Brasília. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conseguiu protelar mais uma vez o trâmite de seu processo de cassação e, depois de quase seis horas de discussão, a sessão no Conselho de Ética da Casa foi encerrada. Ela será retomada hoje. Ontem, Cunha contou com a ajuda do Planalto e de integrantes do PT que falaram abertamente em salvar o mandato do peemedebista em troca do congelamento dos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Zé Geraldo (PA), um dos três petistas no Conselho de Ética da Câmara, afirmou que o governo está sob "chantagem" e cobrou uma ação do Supremo Tribunal Federal no sentido de afastar Cunha do cargo. "Estamos votando não com a faca, mas com a metralhadora no pescoço, todo mundo sabe que o Cunha trabalha com essa arma. A metralhadora está na mão do Cunha", disse o petista. Para ele, o voto não é pela salvação de Cunha, mas pela "salvação do País".
Prolongada por manobra de aliados de Cunha que se valeram de argumentos protelatórios, a sessão do Conselho acabou tendo de ser encerrada quando começou a votação no plenário do Congresso, como manda o regimento. Os deputados acabaram não votando o parecer preliminar de Fausto Pinato (PRB-SP), que é favorável à continuidade do processo contra Cunha.
Dos 21 integrantes titulares do Conselho, seis se manifestaram contra Cunha e apenas um a favor - Wellington Roberto (PR-PB), que apresentou voto em separado propondo censura.
Petistas
Com o aval de Dilma, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, foi um dos líderes da articulação pró-Cunha entre os petistas. Com Zé Geraldo convencido, o governo trabalhava para fazer o mesmo com Valmir Prascidelli (PT-SP) e Leo de Britto (PT-AC). O governador do Acre, Tião Viana (PT), precisou entrar no circuito para conversar com Britto, o mais resistente.
Apesar dessa articulação, a direção do PT e metade da bancada de deputados deu sinais públicos em sentido contrário. Rui Falcão, presidente da sigla, defendeu em rede social a continuidade do processo contra Cunha. Mais de 30 deputados petistas, de uma bancada de 60, assinaram manifesto pregando o voto anti-Cunha e dizendo que o peemedebista pratica "toda a sorte de chantagens".
Até a noite de segunda (30), ainda havia aliados de Dilma defendendo que o governo assumisse o risco da abertura de um processo de impeachment, entre eles Falcão. A ideia é a de que o governo não fique refém de Cunha. Dilma, porém, não pagou pra ver. Antes da sessão, aliados de Cunha apostavam que o placar seria 12 a oito a favor do peemedebista.
Na sessão do Conselho, o advogado de defesa de Cunha, Marcelo Nobre, disse que a denúncia contra seu cliente não traz provas contra o deputado e é fruto de duas "delações torturadas".
O presidente da Câmara é investigado por acusação de envolvimento no esquema de corrupção envolvendo negócios da Petrobras. Ele é acusado de ter mentido em depoimento à CPI da Petrobras ao afirmar que não tem contas bancárias no exterior. Documentos dos Ministérios Públicos do Brasil e da Suíça apontaram a existência dessas contas no nome de Cunha.
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