Juazeiro do Norte. O poeta, repentista, músico, xilógrafo e até maquinista é homenageado em exposição nesta cidade. O trabalho do inspirador central da mostra vem junto com a escultora, em "Cego Aderaldo por Liara Leite". A escultora, de Cariús, desenvolveu diversas peças voltadas a levar o artista cratense às diversas salas de mostras do Estado. Até o dia 31 de março, a exposição estará na Galeria de Artes do Serviço Social do Comércio (Sesc) Juazeiro.
Uma trajetória de superação da deficiência física e da vida sertaneja difícil. Cego Aderaldo, como ficou artisticamente conhecido, trazia um multitalento focado na história contada pelo trabalho de Liara. As múltiplas facetas do artista são expostas nas peças, genuinamente trabalhadas, com a inspiração nele.
Escolha
Segundo o supervisor de Cultura do Sesc, em Juazeiro, Sérgio Magalhães, essa exposição envolve um trabalho de curadoria, realizado pelos artistas visuais Verônica Leite e Jefferson de Lima, além dele. De 27 peças adquiridas pelo Sesc-CE, na homenagem ao Cego Aderaldo, foram escolhidas pela curadoria 14 para serem inseridas nessa mostra. O material está circulando nas unidades do Sesc no Estado, durante este ano.
A história do cratense Aderaldo Ferreira de Araújo, nascido em 24 de junho de 1878, logo depois seguindo rumo a Quixadá, começou cedo. Aos cinco anos, o menino começou a trabalhar para ajudar na manutenção da família.
Maquinista
O pai estava doente e não conseguia mais manter a casa. Um golpe do destino veio mudar a sua vida, 15 dias após a morte do pai, em 1896. Aderaldo era maquinista e trabalhava na estrada de ferro de Baturité. Depois de sentir uma forte dor nos olhos, perde a visão, aos 18 anos.
Começa, a partir daí, a história de um sonhador. Foi por meio de um sonho em verso que descobriu a suas habilidades para cantar e improvisar. Pobre, cego e sem ter praticamente a quem recorrer, foi desenvolvendo o seu talento.
Outro momento de difícil de sua trajetória veio mudar a sua vida novamente, com a morte de sua mãe. Sozinho, passou a percorrer os sertões do Ceará, Piauí e Pernambuco. A fama de Cego Aderaldo se espalhou, mas ele foi para o Pará em 1915 e decidiu retornar ao Estado cearense somente em 1920, quando decidiu conhecer o Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. E foi recebido pelo próprio sacerdote, segundo registros históricos. Também cantou para Lampião e recebeu, como presente, um revólver.
Prestígio
Segundo Sérgio Magalhães, o trabalho vem sendo bastante prestigiado pelo público. São mais de 400 visitações desde que foi aberta a exposição. A ideia seria contar um pouco da história do artista, além de colocar as peças em evidência, numa sala branca, e salientar a importância do Cego Aderaldo, por meio de trabalho da artista, que chegou até a mudar de atividade.
Ele adquiriu um gramofone e saiu tocando pelo sertão, mas o som do seu instrumento era solicitado pelo povo. Isso aconteceu no início dos anos 30. Nesse período também começou a apresentar vídeos, o que chegou a dar certo, mas não era realmente o seu forte. Nos anos de 1940, decidiu morar em Fortaleza e abriu uma bodega na Rua da Bomba. Teve prejuízos com o comércio e fechou o estabelecimento.
As esculturas de Liara percorrem um pouco desse vasto mundo do Cego Aderaldo. Mesmo sem nunca ter casado, decidiu criar 24 meninos. O artista foi reconhecido em diversos lugares, e levou seus versos a pessoas importantes da época.
Memorial
Por meio da exposição, há a oportunidade de relembrar a trajetória desse artista. Por um bom tempo, segundo Sérgio Magalhães, pensou-se em doar as peças das obras adquiridas pelo Sesc, para o Memorial Cego Aderaldo, em Quixadá. O material foi exposto em Fortaleza, pela primeira vez, no Sesc Iracema, no ano passado. E durante a Mostra Cariri de Culturas houve a circulação nas cidades do Interior.
Realizou-se um recorte da exposição durante a mostra, realizada na Faculdade Paraíso (FAP), também em Juazeiro, com dez peças. Dessa vez, o trabalho faz parte do projeto Arte Sesc, que em Juazeiro do Norte acontece seis vezes durante o ano, com três no primeiro semestre, e duas exposições no segundo, e mais uma dentro da mostra Cariri, com propostas variadas de artistas para expor.
Nos próximos trabalhos, a ideia é que venham propostas que apostem num diálogo com o público e o artista, com técnicas diferenciadas, que podem estar ligadas à fotografia ou arte contemporânea.
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