quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Corpo de jovem morto pela PM é incendiado em velório

Marcos Alessandro Acelino da Silva, o "Praiano", de 15 anos, a namorada dele, de 17, e mais três adultos foram mortos a tiros dentro de uma casa na Serra dos Ventos, distante 3Km da sede do Distrito de Antônio Diogo, em Redenção ( Fotos: Bruno Gomes )
De acordo com a Polícia Civil, a casa onde ocorreram as mortes ainda não foi periciada por conta da dificuldade de acesso. A reportagem esteve no local, que não estava isolado, na última sexta-feira (27), e flagrou cápsulas no chão do imóvel
A Polícia Civil investiga a invasão ao velório de Marcos Alessandro Acelino da Silva, o "Praiano", de 15 anos, quando um grupo formado por pelo menos três pessoas armadas ateou fogo no corpo do adolescente em Redenção, a 55 km da Capital. O caso aconteceu na madrugada do último sábado (28). O jovem morreu durante suposto tiroteio com a Polícia Militar na madrugada anterior (27), dentro de uma casa na Serra dos Ventos, Distrito de Antônio Diogo, também em Redenção. O Diário do Nordeste teve acesso a um vídeo que mostra a ação na íntegra, mas pelo teor das imagens, elas não foram divulgadas.
De acordo com o capitão PM Edvaldo Ferreira, comandante do Policiamento em Redenção, a família de Marcos Alessandro não acionou a Polícia Militar, que só soube do ataque por meio de moradores na manhã seguinte. O oficial afirmou que uma patrulha foi enviada ao local e que os policiais conversaram com a mãe do adolescente. Conforme Ferreira, apesar de ter reconhecido os suspeitos, ela preferiu não realizar denúncia formal por medo de represália.
"Segundo ela, era gente de lá mesmo, de uma quadrilha rival", explica. Após o ocorrido, a família prosseguiu com o sepultamento do adolescente.
O delegado Alexandre Saunders, respondendo interinamente pela Delegacia Municipal de Redenção, corroborou com a informação. Conforme Saunders, já há alguns suspeitos identificados pela Polícia. "São pessoas ligadas ao crime. Temos alguns suspeitos mas não revelamos os nomes para não atrapalhar as investigações. Mas são pessoas ligadas ao tráfico de drogas e responsáveis por diversos homicídios na região", afirmou.
A mãe do adolescente contou que não o via há pelo menos dois meses. Ele estava fora de casa há dois anos, período no qual ela também disse ter mantido contato com o filho. Marcos Alessandro já havia sido apreendido por responder a procedimentos por homicídios, ocorridos neste ano em Redenção.
Vídeo
As imagens mostram os momentos antes da ação, quando os suspeitos, encapuzados, andavam pela rua até chegar ao local do velório. Segundos antes da invasão, são ouvidos três estampidos. Eles entram na casa e as pessoas presentes se afastam rapidamente. Um deles coloca algum tipo de material inflamável sobre o corpo dentro do caixão, e ateia fogo em seguida. Após o episódio, segundo o capitão Ferreira, a família prosseguiu com o sepultamento do corpo.
Conforme o titular da Delegacia Regional de Baturité, Ricardo Sales, as investigações da Polícia Civil apontam para a ação criminosa de um grupo rival. "Provavelmente o que aconteceu foi uma retaliação, motivada por uma briga por conta do tráfico local", diz.
Marcos Alessandro também era suspeito de ter efetuado disparos contra a fachada do Destacamento da Polícia Militar local há cerca de duas semanas, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS).
Mortes
O adolescente morreu em um suposto tiroteio com a Polícia, juntamente com outras quatro pessoas dentro de uma casa situada na Serra dos Ventos, a cerca de 3Km da sede do Distrito de Antônio Diogo. De acordo com o capitão Edvaldo Pereira, a Polícia agiu após receber denúncia de um grupo na Serra com vasto material criminoso, como drogas e armas. O oficial afirmou que os PMs foram recebidos a tiros e dois policiais foram atingidos no confronto.
Além de Marcos Alessandro, os mortos foram identificados como Jardilene Alessandra de Sousa, 17, namorada do adolescente; os agricultores Pedro Antônio do Nascimento, 55, proprietário da residência onde aconteceram as mortes; Raimundo Nonato Coelho de Andrade, 22, e um homem identificado apenas como Manoel, que segundo populares, seria vendedor.
Conforme familiares de algumas das vítimas, a maioria dos ferimentos a bala era na cabeça. "Aqui não teve tiroteio, não vejo marcas de balas nas paredes em lugar nenhum, só no chão", desabafou um parente, que pediu para não ser identificado. No hospital, além das famílias dos mortos e curiosos, patrulhas da PM estavam na entrada. "Mataram dois que tinham envolvimento em crimes e três inocentes nesse caso", afirmou um familiar (identidade preservada).
Conforme o delegado Alexandre Saunders, a casa onde as pessoas foram mortas ainda não foi periciada devido à dificuldade de acesso. No entanto, no dia das mortes, a reportagem esteve na casa e conversou com moradores da região e acessou, com exclusividade, o imóvel. Segundo testemunhas, os mortos foram recolhidos pelos próprios policiais e levados para o hospital da cidade em caçuás (cesto usado em animais de carga).
Chacina
Também em Redenção, em 1º de setembro do ano passado, cinco corpos do sexo masculino foram encontrados em covas rasas feitas dentro de um canavial localizado em uma propriedade privada onde funciona uma usina e um engenho.
Segundo a Polícia, quatro dos cadáveres eram de adolescentes sequestrados de uma residência no bairro Boa Fé no dia 19 de agosto daquele ano e que estavam desaparecidos. Todos, de acordo com os laudos expedidos pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), morreram com tiros na cabeça.
Quatro foram identificados como Jonathan Araújo de Brito, Iranildo Leitão da Silva Filho, Erineudo Leitão da Silva Brito e Távio da Silva Sousa. O quinto foi reconhecido apenas como Júlio César. Em entrevista na época, a delegada de Redenção, Cristina Cruz, disse que havia alguns suspeitos de terem raptado e matado os garotos, mas os nomes não foram revelados. "Pode ter sido um grupo de 'justiceiros'; de pessoas que acham que podem resolver o problema da criminalidade com as próprias mãos", disse. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso.

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