Brasília. Senadores de oposição preparam representações para que o Conselho de Ética do Senado abra um processo por quebra de decoro contra Delcídio do Amaral (PT-MS), o que pode levar à cassação do seu mandato.
Líderes do PSDB pediram ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que dê aval ao envio ao Conselho de Ética da Casa de ofício com a decisão tomada pela maioria dos senadores na quarta (25) pela permanência da prisão de Delcídio. O ato deflagraria um processo de quebra de decoro.
O petista foi preso na quarta pela Lava-Jato por tentar obstruir as investigações. "É inevitável que o Conselho se manifeste", afirmou o líder do PSDB na Casa, Cássio Cunha Lima (PB).
Os tucanos inclusive já decidiram quais senadores da sigla vão ocupar as duas cadeiras do partido que estavam vagas no colegiado: o próprio Cunha Lima e o senador Aloysio Nunes (SP).
O presidente do Senado, no entanto, não apareceu na Casa, ontem, e evitou falar sobre o assunto. Pessoas próximas a Renan afirmam que ele não deverá acatar o pedido da oposição.
Segundo Cunha Lima, se Renan não aceitar o pedido, os partidos de oposição se reunirão para apresentarem uma representação conjunta. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também afirmou que apresentará um requerimento ao colegiado na próxima semana.
O último caso analisado pelo colegiado foi em 2013, envolvendo Randolfe, que foi acusado de ter recebido propina do senador João Capiberibe (PSB-AP), na época governador do Amapá enquanto ele era deputado.
A reabertura dos trabalhos do Conselho de Ética incomoda boa parte dos senadores, que preferiam não ver o órgão em funcionamento. Renan e outros dez senadores são investigados sob a suspeita de terem recebido recursos da Petrobras.
Salário
Colocado pelo Senado em uma licença especial na quarta (25) sem prazo para acabar pelo período em que estiver na prisão, Delcídio continuará a receber o salário de R$ 33,4 mil.
Segundo o Regimento Interno da Casa, a licença especial é prevista quando um senador é preso em virtude de processo criminal. Neste caso, não há prazo para o fim da licença.
Ontem, Delcídio prestou depoimento durante quatro horas a dois procuradores e um delegado da Polícia Federal, em Brasília. O líder do governo admitiu que é a voz dele que está na gravação em que o senador apresenta um plano de fuga para o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nelson Cerveró, segundo informou a defesa. Ele alegou, no entanto, ser inocente e negou que tenha oferecido mesada de R$ 50 mil mensais para que Cerveró evitasse fazer acordo de delação premiada.
Possível expulsão
O comando do PT deverá expulsar Delcídio do Amaral. Segundo integrantes da cúpula do partido, a tendência é pela desfiliação do parlamentar. A expulsão será debatida em reunião da Executiva Nacional na semana que vem.
O presidente da sigla, Rui Falcão, deu a senha para o afastamento quando minimizava críticas à nota em que negou solidariedade a Delcídio: "Não há divisão. Expressei minha opinião. Essa opinião será debatida com maior profundidade, inclusive com consequências práticas".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não se manifestou sobre a expulsão. Mas admitiu, ontem, que a prisão de Delcídio desestabiliza o governo e leva a crise para o Palácio do Planalto. Dizendo que Delcídio fez uma "coisa de imbecil", Lula lamentou que a detenção tenha ocorrido num momento em que considerava praticamente debelado o movimento pelo impeachment da presidente Dilma.
Lula se disse perplexo com a "burrada" de um homem tão sofisticado. Ele afirmou que cada um deve se responsabilizar pelos seus atos, sem que o governo seja contaminado.
Crítica de Aécio
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou como um "acinte à inteligência dos brasileiros" o silêncio do Palácio do Planalto e da presidente Dilma Rousseff sobre a prisão de Delcídio. "Num momento dessa gravidade, com denúncias dessa dimensão é incompreensível que a presidente não olhe nos olhos dos brasileiros para explicar sua responsabilidade nesses episódios", disse o tucano após reunião da executiva nacional de seu partido.
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