Jaguaribara. A população quis ser ouvida e foi. A ação dos jaguaribarenses em tentar ocupar a válvula do Açude Castanhão, na manhã de ontem, resultou em uma reunião de emergência entre representantes do Governo do Estado e uma comissão dos manifestantes, no Palácio da Abolição, na manhã de hoje. A tentativa de ocupação, frustrada pela presença de policiais do Cotam, ficou de alerta pela insatisfação quanto a projetos inacabados.
Foram cerca de 100 pessoas da sede do município e localidades do Mineiro, Curupati e Mandacaru que seguiram até a via que dá acesso à parede do açude para ocupar a gerência da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) no Castanhão, onde se encontra a válvula de vazão para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O intuito era chamar representantes do Governo para negociar uma pauta de reivindicações, baseada em projeto inacabados que deveriam ser implantados na época em que os moradores foram transferidos para a nova cidade em 2001.
Um desses projetos é o do assentamento Mandacaru, onde deveria ser hoje uma das principais bacias leiteiras da região. Segundo os moradores, a estrutura foi implantada pela metade, faltando ainda concluir a cerca elétrica em parte dos lotes. Outro fator importante para o funcionamento do Mandacaru são as matrizes de vacas leiteiras, incluídas no projeto e que desde 2004 os assentados aguardam para iniciar a produção. A renda até hoje é obtida pela plantação e venda de capim irrigado.
"Recentemente recebemos a notificação de que o Governo não vai mais ajudar no custeio da energia e que ela vai ser cortada. Nós queríamos a independência de plantar, criar o nosso gado e custear as despesas, mas acontece que nem o Governo fez a sua parte e agora corremos o risco de ter a energia suspensa. E como vamos viver aqui sem condições de produzir?", questionou um dos assentados e articuladores do movimento de ocupação Daniel Linhares.
Segundo Linhares, todas as 200 famílias que hoje estão no mandacaru são de 23 localidades diferentes da velha Jaguaribara. Uma empresa de laticínios implantou uma estrutura de ordenha no assentamento na expectativa de comprar todo o leite produzido, porém até agora apenas alguns assentados conseguiram, com recurso próprio, comprar as vacas, o que não é suficiente para atender a demanda.
Conta
Quem também passa por problemas na produção são os irrigantes do Curupati. De acordo com Josieliton Dantas, hoje a grande dificuldade é a conta de energia, que tinha subsídio do Governo e que não será mais pago. "Foi instalada uma estrutura precária, que tem quebrado com frequência e o produtores é quem vem arcando com os custos. Hoje temos uma conta de R$ 20 mil que não temos como pagar. O perímetro precisa de reparos, o que vai fazer com que tenhamos uma economia de energia em torno de 50%", explica.
Dantas acrescenta também o difícil acesso à água, onde devido ao baixo volume do Castanhão, o flutuante que comporta uma bomba para captar água não atinge mais o nível. "Nós nos unimos e custeamos a compra de tubos para fazer com que o flutuante chegue até a água do açude, porque o governo disse que faria uma ampliação que não ocorreu. Não temos mais como ter gastos com baixa produtividade", reclama.
Para o prefeito Francini Guedes, que acompanhou a ação dos moradores, o momento para o município é crítico e são uma série de problemas reivindicados pelos moradores. "Temos as comunidades que não têm água porque não foi feita a adutora. Temos o Mandacaru que nunca foi concluído, o Curupati que passa por problemas desde que foi instalado e a piscicultura que teve uma perda grande. Enfim, essa ação já era de conhecimento do Governo de que uma hora iria acontecer porque o povo de Jaguaribara não aguenta mais ouvir promessas e nada ser feito", contou.
Durante a ação de tentativa de ocupação, Francini conseguiu uma reunião com o Secretário de Relações Institucionais, Nelson Martins e a chefia de Gabinete do Governo do Estado hoje pela manhã. Segundo o prefeito, serão cobradas as ações prometidas para o município com datas já estipuladas.
ENQUETE
Como minimizar o problema?
"O Governo do Estado precisa resolver logo o problema de envio das matrizes, pois há anos estamos aguardando a conclusão da estrutura da primeira etapa do perímetro para implantarmos a segunda"
Daniel Linhares
Agricultor do Mandacaru
"Hoje, nosso grande problema mesmo é a questão da energia. Temos uma conta que os produtores não conseguem pagar devido às estruturas precárias colocadas pelo próprio Governo do Estado"
Josieliton Dantas
Irrigante do Curupati
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