sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Vazamentos em adutoras seguem trazendo prejuízo

Nas margens da CE-040, entre Cascavel e Beberibe, adutora continua com vazamento
Moradores de Irauçuba ocuparam a BR-222 para protestar contra o desperdício d'água ocasionado por vazamento em adutora ( Fotos: Marcelino Júnior )
Irauçuba Por volta das oito horas da manhã dessa quarta-feira (30), os moradores da sede e dos cinco distritos deste Município da região Norte ocuparam boa parte do quilômetro 148 da BR-222 para protestar contra os constantes vazamentos da adutora que abastece a cidade, ou deveria abastecer, como afirmam os manifestantes, que ocuparam os dois sentidos da via portando faixas, cartazes e fazendo muito barulho.
O objetivo foi chamar atenção do Poder Público para um problema que tem feito parte do cotidiano dos pouco mais de 23 mil moradores: o rompimento constante da tubulação, estendida ao longo dos 46 quilômetros, que ligam Irauçuba ao município de Miraíma, onde foi construída, em 2010, a Barragem Missi.
Segundo Josimar Pinheiro, líder do Conselho Comunitário da Defesa Social, "este problema de vazamento sempre existiu. O pior é saber que a pouca água que temos está sendo jogada fora, porque são mais de doze pontos onde jorra a céu aberto". Além da sede, os distritos de Coité e Missi têm sido os mais atingidos. Os dois juntos somam cerca de 2 mil moradores, que se encontram sem uma gota de água das torneiras".
Permanente
Outra reivindicação dos manifestantes, é que seja construída uma adutora permanente, diferentemente da instalada para fins emergenciais, de engate rápido. "Este protesto é resultado de tanta falta de atenção que temos tido, por parte dos organismos gerenciadores do abastecimento de água na nossa cidade. Foram várias reuniões com a Cagece, Cogerh, Sohidra, e nada foi resolvido. A adutora de engate rápido, não resolve o problema da falta de água, os constantes vazamentos são a prova disso", afirmou Renato Julião, presidente da Federação das Associações de Irauçuba (FAI).
Irauçuba está na lista dos municípios cearenses que decretaram emergência por conta de falta de água. Os três grandes reservatórios que atendiam o município se encontram secos. O abastecimento tem sido reforçado com apoio de carros-pipas: nove distribuídos nos distritos (Exército) e mais cinco na sede (Defesa Civil). Para Caetano Rodrigues, secretário do Meio Ambiente e Recurso Hídricos de Irauçuba, "faz mais de um ano que essa situação perdura. Há constante queda de energia, e, como a adutora é pressurizada, tem que ter fornecimento de água direto. A solução seria mesmo a adutora permanente".
A manifestação, que bloqueou a rodovia por cerca de duas horas, foi considerada pacífica pelas equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar (PM), e Guarda Municipal de Irauçuba, que estiveram orientando os motoristas durante o protesto. Cerca de doze quilômetros de filas com ônibus, carros de passeio e caminhões se formaram, dos dois lados da via.
No fim do protesto, uma comissão de representantes do povo e uma equipe da Cagece se reuniram para definir estratégias emergenciais para contornar a situação. "Nos disseram que vão enviar uma equipe de reparos, mas já sabemos que não vai adiantar. A Prefeitura vai reforçar o trabalho de remendo da tubulação, com mais dois homens e um veículo. Estamos nos planejando para outra manifestação, na mesma BR-222, única forma que encontramos para chamar atenção para o que passamos, disse Josimar Pinheiro, do Conselho Comunitário.
Outros casos
Do dia 22 a 24 do mês passado, os moradores de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) sofreram com a falta de água por conta de um vazamento em uma adutora de 500mm que abastece o Município. Os bairros Potira I e II, e o próprio Centro da Cidade foram os mais atingidos. Após o conserto, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informou aos moradores que a distribuição de água seria restabelecida aos poucos, pois o abastecimento funciona por pressão, levando água para as áreas mais centrais, até alcançar o completo equilíbrio do sistema em áreas mais elevadas ou distantes da Estação de Tratamento de água (ETA).
Inaugurada em março deste ano, com 156km de extensão, a adutora que leva água aos municípios de Crateús e Nova Russas, para atender uma população de pouco mais de 110 mil habitantes, apresentou vazamento quase dois meses depois de ser entregue à população. O desperdício na obra, considerada a maior já construída pelo governo do Estado, durou mais de 15 dias.
À época, a assessoria de Comunicação da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) informou que não havia nenhum registro de vazamento na adutora. Informados sobre o problema, técnicos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) teriam sido deslocados ao local para vistoriar a área para o início dos reparos necessários.
O equipamento, que transporta água do Açude Araras, na Região Norte, pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú, para Sertão de Crateús. Em sua inauguração, o governador Camilo Santana explicou que ainda faltavam ajustes para o pleno funcionamento da adutora. De acordo com assessoria da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), os vazamentos pontuais seriam reflexos de alguns dos ajustes que ainda estariam sendo feitos, até então, numa obra que normalmente levaria de um ano e meio a dois anos para ficar pronta, e teve sua finalização em menos de um ano, devido ao risco de as cidades da região entrarem em colapso de abastecimento. A obra teve investimento de RS 82,48 milhões.
Construída para levar água do Açude Gameleira ao município de Itapipoca, a adutora apresentou uma série de vazamentos no fim de 2013, alguns com a diferença de 24 horas, deixando a população sem água durante vários dias, apesar dos reparos feitos por técnicos da Cagece. A adutora tem cerca de 32 quilômetros e ainda estava em fase de testes, quando apresentou os primeiros vazamentos. Operações emergenciais foram montadas entre a Cagece e a Cogerh, para restabelecer o abastecimento. Na época, o então governador Cid Gomes, que esteve na cidade para ver de perto o problema da adutora, acionou a Polícia Civil para que investigasse a responsabilidade de construtoras e empreiteiras por conta do rompimento da tubulação de PVC.
Beberibe
Na CE-040, no trecho compreendido entre os quilômetros 67 e 68, trecho Cascavel-Beberibe, até ontem a adutora que puxa água do Rio Choró até o município de Beberibe, apresentava vazamento, o que revoltou moradores das imediações e motoristas que passavam pelo local.
A Cagece informou, por meio da assessoria, que a responsabilidade das adutoras é da Cogerh, e que faz um trabalho de parceria nos reparos desses vazamentos, disponibilizando equipe técnica. Por sua vez, a assessoria da Cogerh, adiantou que não teria o levantamento exato sobre as ocorrências de vazamento e nem o quantitativo de adutoras instaladas no Estado, pois essa a responsabilidade caberia à Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra). Acionada por telefone, a superintendência adjunta da Sohidra, informou que o superintendente estava numa reunião. Até o fechamento desta edição não houve retorno.
ENQUETE
O que você acha deste protesto?
"Eu acho importante, porque só assim a gente pode ser ouvido. Eu estou sem uma gota de água em casa faz mais de uma semana. Gasto uns R$ 120 para encher as vasilhas, por semana. Não há bolso que aguente"
Vanda Maria Oliveira
Dona de casa
"Com esse protesto, a gente pode mostrar o que todo mundo está passando. Lá em casa, temos que economizar ao máximo. Essa adutora não tem resolvido nossa situação. A nossa única saída é chamar atenção"
Alan Mauro dos Santos
Eletricista
"Esse protesto é legítimo. Estamos em busca dos nossos direitos, pois não estamos sendo atendidos como deveríamos. É doloroso o que passamos aqui. Falta iniciativa do Poder Público para acabar com os vazamentos"
Francisco Taveira
Bibliotecário

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