Ex-secretário de Governo e agora deputado de oposição à gestão Camilo Santana, Carlos Matos Lima, do PSDB, tem se destacado na Assembleia Legislativa pelos discursos incisivos e participação no coro de oposicionistas à atual gestão. O tucano defende que sua sigla passe por um processo de reorganização, aproximando-se de movimentos sociais. Em entrevista ao Diário do Nordeste, o tucano questionou a real importância de se investir na Refinaria Premium II e no Acquário Ceará e teceu críticas ao Plano Estadual de Educação, que deve ser votado no próximo ano na Assembleia Legislativa.
Como o senhor avalia a experiência em primeiro ano de mandato?
Eu tenho como experiência gratificante. Não fui eleito deputado estadual sem ter vivência política. Fui secretário (de Agricultura do Governo Tasso Jereissati) durante oito anos, presidente do PSDB, candidato algumas vezes, e chegar à Assembleia Legislativa com essa experiência me ajudou muito. O Legislativo tem o papel de constituir as leis, mas não é só isso. A Lei é o ponto final. Antes da Lei tem toda um movimento para que você possa articular a força política em prol de uma ideia, interagir com a sociedade e fazer pressão política sobre o Governo. Fiscalizar e acompanhar o Governo, que muitas vezes é tido como democrático, do diálogo, mas nem conversa com os trabalhadores. Só conversa quando é interessante para ele. Essa pressão política para que haja de fato o diálogo com a sociedade é importante. Tenho trabalhado muitos temas e temos alguns vícios no Parlamento. Temos um regimento muito flexível, interpretado da forma que se pretende. Palavras claras, límpidas são colocadas no Plenário para saber se é ou se não é, para tirar dúvida sobre o óbvio. São coisas que servem de artifício para tirar poder da própria sociedade. Conquistamos o espaço da oposição. Houve renovação espetacular de mais de 50% da Casa, o que oxigenou e, aos poucos, vamos quebrando essas amarras do Legislativo, que fica muito dócil diante do Executivo. Nos últimos dez anos, o Ceará não teve avanço por conta de ser dócil demais. Tinha muita bajulação ao governador, pois não tinha oposição.
A bancada de oposição cresceu nessa Legislatura, mas o senhor é o único representante do PSDB na Casa. Que dificuldades o senhor sentiu sendo representante único do partido? Teve unidade com a oposição nas discussões propostas?
Não dá para ter unidade em tudo. Somos de partidos diferentes, com visões diferentes. Houve unidade importante, a volta da democracia no Ceará. Estávamos praticamente vivendo uma ditadura. Casa Legislativa que não tem oposição, que ninguém levanta a voz, onde o Governo acerta tudo, não tem levante da oposição? Nós estamos tentando contribuir com a melhoria do Governo. Tivemos erros de prioridade de investimentos enormes no Ceará. Não sou contra o Acquario Ceará, mas priorizar o Acquario em detrimento de outras prioridades que o Estado certamente tem foi um erro. Gastar R$ 130 milhões em tuneladoras? Nenhum Estado fez isso, mas o Ceará fez. E isso tudo foi defendido na tribuna da Assembleia, porque não havia contraponto. E o fato de terem entrado 24 deputados é muito bom, muitos de primeiro mandato. Tudo na vida precisa de renovação.
O senhor já chegou a defender um novo modelo econômico para o Estado. Como esse modelo funcionaria?
Estamos completamente ultrapassados. A economia do mundo, a forma de modelo no mundo é completamente diferente daquela praticada no Ceará. A Refinaria (Premium II), não sei se é o futuro para o Ceará. Acho que não. O combustível fóssil está ultrapassado no mundo. Investimos R$ 650 milhões em refinaria que nunca saiu. Agora está essa luta enorme para trazer da China. Não tem coisa pior do que você lutar por aquilo que não deveria fazer. Tive uma conversa com o doutor Fernando (Mendonça), (fundador) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para trazermos uma nova matriz energética em fotossíntese para o Ceará. Pernambuco tem um porto digital com jovens produzindo. Qual a política pública para Tecnologia da Informação no Ceará? Não conheço o modelo econômico no Estado. Avançamos em algumas áreas, mas é preciso coerência articulada com a sociedade. Você acha que a obra do Acquario deve ser concluída ou em seu lugar pode ser construída outra coisa? Tem uma pergunta que diz se você deve dar o peixe ou o anzol. Chega uma terceira pessoa e diz que você não deve dar o peixe nem o anzol. Tem que perguntar se quer pescar. Se quer qualificar o turismo de Fortaleza. Mas qual o equipamento mais atraente? Seria o Acquário? Tenho dúvidas se seria ou não. Em Portugal, o Acquário já não atrai mais. Em várias partes do mundo não é diferente. Por que eu vou para Fortaleza ver Acquário?
