Iguatu O esforço do governo estadual para encontrar água no subsolo do sertão cearense para enfrentar a crise hídrica nos centros urbanos e áreas rurais resultou na ampliação de modelos de contratação de empresas privadas, compra de máquinas perfuratrizes e a busca de consórcio com os municípios. Em novembro, o Estado vai adquirir 19 máquinas perfuratrizes, por meio de um pregão eletrônico, com ata de registro de preço, para que sejam geridas por consórcios municipais, diminuindo a demanda regional, segundo informação do secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira.
A situação vem se agravando no Interior. A demanda por água é cada vez mais crescente e os açudes estão secando. O cenário torna-se mais grave com a perspectiva de o Estado enfrentar, em 2016, o quinto ano seguido de chuvas abaixo da média.
"Vamos adquirir as 19 máquinas perfuratrizes, por meio de um pregão eletrônico. Queremos aproveitar um modelo gerencial que vem dando certo na Saúde", destacou Francisco Teixeira. A medida tem por objetivo atender antiga reivindicação de prefeitos que reclamam atraso na perfuração e instalação de poços profundos. Outras ações em curso referem-se à contratação de empresas privadas para perfuração de novos poços, instalação de mais de 900 já perfurados, construção de chafarizes e aquisição de dessalinizadores para permitir uso daqueles que apresentarem água salobra.
Dessalinizadores
Cerca de 80% do subsolo do sertão cearense tem como substrato as rochas cristalinas, que além de desfavorecer o acúmulo de água, isto é, há quantidades reduzidas, apresentam problema de qualidade, com excesso de sais. Daí a necessidade de ampliar e melhorar os estudos geológicos para reduzir a quantidade de poços perdidos por vazão insuficiente e de aquisição de dessalinizadores para viabilizar o consumo da água oriunda do lençol freático.
O titular da pasta, Francisco Teixeira, reafirmou o compromisso do governo em adquirir mais dessalinizadores e colocar em funcionamento outros equipamentos. Onde a unidade é instalada, a comunidade fica responsável pela manutenção e por cuidados com o funcionamento, e há uma cobrança simbólica para o consumo da água sem sal, com objetivo de formar uma reserva de caixa. "O cenário para 2016 é de continuidade de chuvas abaixo da média, daí a necessidade de ampliarmos a capacidade de execução das obras de redução dos efeitos da seca", disse Teixeira.
O governo recentemente renovou decreto de situação de emergência em 150 municípios do Interior e decidiu autorizar a dispensa de licitação para a construção de poços profundos nesses centros urbanos do Interior do Estado. "A medida visa acelerar o processo de atendimento das demandas do sertão".
As cidades do Interior estão com uma paisagem nova, que tende a ser comum na maioria dos centros urbanos nos próximos meses: a perfuração de poços profundos em ruas e praças. Em Boa Viagem, já são mais de 80; em Quixeramobim, o número é superior a 100 e em Parambu foram perfurados 21 e mais 28 estão em andamento.
Segundo Teixeira o governo inova nos modelos de contratação das empresas para ganhar tempo e obter preços favoráveis, por meio de leilão reverso, ata de registro de preço, pregão eletrônico, para evitar obstáculos comuns às licitações. "Não temos como quantificar o número de novos poços a serem perfurados e nem a demanda que chega do Interior porque há dificuldades de estimativa em decorrência do substrato geofísico, que é o cristalino, que prevalece", explicou o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH).
Qualidade da água
Teixeira citou o caso de Parambu. "Em uma primeira tentativa, 20 poços não deram vazão suficiente. Tivemos que perfurar mais 28 e, em 30 dias, queremos chegar a 50". A propósito do assunto, o geólogo Joaquim Feitosa observa que, nos últimos dois anos, centenas de poços foram perfurados no Interior e, devido à urgência para atender à demanda em centros urbanos, também cresceu o índice de poços inviáveis por vazão reduzida. A taxa de perda, segundo a SRH, varia entre 20% e 30%.
Além do conjunto de 11 máquinas perfuratrizes da Superintendência de Obras Hidráulicas do Ceará (Sohidra), o Estado está contratando empresas privadas para acelerar a demanda oriunda do Interior. Teixeira negou que a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) trabalhe em dissonância com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que prevê chuvas abaixo da média para 2016. "O levantamento do volume de água nos açudes é feito com regularidade e a vazão a ser liberada nos açudes depende de decisões de um colegiado, da comissão gestora, do comitê de bacia. Sei que há uma preocupação com a saída de água, que precisa atender outras populações e projetos agropecuários, mas não podemos deixar uma água represada que vai se perder por evaporação".
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