A média do rendimento nominal domiciliar das famílias cearenses no ano passado foi a quarta pior do País, alcançando R$ 680 por mês, segundo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado só ficou à frente das médias dos Pará (R$ 672), de Alagoas (R$ 598) e do Maranhão (R$ 509).
No Brasil, a média do rendimento foi de R$ 1.113 no período, tendo crescido 5,8% em relação ao ano anterior. O resultado mais alto foi obtido pelo Distrito Federal, onde a média alcançou R$ 2.252, valor mais que três vezes maior que a do Ceará. Em segundo lugar, São Paulo apresentou a média de R$ 1.482 e, em seguida, o Rio Grande do Sul, de R$ 1.435.
Na avaliação do pesquisador Carlos Eduardo Marino, do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) do Curso de Pós-Graduação em Economia (CAEN) da Universidade Federal do Ceará (UFC), os resultados mostram a permanência das desigualdades entre as regiões brasileiras. "As regiões Sul e Sudeste continuam com níveis de renda bem superiores às do Nordeste, o que demonstra que as políticas para a diminuição das desigualdades não surtiram o efeito desejado", pontuou o pesquisador.
Ele destacou que, até mesmo no Nordeste, o Ceará só apresenta melhores resultados que Alagoas e Maranhão, estados com índices de desenvolvimento bem inferiores. "Se não existe uma aproximação dentro da Região Nordeste, imagina para os estados mais ricos da federação. Esse não é um problema de agora. Vem ao longo do século XX que, infelizmente, até hoje a sociedade brasileira não superou".
Crescimento
Apesar de as pesquisas apresentarem metodologias diferentes, a média de rendimento familiar per capita calculada para o Ceará em 2014 pelo IBGE era de R$ 616 - dessa forma, a média teria crescido cerca de 10% em 2015, superior a variação da média brasileira, de 5,8%. "A população cearense manteve seu poder de compra ano passado, tendo em vista que a inflação também ficou nessa média. A diferença com o Brasil pode ser explicada pela demora que a crise teve para afetar a região Nordeste", explicou Marino.
Equilíbrio
Na avaliação do pesquisador, a saída para a diminuição das disparidades regionais é a realização de um novo pacto federativo que, de fato, venha a promover o equilíbrio entre as regiões brasileiras. Ele ainda alertou ser possível que a média de rendimentos no Estado e em todo o País piorem em 2016, dado o cenário de retração econômica e de aumento do desemprego.
Opinião do especialista
Um modelo concentrador e excludente
Os dados denunciam as graves disparidades regionais em que os trabalhadores do Norte e, principalmente, do Nordeste, possuem frente às demais regiões, nas quais o padrão de renda chega a ser três a quatro vezes maior, fruto de um modelo concentrador e excludente de desenvolvimento nacional.
As poucas iniciativas de reverter tal disparidade apoiaram-se na exploração da mão de obra local e regional por possuírem padrões de remuneração mais baixos, o que atraiu diversas empresas - como a indústria calçadista, em que o Ceará passou a ser o segundo maior empregador, ultrapassando a indústria paulista e perdendo apenas para o Rio Grande do Sul. É preciso mudar essa realidade, especialmente para nós cearenses, que, nos últimos anos, lideramos as piores estatísticas de salário do Brasil.
Erle Mesquita
Coord. De Estudos e Análise de Mercado do IDT
Coord. De Estudos e Análise de Mercado do IDT
Nenhum comentário:
Postar um comentário