A Secretária da Cultura do Estado do Ceará volta a passar por tempos de instabilidade. Na última gestão de Cid Gomes, três nomes - Professor Pinheiro, Antonio Carlos e Paulo Mamede - ocuparam o comando da Secult. Após 13 meses à frente da pasta, o vereador Guilherme Sampaio enviou ao governador Camilo Santana seu pedido de exoneração. A secretária executiva de sua gestão, Ana Maria Fontenele, também entregou o cargo. A notícia foi dada pelo próprio Guilherme, na manhã de ontem, na página do ex-secretário no Facebook.
"Esta decisão é motivada por minha convicção pessoal, consolidada ao longo dos últimos meses, de que o ousado programa apresentado pelo governador exige uma Secretaria forte, autônoma e com autoridade necessária para a execução desta tarefa, o que não vejo em perspectiva. Entendo que reconhecer esses limites, que se revelam após minha experiência durante 13 meses à frente da Secult, constitui, paradoxalmente, a melhor contribuição que posso dar, neste momento, à almejada evolução e ao desejado fortalecimento da política cultural do Estado e à condução do próprio governo", escreveu Guilherme, em comunicado publicado em sua página no Facebook.
"Soma-se a esta motivação a iminência do calendário eleitoral, o qual me impõe responsabilidades partidárias e prazos que se esgotarão brevemente", completou. Procurado pela reportagem, o ex-secretário informou que, por ora, não daria declarações à respeito de sua saída do secretariado de Camilo.
A declaração deixa entrever o conflito interno do PT, partido de Camilo e Guilherme, em face às eleições municipais de outubro. O governador sustenta seu compromisso de apoiar a reeleição de Roberto Cláudio (PDT); a Executiva Municipal do PT de Fortaleza, em encontro realizado no sábado, redigiu um texto em defesa da candidatura própria, ainda sem pré-candidato definido.
Trajetória
Em sua nota oficial, Guilherme ainda agradeceu aos servidores da Secult e demais atores sociais envolvidos no campo da cultura e a "confiança do governador Camilo, meu companheiro de partido, por cujo governo pretendo continuar torcendo e apoiando, e a colaboração de sua equipe".
À época da campanha de Camilo, o vereador chegou a integrar o "Comitê Cultural", uma das bandeiras da candidato ao governo. Com a sua saída da Secult, as atenções se voltam para os possíveis efeitos de descontinuidade que os projetos poderão sofrer, principalmente, quando os principais equipamentos culturais da Capital - Museu do Ceará, Arquivo Público do Estado e Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel passam por reformas gerais, orçadas em R$ 14 milhões, conforme dados da secretaria. Também estava prevista reforma no Museu da Imagem e do Som (Mis-CE), sem data definida.
Numa demonstração de sintonia com a proposta da nova administração, Guilherme assumiu a Secult com a promessa de alcançar o orçamento de 1,5% para a pasta. A reivindicação é histórica, uma vez que, no momento, o repasse não chega a 1%, fazendo com que os artistas realizem seus trabalhos tendo como fontes: os editais ou a Lei Estadual de Incentivo à Cultura e a do Mecenato, baseadas em renúncia fiscal. Outro compromisso, estender as ações culturais para o Interior, prometendo a construção de centros culturais e salas de cinema em 10 municípios (este, um projeto em parceria com a Agência Nacional de Cinema - Ancine).
Em Fortaleza, o primeiro desafio do secretário, cujo nome foi anunciado em dezembro de 2014, comandou a primeira reunião com a equipe técnica da Secult, no dia 2 de janeiro de 2015, era abrir as portas da Menezes Pimentel, que se encontrava fechada há um ano. A saída foi transferir 40% do acervo do equipamento para um dos galpões da então RFFSA, batizado de Biblioteca Pública Espaço Estação. O anúncio foi feito durante a visita ao Ceará, em março do ano passado, do ministro da Cultura MinC), Juca Ferreira.
Na ocasião foi encaminhado para discussão na Assembleia Legislativa do Ceará, outro trunfo de Guilherme Sampaio, o Plano Estadual de Cultura - foi solicitado sua votação em regime de urgência, no início desse ano. Na realidade, Sampaio teria ainda um mês para deixar o cargo, conforme prevê a legislação eleitoral.
Ao assumir o cargo, Guilherme justificou sua escolha pela ligação com o setor, assim como com a educação. Prometeu criar legislação estruturante sobre política cultural e financiamento público da cultura em Fortaleza, incluindo leis específicas beneficiando a classe artística, entre outros mecanismos, a isenção de Imposto sobre Serviços (ISS).
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