quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Lapinha com três mil peças é tradição de Icó

A lapinha, na Capela de Nossa Senhora do Socorro, fica aberta à visitação diariamente, das 7 às 11 horas e das 17 às 22 horas, mas há dias em que permanece até a meia-noite ( Foto: Honório Barbosa )
Icó Até o próximo dia 6 janeiro, Dia de Reis, a Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizada nos fundos da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação, nesta cidade, na Região Centro-Sul do Ceará, transforma-se em um grande presépio, uma lapinha.
É uma tradição que se renova há mais de meio século. A lapinha atrai moradores que diariamente adoram e reverenciam a imagem do Menino Jesus na manjedoura.
Esta cidade apresenta forte religiosidade popular e as festas religiosas atraem milhares de devotos. A lapinha instalada na Capela do Socorro é uma mostra desse costume. Embora tenha começado pequeno, há mais de 50 anos, hoje reúne três mil peças, distribuídas num espaço de 30 metros quadrados.
História
A montagem do presépio foi uma iniciativa do então funcionário público federal Almério Silva, agente administrativo do antigo DNER (hoje DNIT), que faleceu em 1996, aos 72 anos.
"Era um homem de forte religiosidade, havia sido seminarista e sentiu a motivação em montar um presépio para homenagear o nascimento de Jesus Cristo", conta o comerciário e filho adotivo, Marciano Pereira Tavares. "Todos os anos ele se dedicava a fazer a montagem, com gosto e devoção".
Marciano cresceu vendo a lapinha ser montada, ano a ano, e, após a morte do pai adotivo, sentiu-se impulsionado a dar continuidade ao trabalho. "É uma tradição que não pode morrer", conta emocionado.
Juntamente com o irmão, Márcio Tavares, manteve o costume. Os dois trabalham uma semana na montagem do presépio, que geralmente é feita no início de dezembro. "Vale a pena", disse Marciano. "É um trabalho que dá prazer".
A lapinha fica aberta à visitação diariamente, das 7 às 11 horas e das 17 às 22 horas, mas há dias em que permanece até a meia-noite. Em meio aos milhares de personagens, está uma caixa de som que propaga a voz do locutor Cid Moreira, que faz a narração de passagens bíblicas. O sistema de som fica na casa de Marciano, distante 300 metros. Ele instalou um fio ao longo da rua. "Eu coloco cinco CDs e deixo tocar direto", conta.
Variedade
O presépio reúne peças variadas. Além dos tradicionais personagens, indispensáveis, dos reis magos e da família sagrada, há camponeses, pastores e milhares de animais de gesso e madeira. Bichos de várias espécies. Réplicas de casarões antigos do Icó, em madeira, compõem o cenário, e dão um toque dos traços do urbanismo local à lapinha.
No teto, estão pendurados dezenas de anjos, bonecos de louça, vindos do Rio de Janeiro. Vestidos com roupas que reluzem à iluminação, as peças dão um toque especial. Representação de lagos, vegetação, pedras e areia formam a paisagem que remete à época do nascimento de Cristo, na antiga cidade de Belém, segundo a tradição cristã.
Há também um lago e um chafariz, que remove água no moinho e chama a atenção dos visitantes. A lapinha do Icó é um local de adoração ao Menino Jesus. Jovens e idosos, param, olham, rezam, fazem preces, pedidos e agradecimentos. Outros contemplam, simplesmente, mas todos saem com o espírito repleto de paz. "A gente se sente mais aliviada", diz Cileide Batista, funcionária da secretaria da Paróquia.
Os moradores continuam fazendo doações de peças, que são guardadas em um baú antigo, na casa deixada pelo idealizador da lapinha para que no próximo ano integre a exposição. A servidora pública aposentada, Maria do Rosário Lopes, viajou a Salvador e trouxe duas imagens, que foram doadas para ampliar mais o acervo natalino. "No ano passado visitei este presépio e achei uma iniciativa bonita", disse.
No passado não tão distante, era comum a montagem de presépios nas casas, mas a tradição foi perdendo força. Ocupam os espaços luzes, enfeites natalinos, mas que não lembram a manjedoura, o real sentido do Natal. "Os cristãos não podem esquecer que celebrar o Natal é refletir sobre a vinda, o nascimento de Jesus", frisou o monsenhor Afonso Queiroga, da diocese de Iguatu.

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