segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Janot acusa Cunha de receber R$ 1,9 milhão

O presidente da Câmara denominou de "teatro acusatório" as informações que estão na medida cautelar de autoria de Rodrigo Janot ( FOTO: LULA MARQUES/ AGÊNCIA PT )
Brasília. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusa o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ter negociado a inclusão de projetos de interesse de empreiteiras que fazem obras para os Jogos Olímpicos do Rio, durante a apreciação no Congresso de medida provisória (MP) enviada pelo governo.
A MP 584, de 2012, concede incentivos tributários para a Olimpíada de 2016. Segundo Janot, Cunha acertou com José Aldemário Pinheiro, conhecido como Léo Pinheiro executivo da empresa OAS, que faz obras para os Jogos, o pagamento de R$ 1,9 milhão para beneficiar empreiteiras.
Na medida cautelar em que pede ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki o afastamento de Cunha do cargo de deputado federal, Janot informa que, poucos dias após trocar mensagens sobre a MP 584 com Léo Pinheiro, "Cunha cobrou o pagamento de valores, que, pelo teor das conversas anteriores, era em duas partes: R$ 1,5 milhão e R$ 400 mil".
No documento enviado ao Supremo, Janot sustenta que Eduardo Cunha tratou da apresentação de emendas à MP 584 com o então senador Francisco Dornelles (PP-RJ), hoje vice-governador do Estado do Rio.
"Francisco Dornelles apresentou nada menos que 15 emendas à referida MP", diz o procurador na medida cautelar. Janot destaca a emenda 52, em que Dornelles propõe medidas de incentivo fiscal para investimentos em infraestrutura de transporte que facilitem a mobilidade urbana no Rio, sede dos Jogos.
A emenda foi inclusa no texto final da MP. Na medida cautelar, o procurador identifica incorretamente Dornelles como deputado, e não senador.
O procurador informa que, em troca de mensagens por celular com Léo Pinheiro, Cunha perguntou ao executivo da OAS se havia "emenda de vocês" à MP 584. Em seguida, disse que falaria com Dornelles.
Janot destaca que Dornelles é "conhecido de longa data de Eduardo Cunha". O procurador disse ainda que, um mês depois das primeiras mensagens sobre a MP 584, Cunha disse a Léo Pinheiro que o texto da MP "ficou muito bom" e "alcança todas as obras no Rio".
Investigado pela Operação Lava-Jato, que apura esquema de pagamento de propinas na Petrobras, Pinheiro foi condenado em agosto pelo juiz federal Sergio Moro a 16 anos e 4 meses de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e atividade em organização criminosa.
O executivo, que sempre negou qualquer envolvimento no esquema de corrupção e recorreu da condenação, aguarda em liberdade a manifestação da segunda instância do Judiciário.
No documento encaminhado a Zavascki, o procurador cita outras medidas provisórias discutidas em mensagens por Cunha e Pinheiro. Janot diz que a "relação espúria se verifica, ainda, nas centenas de mensagens trocadas entre Léo Pinheiro e Eduardo Cunha" por celular.
"A partir de tais mensagens, é possível verificar nitidamente o modus operandi do grupo criminoso. Projetos de lei de interesse das empreiteiras eram redigidos pelas próprias empreiteiras, que os elabora, por óbvio, em atenção aos seus interesses espúrios, muitas vezes após a 'consultoria' de Eduardo Cunha", afirmou.
Segundo o procurador, projetos e emendas de interesse das empreiteiras eram apresentados "por meio de algum deputado ligado a Eduardo Cunha, para não vinculá-lo diretamente".
Obras
A obra mais importante da OAS para as Olimpíadas é a revitalização da zona portuária carioca, um investimento de R$ 8 bilhões em Parceria Público-Privada com a Prefeitura do Rio. As obras incluem um novo sistema viário na região, com construção de avenidas e vias expressas.
Para os Jogos Olímpicos a OAS também participa da construção do Parque de Deodoro - sede de esportes olímpicos na zona oeste -, de reservatórios contra enchentes e da limpeza das lagoas da Barra da Tijuca.
A OAS foi procurada por e-mail no sábado, mas não respondeu. O vice-governador não retornou as ligações. Cunha não respondeu mensagem enviada ao telefone celular.
Em reportagem publicada no sábado, o presidente da Câmara disse que a medida cautelar de Janot "beira o teatro acusatório e chega quase ao ridículo" e afirmou que não faria comentários.
Investigação
Investigadas pela Lava-Jato, algumas das maiores empreiteiras do País são responsáveis por importantes obras da Olimpíada. OAS, Odebrecht, Mendes Júnior e Queiroz Galvão fazem obras que somam cerca de R$ 23,5 bilhões em investimentos, 63% do custo total das intervenções para os Jogos Olímpicos, de R$ 37 bilhões.

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