quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Produção de algodão sobrevive à estiagem

O cultivo na região dos Inhamuns segue orientações seguras de cuidados com a preservação ambiental
Tauá Os municípios de Tauá, Independência e Parambu vêm investindo na produção de algodão orgânico. A estratégia está se concretizando, ao passar dos anos, como uma cultura de boa rentabilidade para as famílias envolvidas no projeto, além de assegurar uma política ambiental eficiente e o favorecimento da convivência com o Semiárido.
Apesar da seca que castiga a região, o manejo adequado do solo e o cultivo do produto que se adapta bem às condições do clima da região, os produtores do algodão orgânico estão otimistas e conseguem mesmo sem o apoio dos poderes públicos, alcançar um resultado positivo.
O presidente da Adece, Manoel Siqueira de Melo, explicou que, antes a produção não tinha uma garantia de venda, um parceiro consistente, mas que sabiam que o projeto era bom, e insistiram na ideia, seguiram procurando parceiros, acreditando que era esse o caminho para os produtores da região.
"Em 2004, conseguimos fechar uma parceria com uma empresa francesa, a Veja Fair Trade, que atua aqui no Brasil, e que passou a comercializar quase toda a nossa produção. Essa empresa passou a comprar o nosso algodão em pluma, que era levado para uma indústria em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, que fabrica tecidos para a produção de tênis ecológicos, que são comercializados exclusivamente em países da Europa. Essa empresa foi importante para nós porque sentou e negociou com a gente de forma justa, nos passando noções de mercado, e valorizou o nosso produto, que passou a ter também certificação de qualidade", disse o produtor.
Negócios
Todas as negociações e orientações recebidas pela entidade, segundo Siqueira, foram pautadas nos conceitos de comércio justo e solidário. A Veja trabalha na criação de uma rede de solidariedade desde o produtor até o consumidor, oferecendo produtos de qualidade que não agridem o meio-ambiente e cujos recursos obtidos em sua venda possam ser revertidos na melhoria das condições de vida de famílias de pequenos produtores de algodão no Brasil. Além da Europa, os tênis Veja também são comercializados no Japão.
Para Siqueira, o projeto da Adece é de uma importância ímpar para a região dos Inhamuns, mas destacou que a produção do algodão orgânica no semiárido cearense chamou atenção da Europa, e dos ambientalistas do mundo inteiro.
"Nós estamos garantindo o sustento de muitas famílias, e assegurando o manejo adequado do solo, protegendo o meio ambiente com o não uso de agrotóxicos, com técnicas naturais, assumindo nosso compromisso com o planeta", afirmou.
Siqueira diz que a cada ano o progresso na produção se faz mais acentuada. "O trabalho desenvolvido na região está dando exemplo a outras regiões que poderiam também acreditar mais que é possível fazer a diferença com a cultura orgânica. Nós enfrentamos dificuldades, mas corremos atrás, nos organizamos e buscamos parceiros. Ainda precisamos sensibilizar os poderes públicos municipal e estadual, porque podíamos estar ainda alguns passos à frente, e beneficiar muito mais famílias e municípios, mas a Adec ainda está caminhando sem esses apoios importantes", disse o associado.
Vendas
Carlos Antonio Martins, outro membro da Adece, relatou que o preço do algodão orgânico é muito superior ao produto convencional. E, salientou que, além de ser um investimento vantajoso, é recompensador pelo aspecto ecologicamente correto.
"Nós apostamos no melhor que a gente pode fazer, e estamos aproveitando tudo o que o solo pode nos oferecer, e oferecendo também algo em troca." Para aproveitar bem os recursos do solo, e as poucas chuvas durante o ano, o plantio é realizado em curva de nível, valeta de retenção, que são técnicas de conservação do solo, explicou Carlos Martins.
O agricultor José Arimatéia Santos, da cidade de Independência, disse que apostou "todas as fichas" no projeto, e que é viável, recompensador, mas defende que pode ser ampliado se os governantes se interessarem. Mesmo com a seca, temos uma boa produção", destacou o produtor. Ele informou que atualmente são cerca de 80 hectares dedicados à produção do algodão orgânico, produzindo uma média de 1.000 kg do produto por hectare. Como alternativa, também produzem o gergelim, numa média de 500 a 600 kg, o que representa um bom lucro, pois é um produto bem aceito no mercado e vendido por um preço compensador. "Vendemos uma arroba de pluma a uma média de R$ 120 reais, enquanto o algodão convencional esse valor não chega a R$ 50,00", observou Arimatéia.
Preocupação
O presidente da Adece, Manoel Siqueira, explicou que são os produtores que realizam todas as etapas de produção, e que são cerca de 70 famílias que trabalham anualmente nessa produção. As famílias reconhecem o valor do cuidado com o meio ambiente, todos têm consciência da grandeza do projeto.
"Já tivemos anos de trabalhar com dez municípios, mas era muito difícil. Achamos melhor investir nos municípios ligados a Tauá. Temos uma previsão de estarmos com aproximadamente 100 famílias até o início do próximo ano", salientou.
Para o presidente, o mais importante é o entusiasmo dos produtores. " Estamos felizes trabalhando dentro das nossas possibilidades, com todos os cuidados, envolvidos de verdade, fortalecendo os conhecimentos e buscando estabelecer novas parcerias, descobrir novos mercados e novos produtos, como confecções ecológicas, onde até os botões são produzidos com matéria prima orgânica", destacou Siqueira.
Os bons resultados se fazem sentir, conforme observou Siqueira na cadeia produtiva, uma vez que se formou parceiros de cooperativas em diferentes estados, criando a rede de Algodão do Nordeste. "Mas tudo partindo aqui da nossa produção, somos os pioneiros", finalizou.

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