domingo, 7 de fevereiro de 2016

Missa da cura reúne 30 mil fiéis


O crescimento do trabalho que vem sendo desenvolvido pela Comunidade Filhos Amados do Céu, no Cariri, é surpreendente ( Fotos: Elizângela Santos )
A imagem do Padre Cícero, que se instalou nas missas desde a conciliação com o Vaticano, fez aumentar ainda mais o número de católicos presentes no Romeirão
Juazeiro do Norte. Mais de 30 mil pessoas são reunidas, todas as terças-feiras, na celebração da Missa da Cura e da Libertação, pelo padre Sebastião Monteiro da Silva, o padre Monteiro. O crescimento surpreendente de um trabalho que vem sendo desenvolvido pela Comunidade Filhos Amados do Céu, no Cariri, tem sido um dos projetos evangelizadores que mais deu certo na região atualmente e arrastado uma legião de missionários, que passam a dedicar suas vidas aos serviços da comunidade e até viver na sede da entidade, em Crato.
O padre, de semblante sereno e voz tranquila, é um alento para o coração de muitos fiéis que vão a partir das 17 horas ao Estádio Romeirão, aguardar pelo início da celebração. Próximo ao início da celebração, às 19h30, a multidão já está formada. Diversas barracas para vendas de alimentos, lembrancinhas e artigos religiosos são montadas no local para auxiliar nas ações.
Para o padre Monteiro, o trabalho da comunidade Filhos Amados do Céu é uma ação de evangelização que vai ao encontro do povo. Ele lembra que, nos últimos tempos, o Papa Francisco tem falado de uma igreja que sai dos muros para ir ao encontro das pessoas, que estão perdidas nas periferias da vida. "Com isso, elas se deixam tocar pela palavra de Deus e há uma reciprocidade", diz.
Ele é explicativo ao abordar a palavra de Deus e o seu poder curativo. Segundo o padre, a ação evangelizadora de Jesus perpassa por essa realidade, de uma maneira muito consciente e com muita responsabilidade, e leva o povo a uma vivência com Jesus. A partir daí, as graças vão se manifestando. "A fé é capaz de levar qualquer ser humano a uma experiência profunda de cura", afirma.
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Padre Monteiro conta que iniciou-se espiritualmente aos oito anos. No seminário, a vocação religiosa apelava para um compromisso ainda maior com os fiéis
Gratificação
O silêncio movido pela concentração nas palavras do religioso, no momento da celebração, traz a obediência como o principal foco de sua pregação. O exemplo vem da vida de Jesus Cristo. "A palavra de Deus foi escrita a partir de uma história de um povo, de uma cultura, e temos que traduzir na vida do povo", diz, ao acrescentar ser gratificante levá-la às pessoas.
A gerente financeira Maria dos Anjos Silva Oliveira é de Petrolina e atualmente mora em Juazeiro. Toda semana está presente na Missa da Cura e da Libertação. Para ela, é um momento renovador em sua vida. "O jeito que ele celebra é diferente e chama a atenção", diz. Mesmo que não esteja em Juazeiro, acaba acompanhando a transmissão pela Internet. A simplicidade no falar, no sentimento, é o que mais tem sido importante para que ela participe das celebrações. "Foi uma forma de reavivar a minha fé. Me tocou", ressalta.
Vivência
Padre Monteiro afirma que é importante tornar a palavra viva, e que mesmo depois de muito tempo, tenha valor na vida do povo. "A resposta posso dar por meio dessa mensagem, de uma forma que todos possam compreender" diz.
O principal, em todos esses aspectos, conforme o sacerdote, é poder levar uma transformação à vida das pessoas. Caso isso não aconteça, elas vão embora. Mas essa atração não é para apenas obtenção do público e nem para vulgarização do milagre. Na sua espiritualidade, a intervenção divina surge para revestir, alentar e socorrer os que mais necessitam. A misericórdia de Deus é que se manifesta para purificar e curar os mais fracos e doentes.
O trabalho do Padre Monteiro tem levado caravanas ao estádio todas as semanas. São fiéis do Estado de Pernambuco e outros vizinhos. Durante a Romaria, nesta semana, o local ficou lotado para ouvi-lo. Um dos momentos marcantes da celebração aconteceu durante o período do anúncio da "reconciliação histórica" do Padre Cícero com a Igreja Católica, em dezembro, em que uma imagem do religioso e da beata Maria de Araújo foram expostas no estádio. Uma chuva de pétalas aconteceu durante a celebração.
O missionário José Everaldo Lopes, há pouco mais de um mês decidiu, como ele mesmo afirma, abraçar a missão, com a mulher e um filho ainda bebê. Foi morar na comunidade de vida, e lá, com mais cinquenta pessoas, dedica a sua vida. Ele deixou um emprego em que recebia cerca de R$ 5 mil, e viu que não precisaria de tanto para servir às pessoas. Aquelas que renunciam passam a viver de doações. Poder servir ao outro, para ele, tem sido uma grande alegria.
Seminário
O Padre Monteiro, mesmo sendo um dos fundadores desse trabalho, afirma que foi iniciado ainda quando estava no Seminário, há quase oito anos. Ele é natural de Nova Olinda, local onde começou a comunidade. "A resposta tem sido gratificante, mas é uma trajetória de sete anos, com frutos de toda uma caminhada, que vem desde 2009. Trabalho feito com simplicidade e responsabilidade", afirma. A sede funciona em Crato.
De acordo com o religioso, o crescimento e visibilidade da missão em Juazeiro se explica, por ser uma cidade mística. "Se acabar isso, perde o foco de ser uma cidade que atrai tantas pessoas místicas e abertas para o espiritual", avalia. Isso, mesmo que esteja invadida por grandes empresa e fábricas, é o que sustenta, já que foi gerada na fé. O trabalho que vem sendo realizado pela comunidade, segundo ele, alimenta. "Juazeiro é aberto a isso", completa.
Mudança
Em Juazeiro do Norte tem pouco mais de um ano que as ações vêm sendo realizadas. Eram apenas 30 pessoas reunidas, na rua Santa Rosa. Rapidamente teve que mudar de espaço, para o Colégio José Geraldo da Cruz, com um público de três mil; depois para o Ginásio Poliesportivo, lotando o local, com pelo menos 15 mil pessoas, e agora preenche arquibancadas e gramado do Romeirão. Toda uma estrutura é montada no local, com palco, telões e ambulâncias na área para atendimento ao grande público.
A comunidade é movida por doações em roupas, dinheiro e transforma isso num meio de evangelização. Essa multidão de 30 a 40 mil pessoas tem sido a média toda semana. Nas sextas-feiras, tem a Caravana da Misericórdia, em que se deslocam todos os servos para áreas mais distantes, especialmente na zona rural, para dar sequência ao trabalho missionário.
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'Aqui tenho muitas instruções para minha vida. Comecei a vir nas celebrações com a minha irmã e continuo comprometido com a liturgia semanal. Surpreendo-me com a quantidade de pessoas"
Moacir Vieira de Oliveira
Motorista
"Deixei o meu emprego, decidi me dedicar a esse trabalho na comunidade e estou feliz com a opção de servir. É uma atividade pastoral de grande alcance para aqueles que estão sofrendo. Isso me faz bem"
José Everaldo Lopes
Missionário

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