Icó. Os moradores desta cidade e de localidades rurais abastecidas pelo Açude Lima Campos, na Região Centro-Sul do Ceará, reivindicam a transferência de água do Açude Orós para reabastecer o reservatório que está com um volume de 28%. A escassez do recurso hídrico afeta produtores rurais, e um deles em um ato isolado arrombou uma parede auxiliar, na localidade de Pedregulho, para assegurar a irrigação de um plantio de arroz.
O nível do Açude Orós em 33% não permite mais a transposição de água por gravidade por meio do túnel entre os dois reservatórios. O Lima Campos é um açude público, estratégico, um dos mais antigos do Nordeste, construído em 1932. Tem capacidade de acumular 66 milhões de metros cúbicos. Além de abastecer moradores da região, atende desde o início deste ano centenas de caminhões pipa que retiram diariamente água para socorrer milhares de famílias na Paraíba e no Rio Grande do Norte que enfrentam falta de água.
Os moradores estão preocupados, temendo o risco crescente da falta de água no decorrer de 2016, caso não ocorra recarga no reservatório. "Sem a água do Orós, o Lima Campos vai secar rápido", disse o agricultor Luís Gomes, da localidade de Guassussê. Em Icó, o advogado Fabrício Moreira lamentou a falta de campanha educativa de uso consciente da água.
Bacia
Produtores rurais e moradores do entorno da bacia do Açude Lima Campos e da primeira etapa do Perímetro Irrigado Icó - Lima Campos também estão temerosos com o risco de falta de água no próximo ano. A preocupação aumentou com o anúncio recente do secretário de Recursos Hídricos do Estado do Ceará de que o governo fará uma operação de esvaziamento do Orós em abril de 2016, caso não ocorra recarga no Açude Castanhão até aquele mês.
O governador Camilo Santana disse que o Açude Orós é uma reserva estratégica para abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) por meio de transferência de água pelo Rio Jaguaribe até o Castanhão, mas ressaltou que ainda seria cedo para discutir a ideia. "Vamos aguardar o início da quadra chuvosa", frisou.
A deputada estadual Laís Nunes reforçou a necessidade de transferência de água para elevar o volume do Lima Campos e assegurar o abastecimento dos moradores de Icó e de localidades rurais em Guassussê, Pedregulho e Igarói. "Já mostramos ao governador a nossa preocupação com a situação hídrica da região", disse a parlamentar.
Canal do Trabalhador
Em 1993, quando houve o esvaziamento do Açude Orós para levar água para Fortaleza por meio do Canal do Trabalhador, a região sofreu com a escassez de água. Antes, as prefeituras de Orós e de Icó, juntas, fizeram a transferência de água para o Lima Campos por meio de bombeamento. Agora, não há mobilização nesse sentido. Faltam recursos para os municípios.
A responsabilidade do bombeamento da água seria do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), órgão que administra o Orós e o Lima Campos, mas que até agora não se manifestou. A operação poderia também ser feita pelo governo do Estado, por meio da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). "Por enquanto, não há decisão nesse sentido", disse o chefe da Unidade de Campo do Dnocs, em Icó, Francisco Freitas de Andrade.
Se houver o bombeamento da água do Orós para o Lima Campos será necessário recuperar a parede auxiliar de uma unidade de retenção de água que foi cortada pelo produtor, Bonfim Freire dos Santos. O caso também já foi comunicado à direção do Dnocs. O arrombamento foi um ato isolado para assegurar a irrigação de um plantio de arroz.
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