O PSDB já teve a maior bancada de deputados da Assembleia e o maior número de vereadores no Estado e até um governador. Hoje tem um deputado estadual, um federal, um senador e nenhum vereador em Fortaleza. Quais as estratégias do partido para 2016 e 2018?
Viramos um partido de grande potencial e expectativa. O que me orgulha é que não fazemos luta fratricida de segurar a onda. É daí que surge a (Operação) Lava Jato, que surge o Mensalão. Porque quando começa a perder o poder, políticos começam a sair. E aí nasce a corrupção. O PSDB havia morrido para muitos. E hoje ele começa a renascer com muita força. Temos a condição de termos ficado 13 anos fora do poder e enxergarmos muitos erros que cometemos. A humildade de vermos o que teríamos feito diferente. E a própria sociedade amadureceu, porque nossos erros foram muitos explorados. Também foi vendido com facilidade que esses erros seriam superados e seria criado um oásis na política brasileira. O que vimos foi o maior roubo na política brasileira que uma nação pode assistir. Uma quadrilha organizada assaltando o Estado. Os próprios partidos políticos precisam ser oxigenados. Menos de 1% da população brasileira participa dos partidos políticos.
O senhor falou sobre a participação social, o que sempre foi feito pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Os próprios petistas falam que, ao chegarem ao poder, se afastaram desses movimentos sociais. Hoje, eles falam em se reinventar. O PSDB precisou ou precisa se reinventar?
Precisa. Estamos nesse esforço. Precisamos ter diálogo mais próximo com a sociedade. Ainda somos muito distantes. Mas temos grandes movimentos nesse sentido. Temos uma diretoria sindical. O PSDB sempre foi muito distante dos trabalhadores, até porque estava no poder e sempre tivemos essa relação ideológica de quem está no poder é contra quem está fora. Quem está no poder acha que está certo e não dialoga suficientemente para ouvir.
O senhor acredita em melhoria da economia com a indicação de Nelson Barbosa para ministro da Fazenda? Qual suas expectativas para 2016?
Estamos vivendo grave crise econômica, consequência da política. Quem não sabe onde chegar, qualquer vento serve. A presidente Dilma (Rousseff) queria se manter no poder a qualquer custo. Disse que iria fazer o que sabia que não faria. Negou a realidade do País, o que deu foco a todo momento para a possibilidade de impeachment. O modelo econômico foi um erro grave. Eles acreditavam que seria possível fazer política econômica através do voluntarismo, um erro da esquerda. Até 2008, o PT tinha acertado na política. O Lula acertou. Quando o mundo entrou em crise, houve respostas boas no Brasil. Mas deveria ser só para a crise. Eles repetiram essa política de 2009 a 2012 e quebraram o País.
O senhor faz parte da bancada de religiosos da Assembleia. O senhor já chegou a apreciar o documento que trata do Plano Estadual de Educação?
Ele ainda não foi disponibilizado para os deputados, mas queremos ver a versão final. Houve mudança no Brasil todo. O PT não respeita o País, porque vários pontos foram rejeitados no Congresso, e o PT refez tudo. O Ministério da Educação refez sem considerar aquilo que havia sido rejeitado pelo Congresso. Passou para todos os estados como se fosse algo oriundo da própria sociedade, colocando no Plano condicionantes que favorecem a transferência de recursos para os municípios que adotarem a proposta do PT. E a liberdade, a autonomia que municípios têm para educar suas crianças fica comprometida. Imagine um prefeito sem recursos, sem proposta para educação tendo que adotar a proposta do PT com garantia financeira. Ele vai adotar essa proposta. E ela desfaz a liberdade da educação dos pais. Isso é modelo da Grécia Antiga, onde crianças eram prioridades do Estado, pois os pais eram fracos. Isso não é visão de democracia. Querem instrumentalizar os jovens já desde a escola para nem respeitar a formação dos pais. E estaremos na Assembleia para impedir e levantar a voz contra essa ditadura. É a ditadura do relativismo.
*DEPUTADO ESTADUAL
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