e seguiu até a Praça dos Estressados, na Volta da Jurema. Os participantes carregavam faixas, vestiam camisas alusivas ao tema e distribuíam panfletos informativos sobre a Campanha Doe de Coração.
Conforme a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, o movimento buscou sensibilizar a população para a causa. "Esta caminhada já é tradicional. Todos aqui estão exaltando os valores de solidariedade, reciprocidade e amor ao próximo, mostrando os benefícios que os transplantes causam", salienta.
A aposentada Ana Maria Costa, de 69 anos, conta que é a paciente mais velha, no Estado, da fila de espera por um pulmão. Ela aguarda há um ano e dois meses e hoje respira com a ajuda de aparelhos.
"É preciso conscientizar as pessoas de que órgão não precisa ser enterrado. É vida para pacientes como eu e outros tantos. Um doador salva até sete vidas. Vamos dar oportunidade a quem precisa e quer viver", defende, dizendo-se confiante no sucesso de seu procedimento.
Quem já passou pelo período de incertezas e hoje se encontra transplantado, demonstra satisfação pela chance que recebeu e gratidão a quem teve a iniciativa de disponibilizar órgãos para doação. É o caso de Raimundo Saraiva, que diz levar hoje uma vida normal, após receber transplante de fígado há sete meses. Ele ficou cerca de dez anos à espera de um doador.
"Foi difícil, porque a gente fica naquela dúvida: será que quando aparecer eu ainda estarei aqui? Mas, graças a Deus, conseguimos. Agradeço muito à família do doador e peço às pessoas que comuniquem às suas famílias o desejo de doar. É importante saber que o seu parente continua vivo em alguém", ressalta Raimundo.
A estudante Ana Beatriz Andrade, de 20 anos, que cursa o 4º semestre de Medicina na Universidade de Fortaleza (Unifor), diz que defende a causa da doação desde que entrou na faculdade.
"A caminhada é uma forma de tirar da invisibilidade este tema. Muitos pacientes melhorarão a qualidade de vida, viverão mais dez anos ao lado de seus entes, caso outras pessoas manifestem o desejo de doar seus órgãos. Ainda há uma certa resistência, por falta de conhecimento, e esse tipo de campanha é importante para informar a população", explica a estudante.
O Ceará tem 1.105 pacientes na fila de espera por transplantes. A taxa de recusa familiar é considerada elevada, 44% dos casos, sendo o principal obstáculo para ocorrer a doação.
Movimento
A Fundação Edson Queiroz promove, há 13 anos, a Campanha Doe de Coração, buscando sensibilizar a sociedade para a doação de órgãos e tecidos, por intermédio dos meios de comunicação. A ação tornou-se referência nacional e é reconhecida pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), tendo contribuído para tornar o Estado do Ceará um dos maiores doadores do País.
Opinião do especialista
Marcha sensibiliza a sociedade
Esta é a caminhada da vida. É o resultado gerado por aqueles que, na hora da perda de um ente querido, tiveram a solidariedade de dizer o "sim" para a doação de órgãos e tecidos.
Vale a pena salvar vidas. Nunca se sabe o dia de amanhã e qualquer um pode, em certa etapa da vida, estar na fila de espera para um transplante. Passei sete meses e sete dias na "fila da agonia".
O primeiro transplante de fígado no Estado ocorreu em 18 de maio de 2002. Em 2003, tive a oportunidade de receber o transplante, sendo o décimo do Ceará. A Campanha é necessária e tem que ser permanente, para sensibilizar a sociedade. A família, ao saber que você em vida disse que queria ser um doador, irá respeitar sua decisão e autorizar a doação.
Wilter Ibiapina
Presidente da Associação Cearense dos Pacientes Hepáticos e Transplantados

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