Aos 52 anos de idade, dos quais 28 dedicados à política, o ex-governador do Estado e ex-ministro Cid Gomes afirmou, na segunda parte da entrevista ao Diário do Nordeste, que, por enquanto, está se dedicando a empreendimentos pessoais, explorando sua veia empresarial, como a construção de uma usina de energia solar. No entanto, ele não descarta a possibilidade de voltar a se candidatar a um cargo público futuramente. Em ano de eleições, o líder do maior grupo político do Ceará também destacou que o prefeito Roberto Cláudio, que disputará a reeleição, tem como desafio colocar em dúvida a capacidade de seus adversários políticos que nunca tiveram mandato no Executivo, e fazer um comparativo entre as ações realizadas pelo seu Governo com gestões passadas.
O presidente do PDT cearense, André Figueiredo, disse recentemente ao Diário do Nordeste que a disputa em Fortaleza será uma das prioridades do partido para 2016. O senhor acredita que terá mais dificuldade na disputa desse ano na Capital ou em sua terra natal, Sobral?
Acho que vamos ter dificuldades nas duas. Essas eleições de prefeito, quem está na situação parte em desvantagem. Pelo que tenho visto no Interior será uma eleição de retorno de ex-prefeitos. Os atuais estão desgastados, e a referência que se tem é de ex-prefeito, mas essa situação não ocorre em Fortaleza nem em Sobral. Eles vão concorrer contra uma situação ideal. Quem está no poder é responsável por todas as mazelas e os candidatos que nunca foram, salvo a (ex-prefeita) Luizianne (Lins), não têm termos de comparação. O (deputado estadual) Wagner (Sousa) já teve alguma oportunidade executiva? Você pode dizer o que ele não fez? As pessoas podem achar que ele é o ideal? O (deputado estadual) Heitor (Férrer) já foi poder alguma vez? As pessoas podem achar que ele é o nome ideal. Mas a gente sabe desses dois aí e, coincidentemente, que têm absolutas limitações. O Heitor não tem a menor vocação para administração pública, é zero. Ele é um bom parlamentar, é atuante. E o Wagner é um líder classista, não tem experiência nenhuma de administração pública. Isso vai ser o eixo da campanha. Eu penso que o Roberto (Cláudio) atravessou momentos de muitas dificuldades no começo da administração, mas começam a aparecer mais visivelmente as ações de seu Governo e, daqui até a eleição, a gente vai poder comparar. Você pode comparar a sua administração incompleta com oito anos da Luizianne e ter larga vantagem para ele em todos os setores que possa nominar, Educação, Saúde, infraestrutura, transporte, geração de empregos. O grande desafio do Roberto Cláudio será colocar dúvida na capacidade administrativa do Heitor e do WagnePara 2018, o PDT tem interesses claros, que passam pelo seu grupo político aqui no Ceará. Então, o sucesso na Capital e em seu município seriam importantes visando esses interesses futuros.
Sem dúvida. O Ciro (Gomes) é um nome que tem sido estimulado pelo partido para ser colocado como o nome do partido. Está ainda muito longe para as eleições, mas o partido sabe que isso tem que ser feito e cultivado com boa antecedência. O Ciro tem circulado na companhia das lideranças do partido, como nome a ser colocado. O Ciro é do Ceará e vão querer saber quais os resultados dos partidos e pessoas ligadas a ele. Se ele for uma cara malvisto no Estado e se as pessoas não tiverem bom desempenho, acaba influenciando negativamente nacionalmente.
O senhor disse que ex-prefeitos poderão voltar. Significa que teremos pouca renovação política no Ceará?
Muito pouca.
Pelos números que se tem, o senhor lidera o maior grupo político no Estado nas casas legislativas e Executivo. Com qual perspectiva o senhor trabalha nas eleições de 2016?
Nosso objetivo é manter essa liderança. Isso é fruto de trabalho, de presença e ações junto a aliados nos quatro cantos do Estado. Hoje temos cerca de 70 prefeitos, dos 184, e, como disse, quem é situação vai enfrentar mais dificuldades. Nesses 70 municípios, vamos ter que ter atenção especial. No entanto, em 114, somos oposição e dá margem ao partido para crescimento. Nunca foi meu estilo ser hegemônico e acho de bom tom termos um terço dos prefeitos. A gente faz alianças, é mais democrático do que ter um partido majoritário.
Vamos ter eleição municipal sob a égide de uma nova legislação eleitoral. Teremos campanhas menores, com dificuldades de financiamentos. Isso melhora ou não influencia?
