quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Vítimas buscam superar mutilações

Os traumas são causados, geralmente, por conta da violência no trânsito, que tem recrudescido nas grandes cidades do interior do Ceará e a motocicleta tem sido a maior causadora de acidentes ( Fotos: Marcelino Júnior )
Sobral. Há quase um ano, a servidora pública Juraci Machado Pinto conduzia a irmã numa motocicleta, no Centro da cidade, quando, ao passar por um cruzamento, foi fechada por outro motociclista. O impacto da batida quebrou o joelho da jovem em duas partes. Iniciou-se, a partir daí, uma verdadeira "Via Crucis" em busca de recuperação. Desde janeiro deste ano, Juraci vem se submetendo a um cuidadoso e demorado tratamento de fisioterapia.
Aos poucos, a muleta foi sendo deixada de lado, assim como a dor, que vai desaparecendo aos poucos, com o esforço e a dedicação ao tratamento de saúde, que faz de duas a três vezes por semana, dependendo da avaliação do ortopedista.
O acidente, não apenas mudou a rotina de Juraci, mas a afastou do trabalho que acabara de conseguir. A licença médica, que a mantém afastada do emprego, já dura dez meses. Enquanto se exercita num dos aparelhos do Centro de Reabilitação de Sobral, para fortificar as articulações do joelho, Juraci afirma que não ficou com nenhum trauma emocional do acidente, mas sabe que as sequelas físicas a acompanharão por muito tempo. "Apesar da dor, eu já tenho conseguido andar quase normalmente; inclusive, por conta da necessidade, eu ainda me desloco, sendo levada de motocicleta. Apesar do esforço no tratamento, eu sei, também, que as sequelas vão me trazer limitações daqui para a frente", disse.
Num outro canto da sala de fisioterapia, o estudante Daniel de Oliveira dos Reis pedala num equipamento para fortificar o tornozelo direito, que fraturou num acidente parecido com o de Juraci. A moto que ele conduzia se chocou com outra, quando o segundo condutor avançou a preferencial num cruzamento, causando a batida, em fevereiro deste ano. Por conta da grande procura por tratamento de traumas no município, o jovem ficou dois meses a espera de vaga. Enquanto se esforça para voltar a andar normalmente, o estudante se prepara para enfrentar, ainda, uma maratona de vinte, das trinta sessões programadas para ele; sem falar no pino e na haste, implantados permanentemente no local da fratura. "O acidente me fez pensar o quanto algumas pessoas são irresponsáveis no trânsito. A imagem da batida ainda me marca, sem falar na demora do tratamento e na dor causada pelo esforço para voltar a andar com confiança", disse.
Reabilitação
Hoje, Juraci e Daniel fazem parte, não apenas do grupo de pessoas atendidas pela fisioterapia do Centro de Reabilitação de Sobral, mas também dos dados estatísticos da instituição, criada em 2010, e que recebe em média 200 pacientes por mês. Destes, 40% são vítimas de acidentes de motocicleta ou bicicleta, meio de transporte muito comum na cidade. Depois de encaminhados ao Posto de Saúde da Família, essas pessoas chegam ao Centro de Reabilitação, por meio de triagem, para atendimento multidisciplinar, que envolve, além da Fisioterapia, Ortopedia, Fonoaudiologia, Psicologia, Enfermagem, Neurologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social, num trabalho divido em três turnos, de 7h às 18h.
Para Hially Linhares Lima, coordenadora de Fisioterapia do Centro, "o número de mulheres normalmente chega à metade do total de homens que atendemos aqui. Os traumas são causados, geralmente, por conta da violência no trânsito; e a moto tem sido a maior causadora desses acidentes. Vale lembrar que o tratamento pode ser demorado, e trazer dor, que deve ser vencida com muito esforço do paciente para obter os resultados desejados na recuperação, que ainda pode deixar a pessoa com certas limitações, dependendo do caso", alertou.
Mortes
Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE), de junho deste ano, o município é o terceiro, em número de veículos circulando no Estado, com pouco mais de 79.500. Destes, 39.200 são motocicletas. Em segundo, no ranking, vem Juazeiro do Norte, com quase 99.400 veículos; e Fortaleza, em primeiro, que contabiliza impressionantes 978.624 veículos.
No ano passado, em Sobral, das 201 mortes por causas consideradas externas, 27,86% foram por acidentes de trânsito e transporte urbano. Os números apontam aumento de 30,7% entre os anos de 2007 e 2014, passando de 43 para 56 óbitos. Essas mortes ocorreram entre pessoas com idades de 15 a 39 anos, o que representa 55, 6% do total de vítimas. Os homens continuam liderando as maiores taxas de mortalidade, chegando a apresentar risco de 4,7 vezes maior que as mulheres, no mesmo período. Num trabalho de parceria com o município, a Vigilância de Violências e Acidentes em Serviços Sentinela (VIVA Inquéritos), do Ministério da Saúde, que coleta dados e gera informações que vão subsidiar políticas públicas direcionadas a prevenção, registrou, em setembro do ano passado, na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, 1.875 atendimentos de traumas (referência do Hospital); destes 49,7% (931 atendimentos) tiveram o trânsito como causa.
A maior proporção destes acidentes, afirma o levantamento, ocorreu entre adultos jovens, entre 20 a 39 anos. As vítimas mais frequentes foram os condutores (705 atendimentos), sendo a motocicleta o meio de locomoção mais utilizado, com 718 atendimentos. Desse total, apenas 263 pacientes afirmaram estar usando o capacete no momento do acidente.
Mais informações:
Coordenadoria de Trânsito e Transportes Urbanos: (88) 3614-8813
Centro de Reabilitação de Sobral: (88) 361312-21

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