Uma corrida contra o tempo e também contra a falta de informação. Essa é a realidade das pessoas que aguardam a doação de um órgão vital à saúde e à própria vida. No Brasil, dos 37.762 pacientes na fila de espera registrados no período de janeiro a setembro de 2015, apenas 5.891 tiveram a oportunidade de serem transplantados.
"Hoje, o maior problema está na alta taxa de recusa familiar, que soma 41% no Brasil. Para mudar este quadro, precisamos melhorar na infraestrutura e na comunicação com a sociedade", explica Dr. Lima, coordenador da Comissão de Remoção de Tecidos e Órgãos da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), e também idealizador do projeto Setembro Verde.
Outro dado importante, segundo o médico cirurgião de transplantes, é o baixo aproveitamento dos potenciais doadores. Neste mesmo período, por exemplo, dos 7.269 potenciais doadores, apenas 2.121 efetivaram a doação. O número ainda é muito pequeno, principalmente se for comparado a países como Estados Unidos e Espanha. "Este é um ponto a ser melhorado, porém, depende de investimentos na infraestrutura, o que reduziria também a subnotificação de potenciais doadores", completa.
Realidades distintas
O Estado de São Paulo, atualmente, é o que mais realiza transplantes no País, com 60% do total dos procedimentos. Só de coração, até setembro de 2015, foram 109 procedimentos, sendo que em todo o País registrou-se 264 transplantes, divididos em 30 centros especializados em 10 estados. Segundo a ABTO, na fila de espera por um coração ainda constam 251 pessoas em todo o Brasil.
Depois do estado de São Paulo, Dr. Lima destaca Santa Catarina, que vem apresentando maior crescimento com relação às taxas de potenciais doadores e também de doadores efetivos.
No Ceará, o último registro ABTO, de janeiro a setembro de 2015, mostra 1.159 pacientes na fila de espera por um transplante. Deste total, 591 aguardam córnea, 415 rim, 7 pulmão, 4 pâncreas/rim e 134 fígado.
Quem mais doa no Estado são homens, sendo a maioria entre 18 a 34 anos, com tipo sanguíneo O, que faleceram de AVC. Ainda no mesmo período, apenas 84 doaram no estado, divididos em 57 homens e 27 mulheres. De acordo com Dr. Lima, a partir de um doador, podem ser aproveitados em torno de 2 a 5 órgãos, mas isto varia bastante.
Do ponto de vista operatório, ele considera o transplante de fígado o mais difícil. Mas, do ponto de vista de logística, é o coração, por se tratar de um órgão que aguenta menos tempo fora do organismo em isquemia. "Idealmente, o coração deve ser transplantado em até seis horas, levando-se em consideração desde o momento em que é retirado do doador até que ele volte a bater no receptor".
Prazo
No caso do fígado, o procedimento pode ocorrer em até 18 horas, podendo inclusive fazer a captação e só no dia seguinte realizar o transplante. Quanto à taxa de rejeição, o médico explica que pode ocorrer independentemente de órgão e de paciente, entretanto, os mais frequentes são os transplantados de rim, por características imunológicas.
Dr. Lima complementa: "o transplante de rim, que é tecnicamente o mais fácil de todos do ponto de vista operatório, tem altos índices de rejeição no pós-operatório".
Antes de qualquer procedimento, a equipe médica precisa conversar com a família do potencial doador. A solicitação dos órgãos só acontece após a notificação da morte encefálica. Nesta hora, são necessários agilidade e habilidade.
Referência mundial
Essas equipes são multidisciplinares e, segundo o Dr. Lima, estão preparadas, pois passam por treinamentos frequentes e são atualizadas exaustivamente, servindo inclusive de referência mundial. "O que precisamos, no entanto, é aumentar o número de profissionais nestas equipes e melhorar as condições de trabalho", finaliza.
Vale destacar que o sistema de doação de órgãos é o mesmo para todos, independentemente se o paciente é de classe social alta ou baixa. Conforme os números da ABTO, cerca de 95% das cirurgias de transplantes acontecem em hospitais da rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS).
Saiba Mais
Transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor), cedido por um doador vivo, ou morto (o mais comum);
Um único doador tem a chance de salvar ou melhorar a qualidade de vida de pelo menos 25 pessoas. Entretanto, uma média de 2 a 5 órgãos são aproveitados;
Morte encefálica é a parada definitiva e irreversível do encéfalo (cérebro e tronco cerebral),
Provocando em poucos minutos a falência de todo o organismo. É a morte propriamente dita.
Todos são doadores, desde que a família autorize a equipe médica após a notificação de morte encefálica. Portanto, é recomendável comunicar aos familiares, em vida, o desejo de ser doador.
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