Claro que vai influenciar. Eu só posso falar por mim. Ao longo da minha vida pública, a gente sempre teve financiamentos e, majoritariamente, de empresas. Penso que a rigor isso foi uma decisão do Supremo, mas vai favorecer o caixa dois. Isso, para mim, é preocupante. Foi uma mudança ruim. Todas as outras mais que foram feitas são boas. Eu estava em Nova York, passei uma semana andando, circulando e não vi uma referência à eleição que aconteceu no domingo que deixei os Estados Unidos. Não estou dizendo que é bom, mas o Brasil, principalmente, nas cidades pequenas, o processo eleitoral é muito radicalizado e isso não é bom. Eleições têm que ser um momento reflexivo. Quando se reduz está se contribuindo. Essa coisa maluca de pintar muro, a sujeira. A proibição é coisa positiva, assim como a redução da campanha que começa um mês depois. Isso contribuiu para reduzir. Mas a nossa democracia só vai se fortalecer quando a gente tiver instrumentos para coibir a compra de votos coletiva. É o cabra que chega ali para um cabo eleitoral e dá fortunas. A gente ouve isso em todo canto e não vê uma investigação sobre isso. Na hora em que se conseguir inibir isso, teremos parlamentares mais qualificados e comprometidos.
O senhor fez referência a alianças. Nos últimos anos o senhor fez campanhas com o PT. Como é hoje a relação do seu grupo político e o PT?
Na eleição municipal, você tem misturações mais diversas. Em Sobral, o PT tem o prefeito e imagino que deverá apoiar o candidato do PDT. Em Fortaleza, o Camilo Santana se esforça para ver se o PT vai apoiar o Roberto Cláudio. Mas tem muita gente no partido que defende candidatura própria. No plano estadual somos aliados. Votei num filiado do PT. Na melhor situação para o PT. Óbvio que o perfil do Camilo Santana foi fundamental para isso e, no plano nacional, estamos aliados. Eles fazem objeções e reservas a muito do que a gente defende e da mesma forma a gente faz isso também. O PT é um partido difuso, tem a ala mais fisiológica e outra mais ideológica.
O senhor acredita que, a partir das eleições de 2016, o PT deve desaparecer, conforme defendem alguns analistas?
Esse é um discurso da elite conservadora do País. Esse discurso é recheado de componentes ideológicos. Quer desmerecer valores que foram colocados em prática pelo PT e não será assim. Se você faz uma pesquisa hoje, com toda essa reverberação de discursos, o PT ainda é o partido número um da preferência dos brasileiros. Já foi 25%, mas hoje está na metade, mas não vai acabar. O que eu torço é para que uma ala mais ideológica no PT consiga sobreviver. E se há de cair o tamanho do PT no Brasil, eu torço para ser a fisiológica.
Em 2014, no último ano de mandato, o senhor afirmava que estava disposto a passar temporada fora, nos Estados Unidos, em um banco de fomento. Surgiu o convite para ser ministro de Educação e demorou pouco mais de dois meses no cargo. Qual análise o senhor faz hoje dessa mudança?
Sou um sobrevivente e procuro me adaptar à realidade. Eu não estava ludibriando ou falando da boca para fora. Eu estava trabalhando para passar uma temporada onde eu já tinha trabalhado, que é no Banco Interamericano, um banco dos governos. Eu cheguei a ter na mão o contrato para trabalhar, foi quando a presidenta Dilma me convidou para assumir o Ministério. Eu tinha disposição para ir para o Banco, mas o Camilo ponderou, o Roberto Cláudio ponderou e muitos amigos na política disseram que seria importante para o Estado termos um ministro. E me rendi, não dizendo que fiz a contragosto, mas me entusiasmei muito. A Educação é um espaço que há muito o que fazer e não precisa de todo dinheiro no mundo. Eu me entusiasmei, como sou entusiasmado ainda. O resto é conhecido. Objetivamente, percebi que não tinha mais condições de ficar no Ministério frente àquilo que fiz, me indispondo com a principal liderança do Congresso que é esse morto vivo, o Eduardo Cunha. De lá fui pedir a demissão do cargo. Penso que há males que aconteceram que tiveram benefícios. Eu não poderia mais voltar para o banco, porque alguém que saiu indisposto da Câmara ir para lá, se fosse iria criar constrangimento com as instituições do País, e comecei a cuidar da minha vida particular. Eu tenho 52 anos e os últimos 28 anos foram absolutamente dedicados à vida pública. Não tive nenhuma iniciativa popular e acabei tendo algumas iniciativas e, em breve, vamos ter aqui no Ceará um empreendimento na área de energia solar. Foi graças ao tempo que tive agora que isso se viabilizou. Vou fazer uma coisa que eu acredito. Jamais iria fazer uma usina de carvão, mas uma usina de energia solar me motiva. Estou trabalhando isso com tranquilidade. E mais na frente, se me for demandado voltar com uma candidatura, vou avaliar. Se não, vou contribuir fazendo política sem mandato.
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