A fórmula criativa para esse tipo de som é antiga. As toadas e o canto costumam acompanhar, desde os primórdios, o ritmo do trabalho - seja ele rural ou urbano. Em muitos lugares, virou tradição embutir ritmo à rotina repetitiva, criando toadas e canções que traduzem também a memória afetiva de atividades exercidas.
É sobre esse universo que o "Sonora Brasil", do Sesc, vem se debruçando. O projeto - cujo objetivo é despertar um olhar crítico sobre a produção e a difusão da música no País - abraçou como temas a serem desenvolvidos no biênio 2015-2016 as violas brasileiras e os cantos de trabalho. Dessa forma, grupos que atuam sob esses dois temas têm se apresentado em diferentes regiões do Brasil - uma forma de viabilizar que a população tenha contato com a diversidade de nossa música.
Nessa perspectiva, cinco municípios cearenses - dentre eles, Fortaleza - recebem, nos próximos dias, apresentações de dois grupos baianos distintos que atuam na mesma cidade: Valente. Cantadeiras do Sisal e Aboiadores de Valente iniciam suas apresentações no Estado hoje, às 20h, em Fortaleza. Em seguida, partem para Sobral, Iguatu, Crato e Juazeiro do Norte. As apresentações são gratuitas e têm classificação indicativa livre para todos os públicos.
Localizada a 238 quilômetros de Salvador (BA), Valente é uma cidade conhecida como "Capital do Sisal" e "cidade do boi valente". O município - cujo número de habitantes mal excede 27 mil - mantém como tradição toadas e canções criadas no ritmo de trabalho.
Produção
A economia tem como alicerce a produção de cordas e fibras. Imersas no ato do plantio da matéria prima e depois na produção das cordas, muitas gerações de mulheres entoam cantigas que perpassam a memória de seus antepassados e aspectos vários da vida cotidiana que levam hoje.
É nessa tradição sonora que se apoia o grupo Cantadeiras do Sisal. Izabel, Alda, Ivamarcia, Carminha, Marisvalda e Cássia emprestam suas vozes no espetáculo que acontece logo mais, na Capital. O repertório que as seis mulheres levam ao público traz particularidades da atividade sisaleira e é formado por cantigas que elas conhecem desde a infância.
"As apresentações estão sendo a realização de um sonho pra gente, principalmente porque a nossa cultura estava caindo no esquecimento, e agora temos a sensação de valorização", diz a cantadeira Isabel Maria dos Santos Barbosa, que integra o grupo. Com as cinco companheiras, ela já se apresentou em várias cidades do País.
Aboios
Junto com as Cantadeiras do Sisal, se apresenta hoje o grupo Aboiadores de Valente. Embora tenham características sonoras bastantes distintas, os dois grupos mostram o potencial cultural da cidade de Valente, com musicalidade produzida a partir do trabalho no campo.
Prática tradicional no Nordeste, os aboios são cantos entoados pelos vaqueiros ao conduzirem o gado pelas pastagens. O canto não necessita de letras, mas traz na sonoridade ritmos que acompanham a própria locomoção lenta dos animais. Por conta disso, as melodias são predominantemente melancólicas.
Aboiadores de Valente é integrado pela dupla Ailton Oliveira e Ailton Jr - pai e filho bastante conhecidos na região por entoar os cantos. A tradição também é transmitida de geração em geração, há décadas - uma forma de perpetuar a sonoridade.
Programação
1/12
Fortaleza - Teatro Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701, Centro), às 20h
Informações: (85) 3452.9090
2/12
Sobral - Teatro São João (Praça São João, s/n, Centro), às 20h
Informações: (88) 3611.0954
4/12
Iguatu - Teatro Sesc Iguatu (Rua 13 de Maio, 1130 - Centro), às 20h
Informações: (88) 3581.1130
5/12
Crato - Teatro Sesc Adalberto Vamozi (Rua André Cartaxo, 443, Centro), às 19h
Informações: (88) 3523.4444
7/12
Juazeiro do Norte - Teatro Sesc Patativa do Assaré (Rua da Matriz, 227 - Centro), às 19h
Informações: (88) 3587.1065
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