quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Deputadas discordam do Partido da Mulher

A deputada Aderlânia Noronha diz que não há consistência ideológica na criação do PMB e alega que já há número elevado de siglas no País ( FOTO: FABIANE DE PAULA )
A criação do 35º partido brasileiro (e que deve usar o número 35 nas eleições municipais do próximo ano), oficializado nesta semana, não foi vista com bons olhos pelas deputadas estaduais cearenses. Conforme as parlamentares disseram ao Diário do Nordeste, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) já nasce com um ideal segregador ao justificarem que a luta pelos direitos das mulheres deve ser abraçada pelas demais siglas.
A criação de uma nova legenda na federação também foi criticada sob o argumento de que muitos dos novos partidos têm como objetivo apenas servir de legendas de aluguel para negociações políticas. O PMB teve seu registro aprovado na última terça-feira por ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após atender a todas as exigências necessárias, contando com a apresentação de mais de 500 mil assinaturas de apoiamento.
Presidido por Suêd Haidar, o partido não se considera feminista, mas diz defender a igualdade de gênero e ser contra a desigualdade salarial existente entre homens e mulheres. Uma das principais bandeiras é a maior participação feminina na vida pública, o que também é defendido, no discurso oficial, pelas demais siglas partidárias, embora muitas lideranças partidárias reconheçam que o machismo ainda vigora nas agremiações.
Aborto
A presidente do Partido da Mulher, Suêd Haidar, já se declarou contra a legalização do aborto e a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A deputada Silvana Oliveira (PMDB) foi enfática ao declarar que o novo grêmio, que já tem diretório no Ceará, é excludente. A peemedebista, que tomou conhecimento da criação do grêmio ainda ontem, afirmou que o PMB já foi gestado de forma excludente, uma vez que sua luta é específica e não deveria ser defendida apenas por uma sigla.
"A causa da mulher não deve ser fruto da ideia de um movimento apenas. Todos os partidos lutam em defesa dos direitos da mulher, uns mais e outros menos, mas isso é uma demanda que deve ser de todos", defendeu a deputada.
Silvana Oliveira ressaltou ainda que seu partido tem um setorial denominado PMDB Mulher, que é ativo e tem encontros cotidianos, com vistas a melhorar a participação da mulher na sociedade brasileira. "Os direitos da mulher enquanto cidadã política devem ser garantidos entre todos os partidos. Eu jamais entraria em um partido que se credencia excluindo outros movimentos. Escolhi o PMDB e acho que ele me acolhe bem, apesar de guardar minhas críticas", ratificou a peemedebista.
A parlamentar ressaltou ainda que, com a criação do PMB, abre-se um precedente para que outros partidos "excludentes" sejam criados. Silvana reforça que essa não é uma causa que deve ser defendida exclusivamente por uma sigla.
A petista Rachel Marques segue na mesma linha de Silvana, ao afirmar que o País precisa de partidos com ideologias fortes e claras, com participação das mulheres em todos os setores.
Reserva
O PT, por exemplo, reserva 50% dos seus cargos de direções para as mulheres, equiparando assim a participação dos gêneros na sigla. "O que me preocupa é que as mulheres fiquem restritas a um partido pequeno. Não sou contra a criação de um partido, mas me preocupa se esse partido vai ser caracterizado como único partido para tratar dos assuntos das mulheres. Precisamos garantir a participação em todos os partidos", ressaltou.
Para Marques, é preciso aumentar participação das mulheres em outras legendas e não restringir a defesa de direitos femininos em uma só sigla. A opinião dela é compartilhada pela colega Aderlânia Noronha (SD). "Para a mulher ter espaço não precisa de um partido direcionado apenas para essa causa", disse Noronha, que é contra a proposta de cotas para participação feminina nas casas legislativas.
"Esse partido foi criado em cima de uma base sem necessidade. Acho, inclusive, que em nossa federação já temos partidos demais. Muitos deles são criados apenas para fazer negociações, sem nenhuma ideologia", apontou Aderlânia Noronha.
Fernanda Pessoa (PR), que geralmente leva à tribuna da Casa temas relacionados à luta das mulheres, afirmou que todos os partidos já tratam do tema dos diretos das mulheres, tendo até setores responsáveis apenas para esse assunto.
"Acho desnecessária a criação desse partido, até pela quantidade de partidos que temos hoje. Nós, do PR Mulher, sempre fazemos encontros e procuramos contribuir com políticas públicas voltadas pra as mulheres", alegou. Para a republicana, um partido não deveria ser criado com esse intuito, o que pode contribuir para o surgimento de outras agremiações com visões que possam ser segregadoras.

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