Todos os anos, centenas de casais se divorciam. Mas como lidar com os conflitos que envolvem uma separação judicial sem prejudicar os filhos? Nesse momento doloroso, muitos casais acabam usando as crianças para chantagear um ao outro como forma de vingança. Os mesmos que deveriam protegê-los, são os primeiros a usá-los nesse momento de ruptura. Pelos trâmites legais, a Justiça consegue resolver o processo, definindo dias de visitas e pensão alimentícia, mas não tem como assegurar a paz e o diálogo entre os dois.
Para tentar fazer com que esse processo seja conduzido de forma harmoniosa e equilibrada, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) realiza, duas vezes por mês, a oficina "Pais e filhos". "Muitas vezes, as partes não sabem como funciona essa família diferenciada, com o filho tendo de conviver com ambos. Essa convivência deve ser a mais saudável possível. Quando isso não acontece, afeta diretamente os filhos", adverte a juíza Natália Almino Gondim, coordenadora do Centro Judiciário de Soluções e Conflitos e Cidadania do Fórum Clóvis Beviláqua.
Emoções
A magistrada acrescenta que muitos saíam da audiência chateados. "Aparentemente, o conflito estava resolvido. Por trás de tudo aquilo, no entanto, há muita coisa. Mas não cabe à Justiça, dentro de um processo, trabalhar as emoções", esclarece.
Cada turma tem a sua metodologia própria. Através de fotos, vídeos, dinâmicas e um manual, eles podem visualizar a melhor forma de conduzir a vida a partir dali. O casal fica em turmas separadas, mas as salas são mistas. Dessa forma, explica a juíza, os participantes acabam ouvindo depoimentos de pessoas que passam por situações semelhantes e se identificam.
"Ele não escuta mais a mulher e nem a mulher escuta mais o homem, então, ali é onde eles têm oportunidade de se verem no lugar do outro", explica. Os resultados são surpreendentes. Conforme a magistrada, as oficinas melhoram as relações, fazendo da separação um momento menos traumático.
"Pacificar a família é uma atividade complementar ao processo judicial extremamente necessária. Não adianta chegar ao fim do processo e, quando sair dali, o casal parental não se comunicar", destaca a juíza. Os encaminhamentos à oficina ocorrem principalmente nos casos mais complexos, nos quais a disputa de guarda se torna grave.
Quando vão para a audiência depois de passar pela oficina, o casal sabe da importância de uma guarda compartilhada, de ter um pai e uma mãe na relação dos filhos, das referências familiares, afirma a psicóloga Gleiciane Vam Dam, responsável pelo treinamento das facilitadoras e pela coordenação dos eventos. "Eles trazem essa questão de outra forma, não ficam com aquelas brigas conjugais de vingança um com o outro onde quem mais perde é a criança, que fica sem o apoio do pai e da mãe, psicológico e afetivo", diz.
Processos
O projeto começou em julho do ano passado. Cada oficina tem em média 15 a 20 processos. O número de participantes varia conforme o número de filhos de cada casal. A última oficina aconteceu no dia 16 deste mês. A próxima não tem data definida.
Celecina Veras Sales, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Idade e Família (Negif), observa que os filhos sempre querem ver os pais juntos. Contudo, em sua visão, não adianta insistir quando não é mais possível. "É muito melhor um casal que vive em conflito se separar do que continuar em pé de guerra. Os filhos sofrem muito mais quando veem brigas cotidianas", alerta.
Mais informações
Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania
(85) 3492.8030
(85) 3294.8032
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