segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Frota cresce, e a falta de ações para modal potencializa caos


Em Fortaleza, mais de 257 mil circulam pela cidade de moto
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A cena já virou rotina em Fortaleza: quando um semáforo abre, parece um estouro de boiada. Motos, carros, caminhões, ônibus saem em disparada, disputando cada centímetro das vias da cidade. Os veículos motorizados de duas rodas levam vantagem pela agilidade, mesmo que seus condutores não estejam nem aí para os perigos advindos de circular entre os automóveis, fazer zig-zag, andar pelo meio-fio, calçadas, contramão e até avançar o sinal vermelho. É um "deus-nos-acuda" sem fim.
A frota de motos cresce a cada ano no Ceará. São 1,2 milhão de unidades, segundo dados de setembro deste ano do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Já é a terceira do Brasil. Somente São Paulo e Minas Gerais contabilizam números maiores. Mesmo assim, nos estudos de mobilidade urbana, esse modal parece invisível.
No entanto, é o que mais aparece nas estatísticas de acidentes com mortes e feridos do Estado. De janeiro a junho de 2015, foram 566 óbitos: três por dia. Na média dos 184 municípios cearenses, em relação a 2014, houve um aumento de 26,79%. Apesar disso, nada específico na área da prevenção para elas e nem para quem pilota, o que é um contrassenso, advertem especialistas de setor.
O advento das motos no espaço público brasileiro se intensificou com sua fabricação no País. Políticas de financiamento facilitaram a compra e as motos tornaram-se um transporte possível e meio de vida para inúmeras pessoas. "Ela pode ser usada em diferentes serviços: mototáxi, entregas, recados, entre outros. O veículo chega aos locais onde outro não entra e podem ser guardadas mais facilidade", aponta o pós-doutor em Geografia Humana, José Borzacchiello.
Para ele, a importância do modal é indiscutível, mas ao contrário do que houve com o ciclismo, as chamadas bikes da população de classe média que, com forte pressão, conseguiu definir políticas públicas e a instalação de ciclovias e ciclofaixas, as motos permanecem deixadas de lado. "O caso é muito sério. O volume de acidentes assusta: ceifa vidas, mutila e é de altíssimo custo social. Sem falar na violência urbana, com bandidos utilizando-as para cometer crimes. É preciso mais atenção e ações urgentes para reverter a situação", diz.
Borzacchiello sugere medidas como as usadas em outros países que exigem que o número da placa de licenciamento das motos sejam afixados no colete e nos capacetes. "Esses objetos só devem e podem ser utilizados pelo dono da moto. Em caso de acidente ou roubo, os números revelam imediatamente o nome do proprietário de veículos".
Praticidade
As motos são rápidas, práticas e baratas, ressalta o engenheiro de transporte, Guilherme Pessoa. "Não podemos retroceder no tempo: elas já fazem parte do cotidiano dos centros urbanos no Brasil, vêm alterando, na última década, o cenário da mobilidade urbana. Conduzindo ou conduzido por uma motocicleta, argumenta, a pessoa cumpre seu trajeto na metade ou em até menos tempo do que quem vai dirigindo um automóvel. Tecnicamente, é uma ótima alternativa para reduzir a grande obstrução do trânsito, mas cheio de problemas. "Por isso, acho possível um estudo por parte de arquitetos e engenheiros para destinar faixas exclusivas para o livre deslocamento das motocicletas. Esse não é um problema somente do Ceará".
O promotor do Ministério Público do Ceará (MPCE), Gilvan Melo, critica a atuação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que, segundo ele, se limitou a exigir placas maiores ou o reforço na fiscalização. "Não adianta remediar, é preciso prevenir, e o assunto 'veículos motorizado de duas rodas' deve estar no cerne das discussões sobre mobilidade urbana. Reconheço que até os anos de 1990, a moto não tinha esse peso que tem hoje, mas agora é hora de focá-la e encontrar saídas permanentes para ela. Apenas fiscalizar se o cara está ou não de capacete ou habilitação não vai resolver nosso problema", afirma.
O professor e pesquisador Antônio Paulo de Hollanda Cavalcante reconhece que o cenário é preocupante e reflete que a grande questão reside na educação e também na falta de consciência em usar álcool e dirigir. "Defendo a similaridade na legislação entre ter 'horas' guiadas antes de tirar a licença. Semelhante ao sistema francês. Seria igual ao brevê para pilotar avião", diz.
Fique por dentro
Veículo chegou ao País no século XX
A primeira moto chegou ao Brasil no início do Século XX e, a partir de 1920, pessoas de renda alta começaram a importar esses veículos.
A produção nacional começou em 1953, com a Monark. Em 1955, a italiana Lambretta iniciou a sua produção e foi acompanhada pela Vespa, em 1958. Em 1960, outra empresa nacional surgiu - L. Herzog - produzindo uma motoneta de 50 cc que, de acordo com o Código Nacional de Trânsito de 1966, podia ser dirigida por jovens a partir de 15 anos de idade. Na década de 1970, começaram a vir as empresas japonesas, como a Yamaha e a Honda.

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