Crato. Um trabalho, que em breve poderá estar nas ruas do Cariri, chamando a atenção do público para a reflexão, foi desenvolvido pelo artista visual e fotógrafo atuante na região, Rafael Vilarouca. O projeto Violência Simbólica desenvolveu-se em Icó, em dezembro do ano passado, e tem como finalidade, conforme o artista, desmistificar, entre outras coisas, as questões de gênero e identidade sexual. Ele disse que o impacto visual nas pessoas causou diversas reações.
No Cariri, ele espera montar a exposição ainda neste ano. O projeto coloca em evidência questões sobre sexualidade, utilizando iconografia como referência estética, com a colagem de lambes em grande escala, em determinados pontos da cidade. Sobre esse material colado nos muros, são feitas interferências com outras colagens, pintura, estêncil e outros materiais.
Encontro
Essa primeira fase do projeto aconteceu num festival independente de cultura e arte local. Segundo Rafael, foi um período de encontro dos artistas da cidade, que apresentaram seus trabalhos e debateram. Ele filmou todo processo e fotografou a exposição. O projeto é individual e faz parte da pesquisa sobre a gênese da criação artística, com pesquisa relacionada à iconografia, simbologia de cores e formas.
Para Rafael, a busca é entender, de uma forma mais científica, como funciona o seu processo artístico e ainda revisitar alguns trabalhos antigos seus, expondo-os de forma diferenciada. "O fato de esse projeto se iniciar no Icó, a cidade onde nasci, e que é extremamente religiosa, já é uma forma de posicionamento político, de afirmação pessoal e artística, da coragem de discutir os temas que realmente me interessam. Pretendo seguir rumos diversos e produzir em outras linguagens", diz.
Cores
O seu trabalho tem sido desenvolvido principalmente com colagem manual. Buscar expandir essa técnica tem sido uma forma de interagir com os moradores da cidade.
O artista classifica o trabalho em três atos, trazendo ao público a figura do santo, do transexual e o paraíso, em que expõe a imagem de dois homens se beijando, com uma venda amarrada aos olhos. "Uma forma de questionar a religiosidade, trazendo um conceito mais expandido da fotografia, com elementos sobrepostos", explica. As cores para esses trabalhos também não foram escolhidas por acaso, com destaque para o rosa choque e o vermelho.
"Podemos buscar novos conceitos para a arte e ampliar as significações simbólicas", afirma. Para ele, dois questionamentos fortes foram levados à sociedade, relacionados a gênero e religião.
Agressividade
As quatro colagens foram expostas por mais de 24 horas, e parte delas retirada pelos próprios moradores, no dia da procissão de Senhor do Bonfim, muito venerado na cidade. "Pessoas receberam de forma agressiva o trabalho e não entenderam a mensagem", conta Vilarouca.
O artista visual afirma que a rua como plataforma de exibição já é, por excelência, uma forma de protesto, porque busca desamarrar ideologias da grande mídia, da violência simbólica normativa que rege a sociedade. "Repensando meu trabalho, avalio também o espaço urbano na medida em que as críticas à sociedade são feitas nos próprios muros, à vista de todos", explica.
Impacto
Rafael Vilarouca cita o sociólogo Pierre Bourdieu para falar do conceito de Violência Simbólica. Ele define que toda e qualquer sociedade estrutura-se como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes.
A partir desses conceitos e fazendo uma similaridade com o processo de criação artística, o projeto busca criar imagens onde sejam visíveis as ideias da dualidade e do mito religioso iconográfico, transfigurado e ressignificado, isso por meio de referências na história da arte, e também na cultura pop.
Pelas intervenções, ele traz de uma abordagem de temas contemporâneos relativos a gênero e na ampliação de seus significados. Certamente que tanto o conceito de intervenção quanto a abordagem sensível das questões causam impactos visuais e discussões que vão além da racionalidade. Na percepção de sua arte, os conflitos não estão no fato de que chocam, mas que é possível obter estética no questionamento de atitudes e comportamentos. (E.S.)
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