Muito além da lida diária repressiva contra a criminalidade, a Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) atua em múltiplos trabalhos com o objetivo de prevenir, aconselhar, educar e inspirar. E uma das armas, literalmente, utilizadas pelos PMs cearenses é a música.
A banda de música Major Xavier Torres, da Polícia Militar do Ceará, é a mais antiga em atividade no nosso Estado, com 161 anos de existência, recém-completados no último dia 28. Ela é considerada um patrimônio histórico e cultural do Estado.
Os componentes da banda, que também agem como força de segurança, utilizam a sensibilidade presente na música como forma de prevenção.
Junto ao corpo, as pistolas, assim como as algemas, coletes, brasões e outros adereços que compõem o fardamento militar. Nas mãos, flautas, clarinetes, saxofones, trompetes, trombones, trompas, bombardinos, tubas, bateria, guitarra, contrabaixo e instrumentos de percussão. É assim que o grupo chega em praças, terminais de ônibus, escolas e em inúmeras solenidades, oficiais ou não, para levar cultura, entretenimento e um outro sentido para a farda militar.
Quem se orgulha ao falar da banda é o capitão PM Manoel Bonfim, comandante da equipe musical. Ele conta que encara o ofício como um sacerdócio e que seus policiais possuem uma missão dupla pois, apesar da violência diária, precisam filtrar os maus momentos do ofício e liquidificar em sentimentos de paz e tranquilidade para a sociedade. Segundo ele, a banda é uma forma de demonstrar carinho para com a população.
"A música está dentro do contexto de prevenção à violência. Quando vamos a uma comunidade vulnerável, ela chama a atenção dos jovens, principalmente. Eles ficam observando e às vezes até fazem perguntas. Neste momento em que eles estão ali, distraídos com a música, isso já impede que estejam em outro lugar fazendo coisas erradas", conta.
Terapia
O ato de tocar atinge, principalmente, quem manuseia os instrumentos. Foi desta forma, através da música como terapia, que a sargento PM Gilvânia dos Santos superou uma fase difícil da vida dela. Trabalhando como monitora no Colégio Militar e enfrentando problemas pessoais, o nível de estresse da policial estava elevado de tal forma que, conforme ela, passou a inviabilizar-lhe o trabalho diário.
Com problemas de saúde, a sargento precisou ser afastada de suas atividades por cinco meses e realizou seções de terapia. Porém, só após ingressar no grupamento da banda, ela voltou a ter qualidade de vida.
O capitão Bonfim conta que a sargento Gilvânia não é a primeira a se reabilitar na corporação tendo a banda como 'divã'. Outros policiais cearenses também superaram dificuldades pessoais através da música.
Atualmente, o núcleo mantém 107 policiais músicos. Eles ficam lotados no quartel do 5º Batalhão de Policiamento Militar (BPM), onde ensaiam todos os dias, aprimorando suas habilidades nos instrumentos.
Os policiais pertencentes à banda da PM permanecem no quartel atentos aos chamados oficiais e também cumprem uma agenda com a sociedade em apresentações públicas e em entidades.
Conforme o responsável pela banda, capitão PM Genilson Marques, há cinco anos a banda se apresenta em locais públicos e já atendeu a diversos projetos junto à comunidade. O mais recente e em execução é o 'Segurança com melodia', com apresentações às sextas-feiras na Avenida Beira-Mar, Praia de Iracema.
O projeto também contempla outros locais nos fins de semana. Ainda de acordo com o comandante, há um outro projeto em estudo, de ampliação, para que as apresentações se multipliquem e aconteçam em vários pontos turísticos da Cidade.
Nas escolas
Ensinar também faz parte do montante de ações destes policiais músicos. Um grupo deles encabeçou um projeto em escolas públicas situadas em locais com grande índice de vulnerabilidade social.
O "Música na Escola", em execução desde o ano de 2013, já atendeu mais de 90 alunos dos Ensinos Fundamental e Médio de escolas públicas.
Um dos educadores à frente do projeto é o soldado Klaus de Oliveira Lima. De acordo com o militar, hoje, cerca de cinco policiais músicos se revezam no monitoramento com os alunos, que têm a música como uma atividade extra na escola. Conforme o policial, o aprendizado se prolonga ao longo do semestre.
"O projeto teve início sem grandes pretensões, apenas com o intuito de colaborar com as escolas, já que tinham instrumentos musicais, mas não existiam educadores. A partir disso vimos a necessidade e oportunidade de contribuir com a formação social e cognitiva das crianças e adolescentes das áreas onde existiam altos índices de criminalidade", conta.
O arquivo da banda da PM está sendo catalogado para que, no futuro, seja contemplado com um projeto de restauração de documentos históricos
Secular
Em tempos de dispositivos móveis cada vez mais tecnológicos, de músicas eletrônicas e de vários outro gêneros e de plataformas musicais variadas, a banda da PM continua firme. Quem vê a grande quantidade de instrumentos de sopro pode achar que apenas clássicos sejam tocados. Contudo, não apenas as músicas eruditas são executadas. Há no repertório espaço para o moderno e regional. De certo, a banda da PM consegue prender os olhos e os ouvidos que quem presencia um "tocata" .
São 161 anos de história, patriotismo e compromisso com a sociedade. Nas gavetas da sala de arquivos da banda, estão guardadas as relíquias de um tempo em que jamais se sonhou com as atuais plataformas existentes. As inúmeras gavetas guardam mais de 1.170 partituras, preservando a história.
Um das mais antigas partituras guardadas datada no ano de 1946, foi dedicada pelo maestro Eleazar de Carvalho. O documento fica em meio a outros tão importantes quanto, que guardam um momento da história do povo cearense. O arquivo da banda da Polícia Militar está sendo catalogado para que, no futuro, seja contemplado com um projeto de restauração ou até mesmo de digitalização deste históricos documentos.
A sargento Joiania Pereira, responsável pelos arquivos, manuseia com todo cuidado os documentos que resistem ao tempo. "Seria interessante que esse material fosse restaurado e apresentado ao público para que a população cearense conhecesse um pouco sobre o que as pessoas ouviam no século passado. É uma forma de relembrar a sociedade da época", relata.
(Colaborou Sara Sousa)
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