Sobral. Conhecido como Setembro Verde, o mês é lembrado pela campanha nacional de conscientização da doação de órgãos. Neste município, o Hospital Regional Norte (HRN) preparou uma série de atividades desde ontem, se estendendo até amanhã (26), com o Curso Sobre Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, a ser realizado no auditório do Centro de Estudos e Pesquisa do próprio hospital.
Entre os temas abordados, os participantes poderão saber mais sobre como funciona o Banco de Olhos de Sobral (instalado na Santa Casa de Misericórdia), e o transplante de córneas; além do processo de doação e transplantes, e a situação no Estado e no Brasil; identificação, avaliação e manutenção do potencial doador; diagnóstico de morte encefálica; a abordagem durante a entrevista familiar; como cada religião trata o tema; como a imprensa trabalha suas pautas e reportagens sobre a doação; e o depoimento de pacientes e familiares de doadores.
De acordo com o coordenador da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes, do Hospital Regional Norte (CIDOHTT), Olon Leite, há uma preocupação em difundir o tema entre estudantes da rede pública.
"Além do curso, nós estaremos realizando, na última semana de setembro, eventos relacionados a esse assunto nas escolas de Sobral, para orientar sobre a importância da participação de toda a população nas discussões sobre esse tema. Vamos abranger todos os pontos importantes relacionados ao processo do transplante, como determina o Sistema Nacional de Transplantes", disse.
Notificações
No ano passado, a Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) recebeu 152 notificações de potenciais doadores de órgãos e tecidos dos hospitais notificantes do Interior do Estado, o que representa 24,4% de todas as 623 notificações registradas no Ceará. Desse total, 65 foram feitas pelo Hospital Regional do Cariri, 53 pela Santa Casa de Sobral e 30 pelo Regional Norte.
Naquele ano, os hospitais do interior efetivaram 20% dos 220 potenciais doadores notificados no Estado, com 19 no HRC, 13 na Santa Casa de Sobral e 12 no HRN. Neste ano, os hospitais do Interior já fizeram 84 notificações de potenciais doadores, sendo 34 pelo HRC, 30 pela Santa Casa de Sobral, 17 pelo HRN e, os demais, pelos hospitais São Raimundo, São Vicente de Paulo e Santo Antônio. Já são 23 doadores efetivos neste ano, 11 do HRC, sete da Santa Casa de Sobral e cinco do HRN.
Com palestras abordando a metodologia de entrevista familiar e estratégias de manutenção do potencial doador, foi realizado, na segunda-feira passada, em Fortaleza, o 2º Encontro dos Coordenadores Intra-hospitalares de Transplantes do Estado do Ceará, que reuniu representantes dos 18 órgãos que compõem o Sistema Estadual de Transplantes. O Estado conta com 62 hospitais notificantes de potenciais doadores, públicos, privados e filantrópicos, cadastrados no Ministério da Saúde.
Dessas 18 formalizadas no Ceará, 14 delas funcionam em Fortaleza, duas em Sobral e duas no Cariri. As UPAs 24 horas também fazem a notificação de potenciais doadores de órgãos e tecidos por meio das unidades hospitalares notificantes.
Processo
O profissional que lida essa questão realiza avaliação das condições clínicas do potencial doador, da viabilidade dos órgãos a serem extraídos e faz entrevista para solicitar o consentimento familiar da doação dos órgãos e tecidos. O processo de doação inicia com a identificação e manutenção dos potenciais doadores. Em seguida, os médicos comunicam aos familiares a suspeita da morte encefálica, além de realizar os exames comprobatórios do diagnóstico, notificar o potencial doador à Central de Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), e à Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do Estado, que repassa a notificação à CIHDOTT. Se houver recusa do ato de doação, por parte dos familiares, o processo é encerrado.
As atividades do Setembro Verde acontecem em um momento em que o País experimenta uma retratação das doações e dos transplantes, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), que pela primeira vez, desde 2007, registra diminuição na taxa de potenciais doadores, de doadores efetivos e no número de transplantes de rim, de fígado e de pâncreas, em relação ao ano anterior.
Os registros no Ceará apontam, de janeiro a junho deste ano, 64 recusas familiares (43%) em 150 entrevistas para captação de doadores de órgãos e tecidos realizadas no semestre. No período, foram notificados 260 potenciais doadores. Desses, 84 foram doadores efetivos e 77 tiveram órgãos transplantados. De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), em edição relativa ao primeiro semestre de 2015, "a taxa de notificação de potenciais doadores, que foi de 49 por milhão da população em 2014, com previsão para esse ano de 53,5 (aumento de 10%), está sendo frustrada pela taxa obtida de 46,5. A taxa de efetivação está estagnada em 29%, enquanto que a esperada é de 32%, para obtenção de 17 doadores efetivos por milhão de habitantes, esse ano. A taxa de doadores efetivos obtida foi 21% abaixo da taxa esperada", afirma o documento. Ainda conforme a publicação, "a elevada taxa de recusa familiar à doação (44%) persiste como o principal obstáculo para a efetivação da doação na maioria dos Estados".
Em 2014, o Estado registrou um novo recorde de transplantes de órgãos e tecidos, com a realização de 1.399 procedimentos. Neste ano, até 16 de setembro, foram realizados 188 transplantes de rim, três de rim/pâncreas, 13 de coração, 132 de fígado, um de pulmão, 48 de medula óssea, 550 de córnea, oito de esclera (parte branca do olho) e oito de válvula cardíaca.
No total, foram realizados, neste ano, 951 transplantes. Também foram capacitados, no mês de junho, profissionais de 17 hospitais públicos e particulares e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24h, por meio do XIII Curso de Coordenadores Hospitalares de Transplantes.
Importante aliada nessa conscientização, a Campanha Doe de Coração, realizada desde 2003 pela Fundação Edson Queiroz, vem levantando a bandeira da doação de órgãos e tecidos. A iniciativa, que se tornou referência no País, inclusive com reconhecimento da ABTO, contribui para a doação voluntária no Ceará. Tradicionalmente no mês de setembro, o movimento busca sensibilizar a sociedade através dos meios de comunicação, atingindo diversos segmentos, em especial a rede de saúde pública e privada, além de grandes agentes, com anúncios em jornal, inserções em TV aberta e fechada e distribuição de camisas
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