segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Do contemplativo ao despojado, Festival Jazz & Blues abriu sua 17ª edição


Na tarde do último sábado (6), o termômetro da Praça Principal, em Guaramiranga, marcava 19ºC. Para pessoas acostumadas ao clima frio, isso não é nada. Para os cearenses, é o suficiente para tirar os casacos do armário e aproveitar a atmosfera agradável em um passeio ao ar livre. Com uma programação musical marcada notoriamente pela qualidade, o Festival Jazz & Blues de Guaramiranga iniciou suas atividades nesse clima fazendo jus ao histórico do evento. 
Quem chegou à cidade foi recepcionado ao som de um quarteto formado por músicos da cidade, que executavam peças musicais adaptadas para o formato. De posse da programação, já dava-se para ter uma ideia do que viria nas horas seguinte. 
Às 11h, foi realizado o Café no Tom, com o produtor e compositor Roberto Menescal, um dos fundadores da Bossa Nova, e Danilo Caymmi, um dos membros ilustres da dinastia fundada pelo patriarca Dorival Caymmi. Em um bate papo descontraído, os dois amigos de longa data contaram piadas e causos pitorescos da MPB, mostrando o lado humando e engraçado de nomes como Emílio Santiago, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Já às 17h, os dois músicos realizaram a passagem de som em um ensaio aberto e fizeram ajustes de última hora. Mesmo sem o palco estar totalmente montado, a dupla já arrebatou o público presente, que mesmo cedo, lotava as cadeiras instaladas sobe a estrutura da Cidade Jazz & Blues
Em seguida, às 17h30, a cantora Lorena Nunes assumiu o comando da noite, fazendo um show arrebatador. Com um repertório mesclando clássicos da Tropicália em roupagens contemporâneas, em que foram acrescidas novas batidas e elementos eletrônicos, e músicas de seu trabalho autoral, principalmente do seu último disco “Ouvi dizer que lá faz sol” (2011), a cearense conseguiu um feito único na história do festival: fazer as pessoas se levantarem e dançarem.
Com um perfil muitas vezes contemplativo, não raro os espectadores não transparecem tanta energia como foi mostrado no show da cearense. Ao som de músicas dançantes, o público cantou e remexeu os quadris, em um dos melhores shows da noite e, provavelmente, do festival.
Acalmando um pouco mais as coisas, às 21h foi a vez do saxofonista Thiago Rocha e o pianista Sávio Dieb, ambos cearenses, subirem ao público e fazerem um show homenageando grandes nomes brasileiros da música instrumental, entre eles Pixinguinha. Evidenciando virtuosismo e sincronia, a dupla fez um show competente e que agradou o público com suas músicas longas e melodiosas. 
Bom humor e informalidade marcam apresentação
Voltando ao palco, os protagonistas da noite, Roberto Menescal e Danilo Caymmi, protagonizaram uma apresentação marcada pelo bom humor e a informalidade. Os dois músicos destilaram ao longo de pouco mais de duas horas e meia de show um repertório formado pelo que há de mais cativante no cancioneiro nacional. Estiveram nessa lista músicas como “O Bem e o Mal”, Chega de Saudade”, “O Barquinho”, “Você”, “Saudades da Bahia, “Corcovado” e “Andanças”. 
Durante a apresentação da dupla, era claro no rosto das pessoas presentes a satisfação de escutar as melodias que moldam o imaginário musical do País interpretadas por pessoas que vivenciaram de perto as suas origens. 
Com mãos seguras, Roberto Menescal evidenciou através das notas emitidas por sua guitarra o porquê de ser um nome de peso da MPB, responsável por moldar a carreira de artistas como Nara Leão, Chico Buarque, Maisa, Maria Bethânia, Elis Regina, Cauby Peixoto e o próprio Danilo Caymmi. “Ele só não foi importante para Frank Sinatra porque não nasceu nos Estados Unidos”, brincou o talentoso cantor.
Com uma voz grave e “temperada a alho” (como definiu Tom Jobim), Danilo dominava todas as nuances das músicas apresentadase em uma interpretação cativante e competente. Ao longo de todo o show, a dupla prendeu a atenção das cerca de mil pessoas que lotaram a Cidade do Jazz & Blues para conferir a apresentação. A todo tempo os presentes reagiam às perguntas, aplaudiam e, principalmente, cantavam de modo sereno as melodia ditadas em cima do palco. Um espetáculo bonito de ser ver das duas perspectivas.
Quando as cortinas voltaram a se abrir por volta meia-noite e as cadeiras fora retiradas, foi a vez da Big Band Unifor mostrar para o novo público que tinha acabado de entrar clássicos do gênero das décadas de 1940 e 1950, época de ouro desse tipo de orquestra. Comandados pelo maestro Robson Lima, o grupo fez o público dançar e se divertir ao som de boogie woogies e bebops.
Com um conjunto competente de instrumentistas, a banda mostrou todo o seu gigantismo em cima do palco cujo ápice era atingidopelos solistas, que se sobressaiam em perfomances contagiantes, garantindo a animação que caia fria do lado de fora da Cidade Jazz & Blues.  

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