Na corrida por votos que começa antes mesmo da campanha, ter o apoio de líderes partidários com influência estadual e até nacional pode ser um passo à frente na conquista de eleitores. São nomes já conhecidos, com carreira na política, que acabam atuando como cabo eleitoral do candidato da agremiação. Em 2016, as articulações internas já apontam, novamente, para essa estratégia em grandes partidos, como PDT, PSDB e PMDB. No entanto, dirigentes das siglas negam que a participação de lideranças no pleito municipal representa centralização de decisões.
No PDT, presidido no Ceará pelo ministro das Comunicações, André Figueiredo, a meta está colocada: nacionalmente, a sigla quer eleger 10% dos prefeitos do País. No Estado, onde a legenda comanda 68 prefeituras, o objetivo é eleger de 80 a 100 prefeitos. Fortaleza é prioridade e, diante disso, Figueiredo já participa de ações que miram a reeleição de Roberto Cláudio.
"Tenho feito reuniões periódicas com a nossa equipe no final de semana em que estou em Fortaleza. A nossa cidade de maior importância de quantitativo populacional é Fortaleza. É prioridade absoluta na diretoria nacional do partido". A participação na campanha de Roberto Cláudio é certa, adianta Figueiredo, e ocorrerá "dentro do tempo que me couber quando não estiver no expediente de ministro".
O pedetista argumenta, no entanto, que a liderança estadual que exerce não significa centralização na tomada de decisões. "Antes mesmo da entrada do Ciro, Cid e do Roberto Cláudio, nós sempre tínhamos um posicionamento de tomarmos decisões compartilhadas, e foi isso que nos deu legitimidade. Hoje, temos uma executiva que se reúne periodicamente e temos absoluta certeza de que as decisões no PDT não são centralizadas", diz. Reflexo disso, cita o ministro, é a "renovação" no quadro de gestores e lideranças políticas.
Empenho tucano
Já no caso do PSDB, o presidente estadual da sigla, o ex-senador Luiz Pontes, reconhece que a liderança do senador Tasso Jereissati "é concreta", de modo que as decisões do partido passam por ele, inclusive nos assuntos relacionados às eleições. "Converso toda semana com Tasso. Ele tem acompanhado o dia a dia partidário e está participando ativamente da reconstrução do PSDB em Fortaleza e no Interior", afirma.
Não por acaso que, conforme Luiz Pontes já declarou, a decisão sobre candidatura própria ou apoio a outra chapa na eleição de outubro só será tomada após reuniões com o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, e Tasso Jereissati, que devem ocorrer após o Carnaval.
O deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB) admite que, nas negociações para o pleito municipal, é natural que muitos correligionários busquem de imediato o "líder maior", referindo-se a Tasso Jereissati, mas faz questão de dizer que "ele sempre lança na mesa o que foi proposto e nunca desfez o consenso da maioria".
Segundo o parlamentar, Tasso já se reuniu com Heitor Férrer (pré-candidato do PSB) e Capitão Wagner (do PR) para tratar de eleições. Ambos recorreram ao senador em busca de apoio na disputa ao Paço Municipal.
"O senador Tasso sempre coloca num consenso. Na época (em 2012), a candidatura do Marcos Cals foi um consenso, apesar de várias outras lideranças terem tido reuniões com ele (Tasso) para apoiar o Moroni, o próprio Roberto Cláudio, então não houve imposição", lembra.
Peemedebistas
O PMDB pretende mostrar na campanha "que as melhores administrações de todos os tempos foram realizadas por prefeitos do PMDB, no caso o Juraci Magalhães e o (Antônio) Cambraia", antecipa o vice-presidente estadual da sigla, Gaudêncio Lucena. O candidato que o partido lançará ou apoiará no pleito municipal ainda não está definido, mas o senador Eunício Oliveira, dirigente do PMDB no Ceará, será central na tomada de decisão.
Além do próprio nome, Gaudêncio explica que o deputado federal Vitor Valim e o deputado estadual Agenor Neto se propõem a disputar a Prefeitura pelo PMDB. Caso um deles se torne candidato, o peemedebista acredita que, com o apoio de Eunício, o representante pode ter um bom desempenho.
"Evidentemente se ouve o partido, mas estas lideranças são importantes para influenciar no processo eleitoral. O senador Eunício foi vitorioso não só em Fortaleza, mas em praticamente todos os municípios da região metropolitana, então é de um poder eleitoral muito forte, tem a influência para transferir votos ao candidato apoiado por ele".
'Muitos líderes'
No PT, o presidente estadual do partido, De Assis Diniz, não aponta um, mas vários líderes que, segundo ele, tornaram-se referências políticas após terem a oportunidade de governar. Serão esses nomes que, na avaliação do petista, poderão fazer a diferença na eleição.
"O Camilo Santana, o Lula, a presidente Dilma terão um peso muito forte na política. São pessoas que se notabilizaram, que têm credibilidade e serviço prestado", justifica. No Ceará, ele cita, ainda, que a participação de deputados federais como José Guimarães, líder do Governo na Câmara, e da ex-prefeita Luizianne Lins serão importantes para o partido na eleição.
Sem um único líder, o dirigente petista defende que as decisões do partido são mais democráticas. "Eles influenciam o grande eleitorado, mas a decisão política é tomada na instância partidária, vai para uma deliberação de uma diretoria, então há um caráter democrático muito forte no PT. Não são decisões cartoriais e personificadas na figura de um líder. É um projeto coletivo", considera.
Personalismo negativo
Para a cientista política Mônica Martins, professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), tais composições partidárias também levam em consideração o fato de que o município é a base eleitoral dessas lideranças, mas defende que não haja personalismo nessas relações. A centralização de decisões, segundo ela, é um vício prejudicial para o sistema político brasileiro.
"Essa influência muito personalista se torna negativa porque faz que a base do partido transfira o poder de decisão para ele. É uma deturpação do nosso sistema político, que estimula ou induz a esse tipo de autoritarismo de cerceamento das decisões a um grupo pequeno que tem o controle da máquina partidária. Assim, o partido não é visto como algo a serviço do povo, mas uma máquina burocrática para atender interesses privados".
Por isso, Mônica Martins defende que haja compartilhamento de lideranças. "Quanto menos eles participarem, melhor, para que a população, as lideranças, os militantes assumam a tarefa de construção da eleição", diz.
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