Morada Nova. Em mais uma tentativa de manter o trabalho e a renda para 955 produtores, os agricultores do perímetro irrigado deste município, localizado no Vale do Jaguaribe, buscam apoio político para conseguir junto ao Governo do Estado a revitalização da área produtiva. Desde 2013 o cultivo de arroz, principal cultura, foi paralisado e a alternativa seria a perfuração de poços.
O produtor Raimundo José Bezerra, 49 anos, irriga deste 1988. Como poucos, ele atualmente cultiva em seu lote de 4,2 hectares banana e sorgo, onde antes era arroz. A produção ajuda a manter 27 cabeças de gado, de onde ele tira o leite também pra venda.
A realidade vivida por ele também integra cerca de 40% dos produtores, que conseguiram isso graças ao investimento em um pouco artesiano. Pra Raimundo o difícil investimento lhe custou cerca de R$ 7mil.
"Em 2000, o Banabuiú secou também, aí tivemos que perfurar poços pra manter a produção. No segundo semestre do ano passado não tinha mais condições, ou fazia um poço ou ficava sem plantar, mas nem todo mundo tem condições pra isso", conta o produtor.
Apesar de ter água farta, o irrigante conta que 80% é desperdiçada devido a falta de equipamentos mais modernos para irrigação. "Não tenho muito o que fazer. Ligo o motor e inundo o terreno.
Revitalização
Boa parte da água é evaporada e infiltrada, se eu tivesse como investir num kit de irrigação, mais moderno, outros agricultores poderiam ser beneficiados dessa captação aqui", relata, apontando como solução para o problema de desabastecimento do perímetro o investimento em poços e kits para irrigantes.
A revitalização já vem sendo buscada há vários anos, principalmente nos últimos dois, quando a seca revelou a fragilidade da produção. "Esse é um perímetro muito antigo, pois tem 47 anos. Com essa falta de água, mais de 10 mil pessoas que vivem na área do perímetro, não tem como sobreviver. Precisamos unir o Governo aos produtores por uma solução, os agricultores não podem ficar do jeito que estão", cobrou o irrigante de presidente da comissão de produtores Davi de Castro Neto, em audiência pública realizada na última sexta feira, na Câmara de Vereadores de Morada Nova, onde estiveram presentes deputados da esfera estadual e federal.
Davi conta que os produtores estão buscando desde o ano passado acionar o Governo para olhar com bons olhos para a situação do perímetro.
Sem poder produzir, foram pagas indenizações o que amenizou temporariamente a situação. "Revitalizar o perímetro com a perfuração de poços, assistência técnica, com melhorias nas estruturas que são antigas vai dar mais dignidade para os produtores, que vão voltar a gerar emprego e renda para o município", enfatizou Davi.
Para o Presidente da Associação dos Usuários do Distrito Irrigado do Perímetro Irrigado de Morada Nova (AUDIPIMN), Sales Ferreira, apenas 40% dos 955 irrigantes estão conseguindo manter algum cultivo, tendo como principal captação os poços profundos. "A situação continua crítica, muitas pessoas dependem da área para sobrevier e a escassez de água é grande. Já enviamos vários ofícios para o Governo e relatórios mostrando a situação, mas até agora pouco conseguimos. As indenizações amenizaram, mas o problema continua", lamenta Sales.
Acesso
Ainda em 2014, Sales conta que foi elaborado um orçamento para revitalização do perímetro, onde engloba, a recuperação de estradas, rede de adução e distribuição de águas e diques de proteção, o valor foi orçado em R$ 30,6 milhões, sendo encaminhado para o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e Ministério da Integração. "O perímetro é muito antigo e há a necessidade também de uma série de reparos para o seu pleno funcionamento. Os órgão foram acionados e continuamos tentando vender essa batalha", afirmou.
O Perímetro Irrigado de Morada Nova esta situado entre os municípios de Morada Nova e Limoeiro do Norte, e fica próximo aos perímetros Jaguaribe-Apodi (30 km), em Limoeiro do Norte e Tabuleiro de Russas a (5 Km). Atualmente estão ocupados 955 lotes em uma área de 4.474,19ha, com uma área média do lote agrícola de 4,58ha. A estimativa é que, quando em plena produção, o perímetro tenha gerado uma média anual 2 mil empregos diretos e 4 mil indiretos, beneficiando uma população de 11mil pessoas residentes na área. O aporte hídrico é feito através do açude Banabuiú, com uma capacidade de armazenamento de 1.601.000.000 m3 e que hoje está com 0,65% da sua capacidade, o que comprometeu a demanda agrícola.
O reflexo dos quatro anos seca e a crise hídrica impactou diretamente na área irrigada do perímetro. De 2012 a 2014, a área produzida reduziu 43,21%, quando neste primeiro ano a área produzida chegou aos 4.451,72 hectares e ano passado a média de área plantada nos dois semestres fechou o ano com 2.527,72 ha. A situação crítica foi registrada ainda no segundo semestre de 2014, quando a área de cultivo foi de apenas 984,79 ha, contemplando pouco mais de 240 produtores.
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